Ministério Público cobra rigor na apuração de morte de atirador em cela em Londrina (PR)

Governador Ratinho Junior disse que secretário de Segurança Pública vai acompanhar pessoalmente a investigação

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Curitiba

O Ministério Público do Paraná cobrou rigor na investigação da morte do homem de 21 anos que matou dois adolescentes em um colégio estadual de Cambé, no norte do estado. Ele estava preso na Casa de Custódia de Londrina desde segunda (19) e foi encontrado morto em sua cela na noite de terça (20), segundo a Sesp (Secretaria de Estado da Segurança Pública).

"Ao tempo em que lamenta profundamente o condenável delito praticado contra os estudantes, o Ministério Público não pode deixar de garantir que as circunstâncias que envolveram a morte do autor do crime sejam, em idêntico sentido, eficaz e rigorosamente apuradas, considerando o pressuposto de que a vida é um bem maior a ser exemplarmente tutelado em todo Estado de Direito", diz a nota do Ministério Público.

Flores são deixadas na entrada do Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé (PR), nesta quarta (21), dois dias após ataque - Filipe Barbosa/Futura Press/Folhapress

O texto acrescenta que foram designados dois promotores de Justiça para acompanhar as investigações —Jorge Barreto da Costa e Leandro Antunes Meirelles Machado. Eles são integrantes do Núcleo de Londrina do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).

Pela manhã, a Sesp informou que o Deppen (Departamento de Polícia Penal do Estado do Paraná) instaurou procedimento interno sobre o caso e que a Polícia Civil também iniciou investigação para apurar as circunstâncias da morte. O inquérito policial tramita na Delegacia de Homicídios de Londrina.

O advogado contratado por familiares do atirador, Marcelo Gaya, confirmou à reportagem que há suspeita de suicídio, ponderando que as investigações ainda estão em curso. O corpo foi encaminhado para o IML de Londrina.

Em entrevistas logo após o ataque à escola, autoridades da Polícia Civil e da Polícia Militar informaram à imprensa que o rapaz preso admitiu intenção de cometer suicídio após balear os estudantes. Ele também teria relatado um diagnóstico de esquizofrenia e disse que tomava medicamentos controlados.

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Paraná menciona legislação específica para casos como o do rapaz morto, em nota encaminhada à Folha.

"Se havia conhecimento prévio da condição de saúde mental, há legislação específica que regula a situação a ser observada e verificada, como a Lei 10.216/2001, que garante atendimento adequado para pessoas com transtornos psíquicos e estabelece padrões e protocolos que devem ser seguidos nesses casos", diz a nota.

"A legislação também inclui outros dispositivos constitucionais, legais e tratados internacionais que tratam de garantias para as pessoas privadas de liberdade que sofrem de transtornos psíquicos", acrescenta.

A Sesp confirmou que, além do atirador, estava na cela o outro homem de 21 anos que teria ajudado a planejar o ataque à escola.

A reportagem enviou questionamentos ao Deppen sobre a morte do atirador, mas não obteve respostas.

O Governo do Paraná se manifestou apenas no final da tarde desta quarta, a pedido da Folha.

"O governador Ratinho Junior determinou que o secretário de Segurança Pública, Hudson Leôncio Teixeira, acompanhe pessoalmente a investigação sobre as circunstâncias da morte do autor dos crimes de Cambé", afirmou o governo, por meio de nota.

A Defensoria Pública do Paraná disse, também em nota, que o Nupep (Núcleo de Política Criminal e Execução Penal) da instituição vai enviar ofício à Sesp para acompanhar a investigação sobre a morte do atirador.

"O Nupep, coordenado pela defensora pública Andreza Lima de Menezes, informa que segue o protocolo usado em todos os casos de mortes no sistema penitenciário", disse a Defensoria.

Segundo o advogado do atirador, "possivelmente a linha de defesa chegaria a um pedido de exame de insanidade mental".

Gaya afirma que chegou a conversar por cerca de 15 minutos com o rapaz, quando ele já estava sob custódia do sistema penal. "Ele falou sobre o bullying que sofreu naquela escola [onde estudou até 2014] e estava sofrendo muito", disse o advogado.

O ATAQUE E AS VÍTIMAS

Segundo o delegado-chefe da Polícia Civil de Londrina, Fernando Amarantino Ribeiro, o crime foi planejado ao longo de meses, período em que o atirador comprou arma e munições.

De acordo com a Sesp, por volta das 9h de segunda-feira, ele entrou no colégio e pediu seu histórico escolar. Depois, foi até o banheiro e vestiu uma capa preta, a mesma que aparece em um vídeo no qual ele faz ameaças —a Sesp não deu detalhes sobre essa gravação.

Ao sair do banheiro, ele começou a atirar no corredor e foi até o fundo do colégio. Ele usava um revólver calibre 38 e tinha 50 munições e sete carregadores. Foram pelo menos 16 tiros.

As balas atingiram dois estudantes, o casal de namorados Karoline Verri Alves, 17, e Luan Augusto da Silva, 16. Karoline morreu ainda na escola. Já Luan foi socorrido e levado para o hospital, mas não resistiu e morreu na terça.

O atirador foi preso minutos depois. Na noite de segunda, o outro suspeito foi preso, e nesta quarta foi detido um jovem de 18 anos, terceiro suspeito de envolvimento no ataque. Ele estava em Gravatá, em Pernambuco.

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