Morte de professora não deve ser tratada como caso isolado, diz advogada da família

Atacada por aluno em escola, Elisabeth Tenreiro, 71, foi sepultada nesta terça em SP

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São Paulo

Após o sepultamento da professora Elisabeth Tenreiro, 71, no início da tarde desta terça-feira (28), a advogada da família, Elisandra Cortez, afirmou que o desejo é que a morte da docente não seja tratada como um caso isolado. "Casos [como esse] vêm se repetindo em escolas públicas e particulares. Queremos que represente alguma mudança em relação à segurança pública."

O corpo da professora foi velado e enterrado no Cemitério do Araçá, na região central de São Paulo. Na manhã de segunda, Elisabeth foi morta a facadas por um aluno de 13 anos dentro da escola estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste. O estudante foi apreendido.

"Não adianta acontecer um caso, ser um choque nacional e não modificar em nada", afirmou a advogada.

Na avaliação dela, hoje existe uma facilidade em entrar em uma instituição de ensino. "É o momento de reavaliar essas situações que estão acontecendo na escola e imaginar o que está acontecendo."

Velório da professora Elizabeth Tenreiro, 71, no cemitério do Araçá, morta por um aluno na escola estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste da cidade. Na foto o momento que o caixão deixa a capela, acompanhado de familiares, amigos e ex-alunos
Velório da professora Elizabeth Tenreiro, 71, no cemitério do Araçá, morta por um aluno em escola estadual na Vila Sônia, zona oeste da cidade; na foto, o momento que o caixão deixa a capela, acompanhado de familiares, amigos e ex-alunos - Bruno Santos/Folhapress

Elisabeth, que dedicou a vida à ciência, começou a lecionar na Thomazia Montoro neste ano. Antes, ela atuava em uma escola estadual no Alto de Pinheiros.

"Ela já estava aposentada, ela nem precisaria estar trabalhando, ela acreditava na mudança real de cada aluno", ressaltou a advogada.

A professora deixou três filhos, que estavam muito abalados e não concederam entrevista à imprensa no cemitério. "Ela deixou um legado. Tem uma família maravilhosa."

Cortez relembrou as paixões da professora: a escola de samba Tom Maior, o time do Corinthians e os alunos que fizeram parte da história dela.

A professora de educação física Cinthia Barbosa, 67, também acompanhou a cerimônia. Foi ela quem imobilizou o agressor e impediu que ele desse continuidade ao ataque.

Em conversa rápida com jornalistas, ao chegar ao cemitério, ela disse que vive "uma confusão de sentimentos" e que, assim como outros colegas, está muito comovida.

"As emoções estão bem afloradas. Isso que estou sentindo agora eu vou expressar ali dentro [no velório]."

Cinthia afirmou que, agora, vai se concentrar em transmitir energia para os colegas, para a família, para a comunidade da escola e para todo o sistema de educação. "O que fica [de Elisabeth] é só amor."

Também nesta terça (28) alunos participaram de uma vigília em homenagem a Elisabeth. O ato foi realizado em frente à escola onde houve o ataque.

Uma das estudantes mais emocionadas, uma garota de 12 anos, contou que conhecia a professora desde os cinco anos e que ela estava sempre sorrindo. Ela afirmou que Elisabeth era avó de sua melhor amiga e uma pessoa muito doce.

Outra estudante, de 13 anos, afirmou que muitos alunos queriam a docente como tutora do percurso escolar, acompanhando os projetos de vida do currículo integral.

Apesar do pouco tempo de trabalho dela na unidade, crianças e adolescentes foram unânimes ao dizer que a professora já havia cativado os colegas e era muito querida.

A homenagem teve início às 9h e contou com crianças e adolescentes empunhando rosas brancas enquanto policiais militares observavam a distância.

Representantes do movimento estudantil também marcaram presença. Eles enfatizavam a cada fala a importância da não violência e como a professora morreu fazendo o que mais gostava: dar aula.

"Viemos prestar solidariedade", afirmou a presidente da Upes (União Paulista dos Estudantes Secundaristas), Luiza Martins, que reforçou a necessidade de psicólogos nas escolas. "Existiam indicadores, mas o caso não foi tratado como devia, com psicólogo, acompanhamento."

Presidente da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), Jade Beatriz argumentou que o atendimento psicológico já era fundamental antes da pandemia, mas o impacto da Covid ampliou essa necessidade.

"Não deixa de ser um problema político. A escola reflete a sociedade e vivemos a proliferação do ódio", acrescentou Lucca Gidra, da Umes (União Municipal dos Estudantes Secundaristas).

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