PM cria cerco e entra na Terra Indígena Jaraguá após protesto que fechou rodovia em SP

Policiais dizem fazer 'patrulha de rotina'; na terça, ato contra marco temporal foi reprimido com bombas e balas de borracha

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São Paulo

Um dia depois de a tropa de choque da Polícia Militar usar bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para reprimir um protesto de indígenas contra o projeto de lei do marco temporal, em São Paulo, viaturas da PM cercaram e entraram nesta quarta (31) na Terra Indígena Jaraguá, zona norte da capital, constrangendo moradores.

Na terça (30), cerca de cem pessoas, entre indígenas e apoiadores, bloquearam a rodovia dos Bandeirantes (sentido capital) em manifestação contra o PL 490, que acabou aprovado na noite de terça na Câmara dos Deputados.

Viatura da PM perto da entrada da aldeia Tekoa Yvy Porã, da Terra Indígena Jaraguá, na estrada Comendador José de Matos, em São Paulo, nesta quarta (31) - Bruno Santos/Folhapress

Ao menos duas viaturas estavam no entorno da terra indígena na manhã desta quarta-feira, a cerca de 500 metros da entrada da aldeia Tekoa Yvy Porã. À reportagem um dos agentes disse estar em "patrulha de rotina".

A Folha apurou que os PMs monitoram a área por ordem da corporação, a fim para coibir novos protestos.

Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirma que o patrulhamento é rotineiro.

"A Polícia Militar informa que realiza patrulhamento ostensivo e rotineiro, inclusive no interior das comunidades indígenas, e atua em conjunto com as lideranças para o planejamento operacional em prol da prevenção de crimes. O patrulhamento preventivo, que tem previsão constitucional, foi reforçado após pedido do Conselho Estadual dos Povos Indígenas (CEPISP), encaminhado à SSP em abril, para garantir a segurança dos povos indígenas", diz a nota.

A reportagem chegou à aldeia por volta das 3h, e indígenas e apoiadores ainda aguardavam decisão das lideranças sobre um possível protesto nesta quarta, que acabou não acontecendo.

Por volta das 4h30, uma dupla de policiais abordou a reportagem e pediu credenciais de identificação do repórter. Em seguida, uma viatura surpreendeu quem estava presente no galpão principal ao entrar pela garagem e subir a rampa que dá acesso à aldeia.

Um dos indígenas disse à reportagem que a polícia já entrou na terra indígena em outras ocasiões.

No entanto, de acordo com informativo da Funai, que pode ser consultado no site oficial do governo federal, qualquer pessoa ou autoridade só pode entrar em terras demarcadas mediante autorização obtida após processo administrativo ou com permissão de "representantes dos povos indígenas" (caciques e lideranças).

No local os policiais conversaram com duas voluntárias que dão suporte aos indígenas. Eles pediram a elas que mostrassem seus documentos e os fotografaram.

PM dentro da Terra Indígena Jaraguá, nesta quarta (31) - Bruno Santos/Folhapress

PROTESTO CONTRA MARCO TEMPORAL

Na terça, após três horas de negociações entre polícia e indígenas, a tropa de choque da PM usou bombas de gás e balas de borracha para dispersar o protesto que bloqueava a rodovia dos Bandeirantes. Acuados, os indígenas saíram em fuga e retornaram à Terra Indígena Jaraguá, de onde tinham partido.

A líder Ara Poty criticou a truculência e disse que ao menos duas crianças passaram mal com os efeitos do gás lacrimogêneo. E endereçou suas críticas ao governador Tarcísio.

"Você [Tarcísio] é um anti-indígena. Mandou seu povo [PMs] nos expulsar de uma manifestação pacífica. A tua polícia estava armada até os dentes", disse Ara Poty após a dispersão dos manifestantes.

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