Descrição de chapéu feminicídio machismo

Mulheres divorciadas sofrem mais violência que as casadas ou solteiras, diz pesquisa

Para especialista, dados mostram que fim do relacionamento representa fator de risco para feminicídio e agressão

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São Paulo

O fim de um relacionamento não significa, necessariamente, o fim da violência sofrida por uma mulher. Na verdade, o divórcio ou a separação pode deixá-la ainda mais vulnerável a agressões por ex-companheiros, de acordo com a 4ª edição da pesquisa "Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil".

A pesquisa foi realizada pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que aponta para um agravamento de todas as formas de violência contra a mulher no país.

O levantamento, feito entre os dias 9 e 13 de janeiro deste ano, ouviu pessoas acima de 16 anos em 126 cidades de todas as regiões do Brasil. Foram 2.017 entrevistados, dos quais 1.042 são mulheres.

Protesto no Dia da Mulher de 2019, em São Paulo - Eduardo Anizelli - 8.mar.2019/Folhapress

A pesquisa mostrou que a mulher divorciada ou separada apresentou, no ano passado, níveis mais elevados de vitimização (41,3%) do que casadas (17%), viúvas (24,6%) e solteiras (37,3%).

Além disso, pela primeira vez na série histórica —que mapeia os níveis de violência contra mulher desde 2017—, o ex-cônjuge é o principal agressor (31,3%). Em segundo lugar vem o atual companheiro (26,7%), seguido por pai ou mãe (8,4%).

"Pensamos que a separação é sinônimo de fim da violência, mas os dados mostram que, para essas mulheres, há graus mais altos de vitimização. Sabemos que o fim do relacionamento é um fato de risco para o feminicídio ou para uma forma de violência mais grave", diz Isabela Sobral, coordenadora do Núcleo de Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

A pesquisa calculou pela primeira vez a média de agressões sofridas por ano. As mulheres casadas, viúvas ou solteiras sofrem, em média, três agressões por ano. Entre as divorciadas o número triplica e chega a nove agressões por ano, me média.

"Esses homens inconformados com o fim do relacionamento conseguem, muitas vezes, ainda acessar esse local. E, nesse caso, podem ser violências mais intensas porque a mulher quebrou aquela relação estabelecida entre eles, que o marido esperava que fosse seguida e, por isso, pode ser mais frequente", diz Sobral.

A coordenadora cita que metade das mulheres agredidas vive no interior e outra metade, nas capitais, ou seja, a violência contra a população feminina acontece em todos os espaços. Ela lembra, porém, que os serviços de apoio e atendimento voltados às mulheres estão concentrados nas capitais e regiões metropolitanas.

"É muito importante que as delegacias tenham policiais capacitados para atender essa mulher [agredida]. É preciso um protocolo específico para atendê-la", afirma a coordenadora, que cita ainda a necessidade de fortalecer a rede de assistência social e saúde e a importância de que atuem com estrutura da segurança pública.

Outra questão que a pesquisa aponta é que a mulher que integra a PEA (População Economicamente Ativa) —que tem um emprego ou procura um trabalho— sofre mais agressão (32%) do que aquela que não está na PEA (20,8%).

O resultado vai ao encontro de uma pesquisa de 2019 intitulada Participação no Mercado de Trabalho e Violência Doméstica Contra as Mulheres no Brasil, que mostrou que as mulheres separadas que participavam do mercado de trabalho tinham maior chance de sofrer violência doméstica. O levantamento foi feito a partir dos dados de 2009 da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio).

"Muitas vezes, o que acontece é que a mulher consegue o próprio dinheiro e, assim, consegue sair do relacionamento", afirma Sobral. A coordenadora diz ainda que, para que as mulheres consigam interromper o ciclo de violência, é essencial que o estado forneça todo apoio necessário.

Outro ponto levantado pela pesquisa diz respeito à escolaridade. Mulheres que completaram apenas o ensino fundamental são mais vulneráveis do que as que fizeram ensino superior. Quase metade das mulheres (49%) que cursaram apenas o fundamental foram vítimas de violência por parte de parceiro ao longo da vida. Isso não significa, porém, que os números caiam drasticamente entre mulheres com ensino médio (39,7%) e superior (43%).

As mulheres menos escolarizadas são, ainda, com mais frequência submetidas a violações de direitos como ser impedida de se comunicar com familiares ou amigos (18,7%).

Além disso, mulheres com filhos também estão mais propensas a sofrer algum tipo de violência. Entre as que têm filhos, 44% afirmam que já passaram por alguma agressão na vida. Entre as que não têm filhos, o percentual é de 40%.

Para Juliana Brandão, pesquisadora sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o números mostram que vivemos em uma sociedade que naturalizada a cultura da violência e os padrões do patriarcado.

"O fato de ela ser mãe acaba sendo mais um condutor da vitimização. É como se, por conta desse laço, que não é mais de afeto, mas biológico, o homem se achasse numa posição de poder reivindicar qualquer tipo de atuação dessa mulher", afirma Brandão.

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