Descrição de chapéu Governo Lula

Turismo pode ser a resposta contra ameaça a áreas ambientais, diz Freixo, presidente da Embratur

Ex-deputado defende atividade como alternativa econômica para preservar locais ameaçados por garimpo e outras ações ilegais

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Brasília

O novo presidente da Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo) pretende intensificar o turismo em áreas de preservação ambiental e que atualmente sofrem com alta incidência de atividades ilegais e nocivas para os locais, como o garimpo.

A intenção, diz o ex-deputado Marcelo Freixo, hoje à frente da agência, é criar alternativas para lugares como a região dos yanomamis, como forma de combater ações criminosas —que se enraizaram como motor econômico local.

"Onde tem garimpo ilegal, você tem que tirar ele de lá. Qual atividade econômica vai substituí-lo? Porque se não tiver nenhuma, como fica a cidade, o mercado e a geração de emprego? O turismo pode hoje substituir as ilegalidades da economia que hoje ameaçam o meio ambiente e os povos tradicionais", afirma Freixo à Folha.

Marcelo Freixo, então candidato ao governo do Rio de Janeiro, em entrevista
Marcelo Freixo, então candidato ao governo do Rio de Janeiro, em entrevista - Eduardo Anizelli - 16.set.2022/Folhapress

Segundo ele, a crise yanomami mostra que não há como realizar garimpo sustentável dentro de terras indígenas, como proposto pelo governo Bolsonaro (PL). "O turismo entra como modalidade de possível resposta [à crise], para gerar crescimento econômico", diz.

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem conduzindo uma megaoperação para expulsão do garimpo da Terra Indígena Yanomami, em Roraima.

As ações de repressão à atividade ilegal vem promovendo um êxodo dos garimpeiros da região, o que também aumenta o temor de que esses invasores migrem para outras áreas de exploração do solo, ou até fujam para outros países.

O crescimento e a consolidação do garimpo ilegal na terra yanomami, permitidos e estimulados pelo governo Jair Bolsonaro, provocaram uma crise humanitária, sanitária e de saúde entre os indígenas, com explosão dos casos de malária, desnutrição grave e infecções respiratórias.

Yanomamis de comunidades em regiões como Surucucu e Auaris se viram empurrados e pressionados pelos invasores, e algumas aldeias foram cooptadas pela atividade garimpeira. Os indígenas encolheram suas plantações, e não têm água potável para beber e nem para tomar banho. A caça foi afugentada. Não conseguem pescar.

O governo Lula declarou no dia 20 do mês passado estado de emergência em saúde pública, com ações de assistência médica na terra indígena. Depois, o governo deu início à Operação Libertação, para retirada dos invasores do território, com participação de agentes de Ibama, Funai, Força Nacional de Segurança Pública e Forças Armadas. A operação deve durar entre seis meses e um ano.

Aliada à operação, está um movimento, que o petista vem conduzindo desde que foi eleito, de usar a Amazônia para tentar reposicionar o Brasil no cenário global. O país se distanciou de potências importantes, como a França, dentre outros fatores por sua política negligente com a crise climática.

"Quando se promove o Brasil, se promove o Brasil que vai proteger a Amazônia, e as pessoas querem conhecer a floresta. Só que as pessoas não querem conhecer uma floresta devastada, mas preservada. Quando falamos em ecoturismo, é uma postura política", afirma Freixo.

O ministro diz, porém, que não está decidido ainda onde a Embratur promoverá ações voltadas ao ecoturismo, nem quando. Freixo afirma que conversará com os ministros Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Silvio Almeida (Direitos Humanos) para entender quais comunidades —não só indígenas, mas também quilombolas, por exemplo— têm o perfil e desejam participar de ações desse tipo.

Freixo diz ainda que será criada uma gerência de clima e meio ambiente dentro da agência.

Segundo o ex-deputado, há atualmente conversas com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) para criar instrumentos de incremento no orçamento da Embratur —que, em sua avaliação, hoje é insuficiente para as necessidades da pasta.

Ainda de acordo com Freixo, até agora há duas medidas mais avançadas dentro da agência.

Uma é em parceria com o Ministério da Igualdade Racial, para um memorial inspirado no memorial do Holocausto (na Alemanha) a ser instalado no Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, local que mais recebeu escravizados africanos em todo o Brasil.

A outra, junto com o Desenvolvimento Regional, é um mapeamento dos pontos turísticos do país e de quais os déficits de mão de obra nessas regiões, para o desenvolvimento de programas locais de capacitação profissional em turismo.

O governo vai relançar o Marca Brasil, programa de promoção do turismo criado por Lula, mas paralisado por Bolsonaro em 2019, quando foi anunciado em seu lugar a campanha "Brazil, visit and love us" (Brasil, visite e nos ame).

A ideia acabou criticada por possível associação do turismo à exploração sexual. "Tem uma parcela do mundo que não quer ser confundida com algum turismo que gere a possibilidade de exploração sexual, não bastassem todos os problemas diplomáticos com países importantes [que o antigo governo gerou]", concluiu Freixo.

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