Descrição de chapéu Marcas do Cárcere

Trauma no dedo pode causar deformidade permanente e até amputação, diz especialista

Técnica de tortura foi detectada em presídios de cinco estados; sequela pode prejudicar reinserção de ex-detentos à sociedade

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São Paulo

A médica Marina Tommasini Carrara, especialista em ortopedia e cirurgia da mão, diz que traumas nos dedos podem provocar sequelas irreversíveis, até com amputações, o que traz impactos significativos na vida das pessoas. No caso de detentos, pode atrapalhar inclusive a reinserção à sociedade.

"Você não só deixa a pessoa sequelada, incapaz de realizar as suas funções, às vezes até de higiene, mas também de, eventualmente, conseguir uma nova oportunidade de reinserção no mercado de trabalho", diz. "Você pode ter uma lesão grave que provoque até amputar um dedo, parte de um dedo."

Conforme reportagem da Folha, uma técnica específica para quebra de dedos de detentos foi identificada em cinco estados brasileiros por órgãos de combate à tortura. Em boa parte dos casos as vítimas ficaram com deformidades irreversíveis. A avaliação da médica é feita nesse contexto.

Carrara afirma que "é primordial que as funções das mãos estejam adequadas. Não precisa necessariamente estar 100%, mas se há uma deformidade importante, certamente a pessoa não vai ter a função normal", diz.

Médica especialista em ortopedia e cirurgia da mão diz que região é uma das mais dolorosas do corpo - Karime Xavier/Folhapress

Os traumas nas mãos estão entre os mais dolorosos, diz a médica, por causa da grande quantidade de terminações nervosas e, geralmente, provocam lesões sérias porque a região é desprovida de proteção, como músculos, diferentemente de braços ou coxas, por exemplo.

"Você dá uma prendidinha do dedo na porta e vê estrela, né? Elas têm muita sensibilidade e são assim justamente para nossa proteção. A mão é muito é sensível."

A especialista diz ainda que, quando há atendimento de um cirurgião, grande parte das lesões é tratável, mas é importante que isso ocorra, idealmente, antes de sete dias. "Quando não é feito esse tratamento adequado e evolui para consolidação viciosa, ou seja grudou torto, só em alguns casos a gente tem como corrigir", afirma ela.

A ação médica não anula, porém, todos os ricos de sequelas, principalmente quando são traumas de alta energia, pancadas muito fortes.

"Se for uma fratura incompleta, não necessariamente vai causar alguma deformidade permanente depois, mas, mesmo assim, é possível. É muito mais possível causar uma deformidade permanente do que não [causar]."

Isso dependente muito, explica ela, de cada trauma, do local de ferimento, da extensão da fratura, e se ela afetou ou não o tendão, que define se o dedo vai voltar a flexionar.

De acordo com a especialista, há uma série de implicações em uma sequela permanente na mão. "As lesões não tratadas são muito impactantes nas atividades diárias das pessoas, e aí, consequentemente, na questão emocional e da vida como um todo, de satisfação, bem-estar."

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