Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Israel nega ter feito acordo com Hamas, e cessar-fogo afunda mais uma vez

Facção havia dito que aceitava proposta para trégua no conflito feita com mediação de Qatar e Egito

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O governo de Israel negou nesta segunda-feira (6) ter feito um acordo com o Hamas para uma nova trégua na guerra que devasta a Faixa de Gaza. Horas antes, a facção terrorista havia dito que aceitava os termos de uma proposta e que o cessar-fogo só dependia de Tel Aviv.

As negociações para o cessar-fogo eram mediadas por autoridades de Qatar, Egito e Estados Unidos. Caso fosse implementada, a trégua seria a primeira desde a pausa de uma semana nos combates que ocorreu em novembro. Desde então, acumulam-se tentativas fracassadas para interromper novamente o conflito, libertar outros reféns e permitir a entrada de mais ajuda humanitária em Gaza.

Palestinos em meio a destroços na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza
Palestinos em meio a destroços na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza - Hatem Khaled - 5.mai.24/Reuters

A proposta que havia sido aceita pelo Hamas, no entanto, não atende às principais demandas de Israel, informou o gabinete de guerra em comunicado. As autoridades, no sentido contrário, teriam decidido avançar com os planos para invadir Rafah, cidade no sul de Gaza hoje superlotada de pessoas forçadas a se deslocar na guerra —segundo estimativas, metade dos 2,3 milhões de habitantes locais estão na região.

Os objetivos da ofensiva, segundo o gabinete de guerra, são "aplicar pressão militar" sobre a facção e "fazer progressos na libertação de reféns". Horas antes os militares de Israel ordenaram o esvaziamento de uma área de Rafah. Ataques aéreos descritos como intensos também foram registrados no leste da cidade, em mais um indicativo de que a invasão terrestre está prestes a ocorrer.

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, vem fazendo promessas reiteradas de invadir Rafah a despeito do temor manifestado por líderes globais de que a ação iria aprofundar a crise humanitária na região. Segundo o premiê, a ação é necessária para eliminar os últimos redutos do Hamas em Gaza.

"Chamadas para se mudar temporariamente à área humanitária serão transmitidas por meio de panfletos, SMS, telefonemas e transmissões na mídia em árabe. O Exército continuará perseguindo o Hamas em toda a Faixa de Gaza até que todos os reféns que eles mantêm em cativeiro voltem para casa", diz comunicado do Exército de Israel.

Nas redes sociais, o Exército afirmou que expandiu uma área humanitária em al-Mawasi, cidade costeira a cerca de dez quilômetros de Rafah. O plano inicial é remover para lá a população.

A ordem ocorre no dia seguinte a um ataque do Hamas na passagem de Kerem Shalom, que dá acesso ao sul de Gaza e por onde passa ajuda humanitária. Após a ofensiva, que matou quatro soldados, Israel fechou a passagem e bombardeou uma casa em Rafah, matando ao menos 16 pessoas, de acordo com médicos palestinos. O Exército afirma ter atingido o local de onde teriam partido os projéteis que caíram em Kerem Shalom.

Segundo a Casa Branca, o presidente dos EUA, Joe Biden, conversou com Netanyahu novamente por telefone e reforçou os pedidos para Israel suspender os ataques contra Rafah, além de ter discutido a possibilidade de cessar-fogo.

"Continuamos acreditando que um acordo sobre os reféns é o mais benéfico para o povo israelense e o povo palestino", afirmou Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado americano.

Do lado palestino, Khalil Al-Hayya, vice-chefe do Hamas em Gaza, disse à rede qatari Al Jazeera que o grupo havia aceitado uma proposta de trégua divida em três fases, cada uma delas com 42 dias de duração, que incluiria troca de reféns, o fim do bloqueio contra o território e a retirada de tropas israelenses. À agência AFP um dos líderes da facção disse apenas que a "bola estava no campo" de Israel.

Mas autoridades israelenses desmentiram o acordo. À Reuters um funcionário do governo afirmou que a proposta inclui medidas de longo prazo que Tel Aviv não poderia aceitar. Ele afirmou também que as declarações parecem ser uma estratégia para responsabilizar Israel pelos fracassos nos diálogos.

Ainda assim, civis saíram às ruas de várias cidades palestinas para comemorar o anúncio do grupo terrorista de que a proposta havia sido aceita.

No fim de novembro, um acordo mediado pelos mesmos atores permitiu um cessar-fogo de sete dias, nos quais 240 prisioneiros palestinos sem julgamento foram libertados, enquanto cerca de cem reféns feitos pelo Hamas no mega-atentado deixaram o cativeiro. Quase sete meses após o início da guerra, cerca de 130 pessoas sequestradas por terroristas em 7 de outubro continuam em Gaza.

Diante da guerra de versões, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu a Israel e Hamas que façam esforços extras necessários para selar uma trégua e "deter o sofrimento" provocado pela guerra em Gaza. Ele ainda disse estar "profundamente preocupado" com os sinais de que uma operação em larga escala na cidade de Rafah poderia ser iminente.

Antes do início das conversas atuais, havia algum otimismo. No entanto, o diálogo tem tropeçado na demanda do Hamas por um compromisso de encerrar a ofensiva. Israel insiste que, após qualquer cessar-fogo, retomaria as operações destinadas a desarmar e desmantelar a facção.

Um funcionário israelense sinalizou no sábado (4) que a posição central de Tel Aviv permanece inalterada, afirmando que, em nenhuma hipótese, concordaria em encerrar a guerra por um acordo para libertar reféns.

Líderes do Hamas, por outro lado, acusam Netanyahu de dificultar os esforços para que um acordo seja alcançado, devido a interesses pessoais. Israel também acusou o Hamas de obstruir as negociações.

A guerra começou depois que o Hamas surpreendeu Israel com um ataque terrorista sem precedentes em 7 de outubro, com um saldo de 1.200 mortos e 252 reféns, de acordo com contagens israelenses. Desde então, a resposta militar de Tel Aviv já matou quase 35 mil palestinos, e mais de 77 mil ficaram feridos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo grupo terrorista.

Com Reuters e AFP

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.