Assinar Onlyfans é traição? Casais divergem

Especialista, no entanto, diz que comportamento é normal e único problema seria correspondência

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São Paulo

Em uma noite de sexta-feira do último mês de dezembro, Andressa, 26, deitada sonolenta ao lado de seu namorado, Gabriel, 28, teve um choque. Ao dar uma espiadinha no celular do parceiro, que rolava uma conversa no WhatsApp, ela viu uma bunda.

Aquela imagem paralisou a moradora da região central de São Paulo. Nas horas seguintes, a jovem tentou esquecê-la, mas tão protuberantes nádegas brotavam insuportavelmente em sua consciência.

Durante a madrugada, resolveu, então, prolongar a espiadinha inicial. Fez uma devassa no aparelho celular de Gabriel. Arrependeu-se, diz. Viu, além de traseiras, muitas frentes despidas.

O homem comprava conteúdo erótico de outras garotas por meio do Onlyfans, plataforma popular para venda de produções voltadas ao público adulto.

Marina Gomes, 21, e Lucas Silva, 22, afirmam não haver espaço para consumo de "nudes" em sua relação - Karime Xavier/ Folhapress

Naquele mesmo momento, sentindo-se traída, Andressa expulsou Gabriel de casa. Ele, resignado, aceitou. No entanto, afirmou ter feito aquilo por se sentir sozinho e não considerar adultério. Semanas depois, eles reataram. A dupla pediu para não ter seu sobrenome divulgado.

Mas consumir imagens de outros corpos pode ser considerado infidelidade? Marina Gomes, 21, diz que sim. A paulistana está em um relacionamento com Lucas Silva, 22, há cinco anos.

"Cada casal sabe dos seus limites. No meu caso, não aceitaria que o meu parceiro acessasse nudez, pois estamos num relacionamento monogâmico e não concordo que haja desejo direcionado a outras pessoas. Além disso, as visualizações nesses perfis estimulam a pornografia, o que também é uma questão problemática", declara Marina.

Lucas concorda com a parceira. "Respeitamos os ideais um do outro."

Ao contrário dos cônjuges, Jairo Bouer, psiquiatra especialista em sexualidade, diz ser normal ter desejo por outros corpos, mesmo em uma união monógama.

"Não é incomum a curiosidade de olhar outros corpos. Isso, inclusive, pode ser saudável para uma relação. O estímulo visual alcançado pode fazer bem para a libido no momento em que você encontra seu parceiro", diz ele.

Bouer diz haver um estigma social que impõe aos casais a percepção de que uma monogamia restritiva, sem abertura para observar outros corpos, seria a única intimidade aceitável. "Tem uma questão social, cultural e religiosa envolvida. É difícil escapar."

O importante, para o profissional, é não haver exagero no consumo que culmine em vício e afete na qualidade e frequência da relação sexual.

Para o casal Gabriel Pereira, 21, e Otávio Menezes, 23, de Salvador, na Bahia, também não há dificuldade em conciliar uma vida a dois saudável e o consumo de nudez alheia, mas pagar por isso seria inconcebível.

"Entendemos que o consumo de conteúdo do tipo não seria diferente do consumo de pornografia, o que não consideramos traição", diz Gabriel.

Mas há uma questão na qual o casal diverge: caso os "nudes" recebidos fossem de alguém próximo.

"No nosso tipo de relação, monogâmica, entendo como infidelidade. Mas ele [Otávio] disse que não, só ficaria chateado. Acho que abre janelas que eu não gostaria em nosso relacionamento, por exemplo: ele gostaria de estar com aquela pessoa? Fantasia com ela?", declara Gabriel.

O psiquiatra Jairo Bouer concorda com o jovem. "Caso houver correspondência de imagens íntimas, temos outra questão, vira algo mais pessoal", diz. Ele justifica que existiria um vínculo, o que pode ameaçar a estabilidade da união.

"Ao fim, é tudo questão de diálogo. Há vários tipos de acordos conjugais, e o casal deve sempre discutir sobre temas polêmicos e entender o que pode ou não ocorrer", completa o psiquiatra.

Sabrina Souza, 28, tem um acordo peculiar com a namorada, Isabela Marques, 30. Ambas podem trocar fotos sensuais e conversar com outras pessoas, desde que com chancela estética da outra. Entretanto, nada de prostitutas ou conteudistas eróticos. E mais importante, dizem, sem sexo.

"Podemos e devemos aproveitar, sim, mas com alguém real, né? Quero ver corpos tangíveis e conversar com pessoas que gostem de mim. O mundo já é muito superficial", diz Sabrina, nascida em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e hoje habitante de Brasília, no Distrito Federal. Ela se mudou há três anos para viver com o cônjuge da vez.

Isabela concorda e diz viver em paz com o tratado, ainda mais sabendo que a parceira é requisitada por bons partidos. "É divertido. Muitos a querem, só eu a tenho", declara aos risos.

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