Nesta semana a Folha estreou uma série especial sobre os Quilombos do Brasil. Mas o que significa a palavra quilombo, qual era o uso original e como o termo vem sendo utilizado no nosso país?
A palavra quilombo tem origem no idioma quimbundo ou kimbundo. Essa é uma língua africana, derivada do bantu (ou banto), falada principalmente pelos povos da região na qual fica atualmente Angola.
Um dos significados originais do termo é: local de descanso ou local para acampamento. Isso porque boa parte dos povos que viviam naquele local da África eram nômades, no período pré-colonial.
A expressão também podia representar o conceito de uma sociedade formada por jovens guerreiros que pertenciam a grupos étnicos desenraizados de suas comunidades, segundo a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos).
No período colonial, o termo passou a ser usado para designar o espaço no qual ficavam refugiadas as pessoas escravizadas. Africanos e negros nascidos no Brasil fugiam da violência do regime e se estabeleciam nesses locais.
De forma mais contemporânea, a palavra quilombo é empregada também para se referir às comunidades de pessoas negras, descendentes de ex-escravizados, que ainda mantêm tradições culturais, modo de produção agrícola e vinculação com a natureza similares à forma que seus antepassados faziam.
"A chamada comunidade remanescente de quilombo é uma categoria social relativamente recente, representa uma força social relevante no meio rural brasileiro, dando nova tradução àquilo que era conhecido como comunidades negras rurais", diz a Conaq.
Ainda segundo a entidade, "[a comunidade] também começa a penetrar no meio urbano, dando nova tradução a um leque variado de situações que vão desde antigas comunidades negras rurais atingidas pela expansão dos perímetros urbanos até bairros no entorno dos terreiros de candomblé".
Mais recentemente, a palavra quilombo também virou verbo. Aquilombar. Tem sido empregada principalmente em locais destinados a manifestações culturais, como forma de convidar a população negra a construir espaços nos quais não se sinta excluída.
Os povos bantus foram um dos principais grupos trazidos à força para o Brasil durante os cerca de 300 anos de escravidão que vigoraram no país. Por isso, as línguas bantus têm grande influência na língua portuguesa que falamos hoje em dia.
Atualmente, em Angola o português é a língua oficial. Entretanto, existem mais de 20 idiomas utilizados pela população. A segunda língua mais falada entre os angolanos é o umbundo, com 26%. A terceira língua nacional mais falada, com 20%, é justamente o quimbundo, idioma que originou a palavra quilombo. Ele é utilizado nas zonas central e norte do país, o que inclui a capital Luanda.
Os quilombos surgiram na época da colonização brasileira como resposta à violência praticada pelos portugueses e, depois, por seus descendentes, contra os negros que foram trazidos à força para o Brasil, vindos da África. Os primeiros registros desse tipo de formação datam da década de 1570.
Cerca de 5 milhões de pessoas entraram no país e foram escravizadas, ao longo do regime escravocrata que só terminou em 1888.
Além da fuga imediata da opressão, o surgimento dos quilombos também ajudou, mesmo que lentamente, a inviabilizar o sistema escravocrata. As comunidades davam suporte para rebeliões, incêndios em plantações e resgate de cativos, fatores que ajudaram na busca pela abolição.
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