Descrição de chapéu Obituário Dirley Fernandes (1968 - 2023)

Mortes: Ajudou a contar a história da cachaça

Dirley Fernandes dirigiu documentário e se especializou no universo da bebida

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São Paulo

Quem brigou para dar prestígio à cachaça no Brasil e no mundo celebrou quando, em 2013, os Estados Unidos reconheceram a exclusividade do produto, antes chamado de "brazilian rum". O jornalista Dirley Fernandes foi um dos que vibraram com a conquista.

Sua relação com o destilado durou a vida toda, sempre com muito respeito pela bebida. Foi em 2007 que essa história começou a virar filme, entre uma dose e uma conversa no bar carioca Nó de Corda, negócio de sua amiga Lenir Costa com outras sócias na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.

"Elas tinham que lidar com o preconceito por serem três mulheres com um bar de cachaça. Ela queria contar essa história e o que havia em volta. A gente já estava junto na época e eu os acompanhei", diz a viúva, Anna Maria da Silva, 51.

Dirley sorri para a foto, usa óculos, tem cabelos e barba grisalhos. usa uma camisa amarela. ao fundo, está um prédio com uma ilustração artística
Dirley Fernandes (1968-2023) - Arquivo pessoal

A produção independente ficou pronta três anos depois. "Devotos da Cachaça" (2010) tem roteiro, pesquisa e direção do jornalista e aborda a produção e a cultura em torno da bebida a partir da obra do historiador Câmara Cascudo.

O nome do documentário batizou o site criado por Dirley, que pôs a serviço da bebida sua experiência em cultura e economia nas Redações dos jornais O Dia, Extra, Jornal do Brasil e Jornal do Commercio. Ele também editou coletâneas de livros de história.

Foi na revista Seleções, em 2005, que ele e Anna Maria finalmente se encontraram, por meio de uma amiga. Ela trabalhava no setor de marketing e ficou surpresa ao conhecer um colaborador que não ficava no prédio.

"A gente tinha amigo em comum, fez faculdade no mesmo lugar e morou nas mesmas regiões, mas não se conheceu. Foi na hora que tinha que ser", diz Anna.

Nascido em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, mudou-se na infância para a capital do estado e cumpriu a cartilha carioca: fã de samba, bar, Carnaval, literatura e cinema.

Desde julho do ano passado, o casal morava em São Paulo. No dia 9 de fevereiro, uma quinta-feira, ele foi atropelado por um ônibus na avenida Juscelino Kubitschek, na zona oeste paulistana. Seis dias depois, morreu, aos 54 anos.

No dia seguinte à morte, Anna estava no hospital com um grupo de amigos e soube, às 15h30, que o fígado de Dirley estava sendo transplantado.

O órgão ajudou a salvar outra pessoa. "A gente riu e chorou. Justo ele, um cachaceiro profissional". Os risos e choros se estenderam pelo Carnaval, com um bloco para celebrar a memória do jornalista na Quarta-Feira de Cinzas.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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