Prefeito recua e suspende estudos para alargar praias em João Pessoa

Capital da Paraíba cancelou contrato com empresa que avaliava aterro em até quatro locais

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Salvador

O prefeito de João Pessoa, Cícero Almeida (PP), recuou e suspendeu temporariamente os estudos para o alargamento artificial da faixa de areia de até quatro praias da capital da Paraíba, medida que replicaria experiências de aterros em outras cidades litorâneas do país.

O projeto era uma das prioridades de Lucena, mas enfrentou resistência de ambientalistas, estudiosos, movimentos sociais e políticos da oposição. Em maio, se tornou objeto de um inquérito civil do Ministério Público Federal.

Vista aérea da falésia do Cabo Branco
Vista aérea da falésia do Cabo Branco, em João Pessoa; prefeitura avalia possível aterro em praia da região - Prefeitura de João Pessoa / Divulgação

Em entrevista à imprensa nesta terça-feira (11), o prefeito confirmou o cancelamento do contrato com a empresa catarinense Alleanza Projetos e Consultoria, a mesma responsável pelo alargamento da praia em Balneário Camboriú (SC).

A empresa havia sido contratada por R$ 275,5 mil para elaboração de um projeto conceitual de proteção costeira e urbanização das áreas aterradas. O contrato foi suspenso de forma amigável.

"Estamos vendo equívocos no debate, muitos motivados por interesses políticos. Este é um tema importante, sério, que demanda responsabilidade, e vamos tratar com cautela. Cancelamos o estudo preliminar, vamos discutir com a sociedade, o Ministério Público e a academia para traçar o melhor caminho", afirmou o prefeito.

A proposta tinha como objetivo conter a erosão da orla de João Pessoa e contemplaria quatro trechos do litoral: as praias de Manaíra, Bessa, Jacarapé e o trecho entre o cabo Branco e a ponta do Seixas, contornando a falésia do Cabo Branco.

A intenção de alargar as praias foi anunciada pelo prefeito Cícero Lucena em outubro de 2021, com a justificativa de interromper a erosão e abrir espaços para fazer obras viárias.

O projeto só começou a avançar em abril deste ano, quando a prefeitura contratou a empresa catarinense para fazer os estudos básicos.

Um mês antes da contratação, Lucena e secretários municipais visitaram Balneário Camboriú. Na cidade catarinense, a obra de alargamento da praia custou R$ 66,8 milhões, durou nove meses e aumentou a faixa de areia de 25 para 70 metros.

Em João Pessoa, a estimativa inicial de custo para as obras nos quatro trechos é de R$ 200 milhões. Levando também em conta o pacote de obras viárias e de infraestrutura na orla, o orçamento chegaria a R$ 400 milhões.

A despeito das estimativas, a prefeitura afirmou que só os estudos iriam apontar qual seria a melhor alternativa em cada região da orla e destacou que não necessariamente adotaria a engorda artificial da faixa de areia.

Desde gestões anteriores, a prefeitura da capital paraibana estuda formas de contenção da erosão na orla. Uma das opções avaliadas foi a construção de um quebra-mar a cerca de 200 metros da costa, mas houve um entendimento de que haveria um alto impacto ambiental.

O alargamento da faixa de areia era visto de forma positiva pela gestão Cícero Lucena, sobretudo para a praia de Manaíra, onde há uma demanda de requalificação da orla com a construção de uma nova pista e ampliação do calçadão.

Em entrevista à Folha em maio, o secretário municipal de Meio Ambiente, Welison Silveira, afirmou que os estudos apresentados nas gestões passadas indicaram que "o alargamento das praias é uma das soluções menos impactantes do ponto de vista ambiental".

Para a região da falésia do cabo Branco, o prefeito chegou a indicar a possibilidade de construção de uma pista contornando a barreira que ligaria o cabo Branco até a ponta do Seixas, região conhecida por ser o extremo oriental da América do Sul.

Silveira, contudo, disse que um possível aterro na região é improvável. A área abriga a sede da Estação Cabo Branco, complexo projetado por Oscar Niemeyer que inclui o Museu da Ciência, além de equipamentos turísticos como o farol do cabo Branco e o Bosque dos Sonhos.

A proposta de aterro nas praias foi criticada por especialistas, que defenderam a realização de estudos mais aprofundados em toda a costa da Paraíba, além de um diagnóstico ambiental completo antes de iniciar as obras, para identificar a dinâmica da costa.

O prazo de 90 dias do contrato com a empresa catarinense foi apontado como curto para chegar a um diagnóstico completo.

Também havia o temor de possíveis impactos em áreas sensíveis, sobretudo nas praias do Bessa e Manaíra, região de desova das tartarugas-de-pente, espécie considerada em perigo pelo Ministério do Meio Ambiente.

O Ministério Público Federal instaurou um inquérito civil para apurar a engorda da orla e destacou a ausência de informações claras dos gestores municipais sobre o projeto. Na época, a prefeitura disse que iria prestar as devidas informações e trabalhar em sintonia com a Procuradoria.

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