Descrição de chapéu Obituário Celia Martinez Rodriguez de Afonso (1933 - 2023)

Mortes: Espanhola, casou-se por procuração para reencontrar o amor no Brasil

Celia Martinez Rodriguez de Afonso se tornou uma das primeiras 'mãetoristas' da capital paulista

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Celia Almudena
São Paulo

Celia Martinez Rodriguez de Afonso era a sétima de oito irmãos nascidos num pequeno "pueblo" da Galícia, na Espanha. Lá conheceu seu amor, Tomas Afonso Fernandez, que migrou para o Brasil pouco depois, fugindo dos tempos difíceis do pós-guerras. Continuaram namorando por correspondência até que ele juntou o suficiente para trazer a amada para o Brasil.

Encontraram um novo obstáculo. O sr. Domingo jamais deixaria a filha solteira atravessar o oceano em um navio para encontrar um rapaz do "pueblo" vizinho. A burocracia que tiveram de superar parece bastante atual. Casaram-se por procuração, ele no Brasil e ela na Espanha. E o sr. Domingo foi o procurador e representou Tomas na cerimônia civil.

"A abuela (avó em espanhol) era uma guerreira. Imaginem sair de um pequeno 'pueblo' na Espanha, com menos de cem moradores, aos 23 anos, e embarcar em uma jornada de meses em um navio para recomeçar a vida em um novo continente", disse Luiza Afonso Toledo, lendo mensagem dos sete netos na missa de 7º Dia. "Ela não tinha sua família de sangue aqui, mas encontrou na comunidade espanhola uma família que ela escolheu e que sempre esteve aí por ela."

Celia Martinez Rodriguez de Afonso (1933 - 2023)
Celia Martinez Rodriguez de Afonso (1933 - 2023) - Arquivo pessoal

Em 1956 ela chegou ao Brasil e logo virou operária em uma tecelagem na Vila Clementino. Décadas depois, costumava contar para os netos sobre as longas caminhadas entre a fábrica e sua casa, um pequeno porão no bairro da Saúde. Depois de um tempo, teve de parar de trabalhar, já que uma mulher grávida tinha sérios problemas no chão de fábrica.

Desde então, dedicou-se à família, batalhando ao lado do marido para dar às cinco filhas tudo que não tiveram na infância pobre. Nos anos 1960, aprendeu a dirigir para se tornar uma das primeiras "mãetoristas" no caótico trânsito de São Paulo. Ela lotava a Veraneio azul clara de garotas e as levava de um lado para o outro, escola, catecismo, inglês, piano, balé, o que fosse.

Outros grandes momentos eram as festinhas. Juntava as filhas e passava de casa em casa, recolhendo garotas e levando para as festas. E se o bailinho não estivesse legal, não tinha problema, ela enchia a Veraneio ainda mais e levava todo mundo para casa para fazer uma tarde/noite mais divertida. No velório alguém perguntou: "Mas, afinal, quantas meninas cabem numa Veraneio?".

Celia ficou abalada quando perdeu a filha Sonia em 1985 e logo depois acabou viúva, em 1988. Mas os netos a ajudaram a conviver com a dor que definia como insuportável e começaram a preencher seus dias.

Cultivava um jardim repleto de orquídeas e hibiscos das mais variadas cores e tipos em sua casa de praia de Maresias, São Sebastião. Tinha amor pelas plantas e animais, que tratava com muito carinho. Adorava ir à praia e fazer quebra-cabeças.

O Alzheimer foi levando a espanhola, menos o sotaque carregado e a despedida habitual, "juízo" (pronunciado xuizo), das cinco filhas (Aurea, Manuela, Celia, Sonia e Nair). Morreu no dia 13 de maio, aos 90 anos. Ela também deixa genros (José Luiz, Carlos e Lúcio), netos (Paloma, Luiz Felipe, Pedro, Tomas, Daniel, Caio e Luiza) e bisnetas (Helena, Maria e Rafaela).

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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