Descrição de chapéu chuva

Distrito de São Luiz do Paraitinga se recupera após enchente que adiou Carnaval

Prefeitura restaura pontes e moradores relatam chuva mais forte em 40 anos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A cidade de São Luiz do Paraitinga, a 174 km da capital paulista, viu o sonho de retomar seu Carnaval após as restrições da pandemia ficar mais distante. Fortes chuvas no domingo (12) fizeram os córregos do Pinga e do Chapéu transbordarem, cortando acesso aos bairros homônimos, localizados no distrito de Catuçaba, que teve as ruas inundadas e 700 pessoas retiradas de casa.

Moradores ainda retiravam lodo e lama das casas e do comércio na última quarta (15), após verem a correnteza levar móveis, eletrodomésticos e até carros.

Com a equipe dedicada a reparos e ajuda médica e humanitária, com comida, água, colchões e remédios, a prefeitura decidiu adiar a festa oficial para abril, no feriado de Tiradentes.

Enchentes são comuns na região, contaram moradores do distrito, a 18 km de São Luiz, mas nunca se viu uma tão rápida e devastadora quanto essa. Elizabeth Cardoso, 65, descansava em casa, por volta das 17h, quando foi avisada pelo filho do alagamento.

Limpeza de via em São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba (SP), após fortes chuvas atingirem a cidade no último domingo - Adriano Vizoni/Folhapress

"Só deu tempo de pegar cinco cachorros, enfiar no carro e empurrar para ele pegar no tranco. Foi que nem aquilo em Brumadinho, como se tirasse a tampa de um tanque. Não deu tempo de salvar nada", disse Elizabeth, enquanto outros três filhos e a nora limpavam a casa, sem móveis e portas, com a marca da água na metade das paredes.

A 500 metros dali, Rosângela Breves, 48, preparava-se para ir à missa e ouviu o marido, Tadeu Breves, 60, gritar para que ela saísse de casa.

"Há 40 anos morando aqui, nunca vi uma dessa, nem em 2010", disse Tadeu, que ajudou a levar vizinhos e parentes para casas em uma área mais elevada, mas ainda na margem do Chapéu. Há mais de uma década, a cheia de 2010 fez o rio subir 12 m e destruiu parte da igreja matriz.

Eles ficaram na casa de uma tia de Rosângela até voltarem para limpar a casa na segunda. Conseguiram salvar a motocicleta, a geladeira e a maior parte dos móveis. Desempregado há três anos, Tadeu comemorava a volta para casa ileso. "No resto a gente dá jeito."

Quem não pôde contar com a casa de parentes ou amigos conseguiu se abrigar no centro pastoral da vila. Na quarta, já não havia pessoas abrigadas, mas o local continuava a fornecer comida, água e doações de roupa.

A concentração de servidores foi um dos motivos para o adiamento do Carnaval anunciado na última segunda (13) pela prefeitura, além da comoção pelos danos causados à população.

Uma equipe formada por agentes da pasta municipal de agricultura, junto com a Defesa Civil paulista, tem trabalhado nos bairros Pinga e Chapéu. O caminho para o primeiro já foi recuperado, com a retirada de árvores e de terra após a queda de barreiras, com a ajuda da comunidade local.

Já no Chapéu, a situação é mais delicada. Quatro pontes que dão acesso ao local foram danificadas pela correnteza. "É complicado porque é uma forte região de produção de leite do município. Conseguimos restabelecer uma ponte até ontem, de cimento, e um caminhão já conseguiu passar para não perder a produção", diz o secretário de Agricultura e Meio Ambiente, Rodolfo Machado.

As equipes seguem na recuperação das outras pontes e ajudam na distribuição de comida e remédios para os bairros, que ficam a cerca de 5 km do centro de Catuçaba.

Na principal via do distrito, o comerciante Edson Luis, 41, fazia a parte final da limpeza. A mesa de sinuca foi salva, assim como a maior parte dos equipamentos.

"Desci correndo e desliguei a chave de energia. Perdemos alguns produtos que estavam nas prateleiras de baixo, alguns salgados, mas dá para recuperar o resto."

Já um comerciante que não quis se identificar disse que ainda não teve coragem de abrir a loja para limpá-la e contar os prejuízos.

Quem viveu a enchente de 2010, outra ocasião em que o Carnaval foi cancelado, põe a esperança no senso de comunidade para a recuperação.

"Ajudei muito na época do rafting, a passar de barco e tirar gente que ficou presa. Precisamos ter calma e ajudar primeiro quem mais precisa", diz Douglas Correa, 41. Ele administra uma casa de temporada na região, e estava fora na hora do alagamento. Na quarta, colocava roupas e itens domésticos para secar sobre o capô do carro.

Apesar de concentrada em Catuçaba, a enchente também fez subir o rio Paraitinga, no centro histórico da cidade, e a água manchou um cartaz que anunciava os blocos e dois bonecos de carnaval.

O trecho, formado pelas ruas dos Presottos e Ailton Rangel Presotto, registrou alagamentos nos últimos dias, e famílias foram retiradas duas vezes de casa, segundo funcionários da prefeitura.

Estabelecidos às margens do rio, os luizenses confiam na própria história de recuperação de tragédias e esperam retomar o Carnaval, famoso por celebrar a história local em marchinhas.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.