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Folha errou ao associar propriedade de SC ao nazismo

Diferentemente do que escreveu colunista do jornal, inscrição 'heil' em telhados de casas catarinenses não é apologia do movimento de Hitler

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São Paulo

A Folha cometeu um erro ao publicar texto que associava uma propriedade no interior de Santa Catarina ao ideário nazista. Uma coluna de domingo (21) chamou a atenção para a inscrição "heil" nos telhados de duas casas do município de Urubici e afirmou que "muito provavelmente" era uma alusão à ideologia consagrada pelo alemão Adolf Hitler.

A palavra alemã "heil" pode ser traduzida como o substantivo "salvação" ou como os adjetivos "salvo" e "ileso". Também cumpre o papel de interjeição, o que acontece na famosa saudação nazista "Heil, Hitler" (salve, Hitler).

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Estrada no interior de Santa Catarina - Paulo Muzzolon - 10.jul.2020/Folhapress

Neste caso, no entanto, a palavra "heil" é uma referência ao sobrenome da família dona da propriedade. É incorreto, portanto, fazer referência a essas estruturas como "telhas arianas", como escreveu a colunista Giovana Madalosso. A falta de uma rigorosa checagem de dados, conforme recomenda o Manual da Redação, levou ao erro cometido pelo jornal.

Heil é um sobrenome conhecido no estado, principalmente na cidade de Brusque, onde vive a família Heil, que tem propriedades em Urubici, cidade a cerca de 170 km de Florianópolis.

Entre as pessoas com esse sobrenome está Antônio Heil, prefeito de Brusque de 1966 a 1970. O político e empresário, que morreu em 1971, dá nome a ruas de cidades catarinenses, como Florianópolis e Blumenau.

Também é nome de estrada: a rodovia Antônio Heil, que liga Brusque a Itajaí.

No mesmo dia da publicação, apenas na versão online, o jornal corrigiu as informações incorretas da coluna e divulgou uma errata, destacada no alto do texto, à esquerda. Não cogitou, porém, retirar o texto do ar. Seria uma medida contrária à transparência preconizada pelo Manual.

Na quarta (24), o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), abordou o tema em uma carta ao povo catarinense.

O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), em reunião com o presidente da República e outros governadores em abril deste ano - Eduardo Valente/Secom

Um dos trechos dizia: "Fiquei indignado de uma jornalista escrever sem apurar. Ela não sabia que escrever nome da família no telhado já era uma tradição de mais de 30 anos dos Heil, justamente para facilitar aos turistas a localização da pousada, quando não havia internet. Que esse sobrenome foi carregado por ilustres catarinenses".

A deputada federal Julia Zanatta (PL-SC) gravou um vídeo dizendo que a colunista havia ido para Urubici "para nos chamar de fascistas e nazistas". Na verdade, Madalosso escreveu que 69% do eleitorado de Santa Catarina "votou em um fascista".

"Folha sendo Folha, sempre mentindo e militando. Será que a ‘jornalista’ será punida e a Folha irá se retratar?", escreveu o deputado federal Mario Frias (PL-SP) no Twitter.

Madalosso, que reconhece ter cometido um erro, recebeu centenas de ofensas por meio das redes sociais. Também foi alvo de dezenas de ameaças.

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