Descrição de chapéu Obituário Maria Leonor de Castro Bastos (1940 - 2023)

Mortes: Dedicada à literatura e à família, seguiu o exemplo dos pais professores

Maria Leonor de Castro Bastos, 82, especialista em literatura e tradutora, foi casada por mais da metade da vida com Márcio Thomaz Bastos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A infância de Maria Leonor de Castro Bastos em Cruzeiro, no interior paulista, explica boa parte de sua dedicação à literatura e à família. Filha de dois professores, ela não tinha a opção de ser menos que excelente na escola.

Incentivada pelos pais, foi uma das poucas mulheres de sua geração a sair da cidade natal para estudar. E, a exemplo deles, Leonor também tornou-se professora, além de tradutora e especialista em literatura brasileira.

Foi em Cruzeiro que Leonor conheceu o marido, Márcio Thomaz Bastos (1935-2014), que mais tarde seria um dos advogados criminalistas mais influentes do país e assumiria o Ministério da Justiça no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Maria Leonor de Castro Bastos (1940 - 2023)
Maria Leonor de Castro Bastos (1940 - 2023) - Mastrangelo Reino - 3.dez.10/Folhapress

Márcio e Maria Leonor tinham cerca de cinco anos quando se conheceram, vizinhos da mesma rua. As casas ficavam uma de frente para a outra. O romance, porém, só viria cerca de 20 anos mais tarde.

Leonor já estava encaminhada na vida acadêmica quando eles se casaram, em 1966. Ele estava em seu segundo ano como vereador em Cruzeiro. Dois anos depois, o casal se mudou para a capital paulista, onde firmou raízes.

Sua dedicação às letras garantiu o sustento à família em algumas ocasiões antes que a carreira do marido despontasse, conta a única filha do casal, Marcela Bastos. Ela se lembra de ficar embaixo da mesa de trabalho da mãe durante longas noites que antecediam a entrega de trabalhos.

Leonor traduzia todo tipo de material em francês ou italiano, suas especialidades, para o português. Livros didáticos, infantis, de literatura e manuais já passaram por suas mãos.

A paixão pelo idioma ainda a levou a uma especialização em línguas neolatinas e uma tese de doutorado na literatura de Graciliano Ramos.

"Eles eram uma família que sempre valorizou, acima de qualquer coisa, a parte acadêmica", conta Marcela sobre a infância da mãe em Cruzeiro. "O grande objetivo na vida era estudar e saber."

A dinâmica do casamento transcendia o afeto, envolvia também uma colaboração profissional. O domínio da palavra escrita fazia da esposa o braço direito quando o marido escrevia artigos para jornais, por exemplo.

"Ele era bom de falar, mas escrita não era a praia dele. E era a dela. Foram uma dupla muito interessante", diz a filha.

Enquanto Thomaz Bastos ganhava espaço no mundo jurídico, Leonor imperava dentro de casa. Era quem organizava toda a vida doméstica.

Ela se recusou a mudar para Brasília quando ele foi ministro, de 2003 a 2007. Por isso, Thomaz Bastos não passou nenhum fim de semana na capital federal em quatro anos —desembarcava em São Paulo às quintas e sextas-feiras para atender aos compromissos familiares. Não fazê-lo era impensável.

Maria Leonor morreu às 4h desta terça-feira (6), a três dias de completar 83 anos. Ela deixa uma irmã, a filha Marcela e dois netos, Rafaela e Diogo.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.