Fotógrafo morre esfaqueado em apartamento em SP, e detido alega legítima defesa

Homem foi liberado após depoimento; testemunha contradiz versão e afirma que vítima foi atacada pelas costas

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São Paulo

A Polícia Civil de São Paulo soltou um homem que confessou ter assassinado o fotojornalista Felipe Ary de Souza, 25, conhecido como Terremoto, esfaqueado durante uma suposta briga dentro do apartamento do agressor, na avenida Ipiranga, centro de São Paulo, na quarta-feira (8).

Detido pela Polícia Militar neste domingo (12), Vinicius Eduardo Santos Saavedra, 23, declarou ter agido em legítima defesa e foi liberado após prestar depoimento. Uma testemunha, porém, contesta a versão dele.

O caso chegou ao conhecimento dos investigadores após o porteiro do prédio acionar a PM. Os agentes que atenderam a ocorrência arrombaram a porta do imóvel, que estava trancada, e socorreram a vítima até a Santa Casa, onde morreu.

Fotojornalista Felipe Terremoto foi assassinado a golpes de canivete em apartamento no centro de São Paulo
O fotógrafo Felipe Ary de Souza, conhecido como Terremoto, foi morto na quarta (8) - Leitor

Segundo o delegado Alexandre Dias, do 3º DP (Campos Elíseos), a briga que levou à morte do jovem ocorreu por motivo banal.

Além dos dois homens, estavam no apartamento a namorada de Saavedra e uma quarta pessoa, que prestou depoimento nesta segunda (13).

"Minha mulher começou a conversar com o Terremoto. Ela perguntou para o Terremoto se ele ficaria comigo, desde que ela não tivesse como ficar sabendo. O Terremoto respondeu que sim. Eu abordei o Terremoto sobre isso, perguntei para ele [se] também ficaria com ela, desde que eu não tivesse como ficar sabendo. Ele falou que ficaria, sim", contou o suspeito, em áudio publicado nas redes sociais.

A resposta teria incomodado o dono do imóvel.

"Eu fui para cima dele dentro de casa. Eu fui na porrada. Só que o Terremoto, por ser mais forte, mais gordão, conseguiu levar a melhor, ele conseguiu me derrubar no chão, ele conseguiu me enforcar. Só que no meio da confusão tinha uma faca que caiu no chão. Eu furei ele com a faca e ele me soltou. Ele pegou uma faca e me furou também", relatou.

À polícia o suspeito fez relato semelhante. Disse ainda que, ao fim da briga, trancou o apartamento com a vítima dentro e foi buscar ajuda. Saavedra afirmou ter pedido para que o porteiro acionasse socorro para Souza.

De acordo com o delegado, Saavedra possui uma lesão típica de defesa na mão, uma mordida na orelha e dois ferimentos na região torácica, feitos com arma branca.

Testemunha contesta versão

De acordo com a testemunha ouvida nesta segunda, Saavedra disse que ele e a namorada tinham consumido clonazepam, um ansiolítico controlado, e bebidas alcoólicas. Em razão disso, o dono do apartamento teria tido pequenos surtos, com comportamento agressivo, e dizia que alguém queria matá-lo.

Na versão da testemunha para a conversa que iniciou a briga, Terremoto respondeu que não era "talarico" —gíria para pessoa que se relaciona com outra já comprometida—, mas Saavedra rebateu, duvidando. Na discussão, Saavedra deu um soco no rosto da vítima, que revidou, o derrubou no chão e o imobilizou.

Ao sentir que algo grave poderia acontecer, a testemunha tentava sair do apartamento quando viu Saavedra pegar uma faca e ir em direção a Terremoto, que estava de costas. A testemunha contou que deixou o local às pressas e pediu para o porteiro acionar a polícia.

"O relato da testemunha ouvida na data de hoje revela que o rapaz que tirou a vida do Felipe [Souza] não agiu em legítima defesa, pois partiram dele todas as iniciativas de agressão física. Felipe foi atingido pelas costas de maneira covarde, tentou se defender e não conseguiu, perdeu a vida por um motivo fútil", disse à Folha a advogada Maira Pinheiro, que representa a família de Souza.

O delegado Dias disse que aguarda laudo, relatos de testemunhas e imagens de câmeras de segurança para concluir a investigação.

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