Jovem presa durante entrevista de emprego no RJ é solta

Empresa onde ela estava é suspeita de oferecer consórcios falsos, segundo polícia

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Rio de Janeiro

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou nesta quarta (21) a soltura de 18 pessoas que haviam sido presas em flagrante em uma operação contra uma empresa suspeita de aplicar golpes. Entre elas, está uma jovem que afirmou que apenas fazia uma entrevista de emprego no local.

O alvo da Polícia Civil foi a Icon Investimento, investigada por supostamente aplicar golpes na oferta de consórcios de automóveis e imóveis. Procurada nesta quinta (22) pela reportagem, por telefone e mensagem, a empresa não se manifestou.

Uma das pessoas presas na operação, desencadeada no dia 5 deste mês, Lívia Ramos de Souza, 19, afirmou à Folha ter saído de Saracuruna, em Duque de Caxias (a 24 km da cidade do Rio de Janeiro), para realizar um processo seletivo na empresa. A vaga, segundo ela, havia sido anunciada em um site de emprego.

A jovem disse que fez a entrevista e aprendia a realizar as televendas quando policiais civis da 58ª DP (Posse) bateram à porta do escritório. Ela foi presa e foi levada para o Instituto Penal Santo Expedito, em Gericinó, zona oeste do Rio. Procurada pela reportagem, a Polícia Civil não respondeu.

Lívia Ramos de Souza, 19, foi presa durante entrevista de emprego em um escritório que oferecia consórcios de veículos, no Rio - Arquivo pessoal

"Os policiais perguntaram às meninas o tempo de empresa de cada uma. As meninas falaram que eu estava no primeiro dia, mas eles me levaram ainda assim. Eu fiz questão de falar para o delegado que eu estava no primeiro dia. Ele falou que não podia fazer nada, que eu seria presa", afirmou Lívia.

Na primeira noite fora da prisão, na quarta (21), Lívia preferiu dormir ao lado da mãe.

"Durante o sono ela acordou várias vezes, teve alguns sustos. Ela, como todo jovem, costuma acordar tarde, mas às 6h já estava de pé. Passei essa primeira noite do ladinho dela para saber como ela estava", disse Cristina Pinto Ramos, 51, mãe de Lívia.

Em um termo de declaração registrado na Polícia Civil, ao qual a Folha teve acesso, um dos policiais que participou da investigação afirma que o escritório oferecia cartas de crédito a consumidores para a compra de veículos que não existem. Na chegada dos agentes ao escritório, no dia 5, um dos clientes dava uma entrada de R$ 7.800 para adquirir um carro. O suposto veículo, anunciado no Facebook, tinha o valor de R$ 40 mil.

Os policiais civis ainda disseram que as 18 pessoas presas estavam distribuídas em quatro equipes de vendas, com um coordenador, um gerente e vários vendedores de telemarketing.

O Ministério Público disse que apesar de a polícia mencionar que há indícios de funcionamento da organização criminosa "nenhum elemento de convicção foi trazido aos autos".

Para Alex Silva Gomes, advogado de Lívia, houve demora na resolução do caso. Após a prisão em flagrante pela Polícia Civil, os autos foram distribuídos para a 21ª Vara Criminal. No entanto, pela tipificação de organização criminosa, o processo deveria ter sido distribuído para a vara especializada.

Na quarta (21), o juiz Gustavo Gomes Kalil decidiu pelo relaxamento da prisão de 18 pessoas presas em flagrante.

Na decisão, o magistrado afirma que "não há sequer evidência apta a corroborar o modus operandi dos estelionatos" e que, ainda que os responsáveis pela empresa possam ter praticado estelionato e associação criminosa, "o fato prescinde de aprofundamento das investigações". O juiz diz ainda que os presos "desconheciam a suposta atividade ilícita praticada pelo empregador".

"A maior parte dos presos fora contratada recentemente e tomou conhecimento da vaga através de plataforma de empregos da internet", completa.

A mãe de Lívia lamenta só ter sabido que a filha fora realizar uma entrevista de emprego quando ela já havia sido presa em flagrante.

"Acho que ela quis fazer uma surpresa para mim e não me avisou que ia fazer a entrevista de trabalho. O sonho dela era ter um trabalho de carteira assinada. Talvez eu pudesse perceber, porque mãe tem um olhar crítico sobre tudo", diz Cristiane.

Lívia, agora, pensa no futuro. "Tenho curso técnico em administração e meus pais querem que eu faça essa faculdade. Mas fui jovem aprendiz em uma escola e me apaixonei. Quero cursar pedagogia".

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