Descrição de chapéu Obituário MARIA DA PAZ DE ARAÚJO (1944 - 2023)

Mortes: Artesã potiguar, bordou tecidos e histórias de vida

Maria da Paz de Araújo viveu da arte e com ela ajudou outras mulheres

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Petrolina (PE)

O barulho da máquina de costura no canto da oficina do artesão Mestre Quincas, em Petrolina (PE), virou silêncio. Sua comandante, a artesã Maria da Paz de Araújo, descansou logo após o Dia do Artesão (19 de março), aos 78 anos.

Conhecida como Dona da Paz, ela recebia os visitantes do centro cultural —que ajudou a criar— com um largo sorriso. No seu ateliê, retalhos de tecido viravam obras de arte. Eram colchas, tapetes e o que mais a imaginação permitisse, tudo bem colorido.

Nascida na terra das bordadeiras, Caicó (RN), em 11 de abril de 1944, aprendeu a costurar com a avó, que a criou junto com o avô, após a separação dos pais.

Mulher de óculos ao lado de colchas de retalhos estendidas na parede
Maria da Paz de Araújo (1944 - 2023) - Lizandra Martins

Depois de se casar, foi morar em Sousa (PB). Perdeu o primeiro marido em 1974, mesmo ano de nascimento do filho mais novo. Foi rodando diversos estados em busca de tratamento para a filha epiléptica que aprendeu crochê, pintura e outras técnicas.

Para complementar a renda, começou a comercializar peças. No ano seguinte, iniciou as idas a Petrolina (PE), entregando encomendas onde viria a morar e ajudar a fundar uma associação de artesãos.

O empoderamento feminino estava na vida da artesã antes de virar pauta recorrente. A filha Patrícia Araújo, 53, conta que a mãe ensinou mulheres a conseguir renda própria com arte e encabeçou um projeto social que capacitava meninas em situação de vulnerabilidade social. "Nos últimos anos, ela estava lutando para conseguir trazer esse projeto de volta."

"Ela tirava do pouco que tinha para ajudar quem estava começando a comprar material", diz, orgulhosa.

Da Paz tinha paixão pelas feiras de artesanato. Contava memórias das viagens e sobre as amizades que fez país afora. Sempre com alto astral, ia cantando no ônibus para o motorista se manter acordado. "Eu não vejo a hora de ficar boa, porque eu quero viajar", dizia aos familiares nos últimos meses de vida.

Maria da Paz morreu por complicações da insuficiência cardíaca —agravada pela Covid que contraiu há dois anos— após 33 dias no hospital da cidade vizinha, Juazeiro (BA). Deixa o marido Severino, cinco filhos, 11 netos e quatro bisnetos.

A dedicação ao artesanato foi até onde a saúde permitiu e dizia que, se tivesse uma segunda vida, queria voltar novamente como artesã, porque se realizava assim.

Entre suas últimas peças, colchas bordadas com a letra de "A Vida do Viajante", de Luiz Gonzaga e Herve Cordovil, que diz "minha vida é andar por este país pra ver se um dia descanso feliz".

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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Erramos: o texto foi alterado

O título de versão anterior deste texto estava incorreto, pois Maria da Paz de Araújo nasceu no Rio Grande do Norte, não em Pernambuco. 
 

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