Swing atrai idosos, estimula nudez feminina e tenta afastar solteirões

Local em São Paulo concilia simples balada com rebuscado aparato fetichista

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Inner Club, em São Paulo, atrai milhares de pessoas todas as semanas Karime Xavier/ Folhapress

São Paulo

O motorista de aplicativo José Antônio, 46, começa seu expediente às 21h e finaliza apenas ao nascer do Sol, de terça a domingo. Frequentemente, ouve o chamado da natureza durante período. Sem rodeios, atende. A parada escolhida para aliviar-se tem sido a mesma há uma década: o Inner Club, swing mais badalado de São Paulo.

"Cara, o lugar é viciante. Eu não consigo me afastar, qualquer coisa é desculpa para estar próximo", declarou José ao buscar a reportagem da Folha na saída do estabelecimento, localizado no Brooklin, bairro da zona sul paulistana. Eram 3h de sábado (29). A voluptuosa confraternização entre casais começara seis horas antes, mas ainda fervia com centenas de participantes àquela altura.

A massa era formada por decrépitos homens e mulheres mais novas siliconadas a acompanhá-los. Parte delas esposas, parte prostitutas.

Dois ambientes abrigavam os festeiros. O primeiro contém um luxuoso bar junto a uma balada. Nela, atordoante iluminação, questionável trilha sonora e um senhor em seus 70 anos tentando praticar pole dance eram só intimidantes aperitivos. Havia mais.

Era preciso cruzar uma cortina preta e encarar um apertado corredor escuro para adentrar o restante da funçanata. De mãos dadas, os cônjuges partiam.

Casais podem aproveitar diversos espaços fetichistas no Inner Club, em São Paulo - Karime Xavier/ Folhapress

Em poucos passos, surge um cinema exibindo filme pornô nacional. Mais adiante, um cômodo a fazer simulacro módico de uma masmorra. Lá, ocorre um dos espetáculos mais aguardados da casa, o gladiador. Corpulento, ele chega exalando virilidade. Logo, mulheres formam fila para receberem golpes de sua espada. Os maridos aplaudem.

O espaço seguinte concentra as peças mais celebradas do estabelecimento. À frente, há um ônibus, no qual embarcar é tarefa digna de trabalhadores em horário de pico e sarradas são bem-agradecidas. Depois, octógono a nocautear espectadores com impotentes performances. Finalmente, réplica da Praça da Liberdade, cartão-postal de Belo Horizonte, onde lei contra atentado ao pudor nunca foi instaurada.

Gemidos ecoam por todos os cantos, incluindo banheiros, e fluidos corporais jorram. Tão repentinamente quanto, funcionários da limpeza correm para higienizar os recintos.

O clube conta ainda com dezenas de salas privativas. Dentre elas, a denominada Vale-Tudo, reservada no último sábado para animada despedida de solteiro, promovida pelos noivos. Com união católica marcada para a próxima semana, eles desejavam um bacanal. Convidados, todos masculinos, revezaram-se sobre a firme prometida. Mais tarde, os pombinhos brigaram.

Atritos entre casais acontecem, declara Thaís Jacomossi, 30, uma das proprietárias do Inner. O ciúme é perigoso, continua ela, pode brotar a qualquer momento. "Dou uma dica a duplas: antes de virem para curtir, venham para conhecer. Depois, conversem sobre. Tudo funciona quando combinado."

Swing não é baderna, dizem os organizadores. Há regras para o pleno funcionamento do evento. Homens devem estar de calça e camisa a todo o momento. Pênis são liberados somente tendo onde colocá-los, e com camisinhas, vendidas a rodo. Já mulheres são incentivadas a transitarem nuas, recebendo olhares vorazes dos esposos alheios.

De maneira subjetiva, outra norma impera: o auge da libertinagem deve ocorrer após à 1h, quando é realizado um espetáculo de striptease com pole dance ou uma exibição de sexo explícito na pista de dança. Qualquer das opções deixa os frequentadores em polvorosa.

A discrição é tudo para a unida comunidade do swing. Ninguém aspira ter vazada sua agitada vida sexual. Por isto, celulares e câmeras fotográficas são estritamente proibidos. Empreendimentos oferecem ainda entrada privativa pelos fundos a fim de evitar flagrantes.

Há, porém, uma tribo despreocupada em ser avistada: os solteirões. Ardilosos, eles estão sempre à espreita —com dotes erguidos— e aproveitam qualquer brecha para intentar uma rapidinha. Por vezes, causando perturbação. Em vista disso, convenção coletiva dos proprietários de clubes tenta controlar a população em seus territórios.

São cobrados valores exorbitantes para ingresso deles. No Inner, R$ 640. É quase o triplo do cobrado a pares, R$ 215. Já mulheres desacompanhadas pagam R$ 90. Mesmo assim, os inuptos comparecem em peso.

A tentativa corrente é permitir um homem solteiro para cada sete casais. Perder a contagem é fácil, então muitos são barrados e explosivamente expõem seu descontentamento. A proprietária Jacomossi apoia irrestritamente a medida. Caso todos entrassem, ficariam batendo bunda, diz.

A "picuinha" desanima o motorista José Antônio. Ele afirma já ter levado muitas acompanhantes ao local, mas preferir a aventura solo. "Gasto muito, me divirto ainda mais. Coisa melhor que o swing nunca foi criada. Muito menos swing como o Inner."

Fundado em 1999, o clube funcionou em Moema, também na zona sul de São Paulo, até fevereiro deste ano. A necessidade de um novo endereço surgiu pela demanda. Atualmente, o imóvel comporta 2.500 pessoas. O funcionamento é de terça a domingo, das 21h ao nascer do Sol.

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