Como são os prédios que governo Tarcísio vai entregar para atingidos no litoral de SP

Seis meses após tragédia em São Sebastião, 30% das habitações de madeira prometidas estão prontas, e entrega é prevista para outubro

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São Sebastião

No canteiro de obras enlameado às margens da rodovia Rio-Santos, um guindaste era preparado para içar um telhado inteiro ao topo do prédio de quatro andares. Como se fosse um brinquedo de montar, o edifício pré-fabricado fica pronto com método e rapidez ainda pouco conhecidos no país.

Um terço dos 30 prédios em construção na Baleia Verde, em São Sebastião (SP), está pronto. As 518 unidades habitacionais, entre as quais há 38 casas, são destinadas a famílias que perderam a moradia ou têm imóveis em situação de risco agravado após os deslizamentos de terra que mataram 65 pessoas no litoral norte de São Paulo em 19 de fevereiro.

Imagem aérea mostra dez prédios prontos. Ao fundo é possível ver o mar e montanhas
Prédios estruturados com quadros de madeira revestidos com placas de cimento no canteiro de obras da Baleia Verde, em São Sebastião (SP) - Bruno Santos/Folhapress

Comum na Europa, Estados Unidos e Canadá, a tecnologia que usa quadros de madeira —o nome em inglês é "wood frame"— no lugar de paredes de alvenaria foi a solução encontrada pela gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para dar uma resposta mais rápida à crise habitacional após a tragédia. Um modelo que o estado estuda ampliar para enfrentar o déficit de moradias no litoral e em outras regiões, disse um integrante do governo da área de habitação.

A Folha entrou em unidades em construção no canteiro onde 79% da infraestrutura no solo, como as lajes de concreto e ferro das fundações rasas, está pronta, além de 27% dos prédios concluídos. Segundo o governo, o ritmo é suficiente para a entrega até o final de outubro, antes do início da temporada de chuvas.

Quando pronta, a construção fica muito parecida com a de alvenaria tradicional devido às placas de cimento que revestem o lado de fora dos módulos estruturados com madeira embebida em produtos químicos. Revestimento e tratamento, assim como membranas plásticas, são alguns dos recursos que tornam os edifícios resistentes à chuva e ao calor do litoral, explica William Costa, engenheiro da construtora Tecverde e gestor do contrato com a CDHU, a companhia de habitação do governo paulista.

Por dentro, as unidades com pouco mais de 40 metros quadrados têm paredes com acabamento em gesso e piso de cerâmica. A distribuição de cômodos é semelhante aos milhares de pequenos apartamentos lançados pelo mercado imobiliário recentemente em grandes centros urbanos. Cozinha, área de serviço, sala, banheiro e dois quartos, todos com janelas de alumínio emborrachadas nas bordas para reduzir o ruído do exterior.


Vídeo: Veja como é um apartamento por dentro


Laje e paredes também têm tratamento acústico. Apesar das dezenas de trabalhadores caminhando pelos andares, o interior era relativamente silencioso.

Moradores da Vila Sahy, local que foi amplamente o mais afetado pelos deslizamentos, disseram à reportagem que têm medo de trocar suas casas de alvenaria na encosta do morro por prédios de madeira, mesmo em uma área plana. Preferiam ir para algum dos 186 apartamentos tradicionais cujas obras no bairro Maresias estão igualmente avançadas.

Para a engenheira-civil Lisiane Ilha Librelotto, professora nos cursos de arquitetura e urbanismo na área de novas tecnologias da Universidade Federal de Santa Catarina, as construções em wood frame podem ser tão seguras quanto qualquer outro método construtivo certificado.

Conhecida pela sigla NBR, a norma brasileira para o wood frame foi publicada em julho, conta a professora. Ela afirma que isso significa que o país já conta com mão de obra e fornecedores em quantidade suficiente para a aplicação em larga escala da tecnologia.

A Tecverde diz já ter produzido 7.000 unidades em modelo semelhante ao contratado pela CDHU, considerado mais sustentável e barato, por usar recursos renováveis. Outras empresas também estão entrando nesse mercado.

Assim como edificações de alvenaria, os prédios com quadros de madeira precisam de manutenção preventiva após cinco anos. Pode haver a necessidade de reparo no revestimento ou em algum dos muitos perfis de madeira maciça no interior das paredes. É por isso que é tão importante que o país já tenha uma norma aprovada para essa tecnologia.

Librelotto diz que a parte mais difícil pode ser a adaptação dos usuários à nova moradia. "Não é um tipo de construção em que se recomenda fazer a limpeza jogando baldes de água no piso", diz.

A instalação de armários suspensos deve ter os suportes presos exatamente nas partes de madeira maciça. "Não pode sair furando em qualquer lugar da parede", explica. Os usuários deverão receber um manual e orientações.

O investimento nas ações de habitação do estado na crise do litoral norte soma R$ 210 milhões, dentro de um montante de R$ 800 milhões para recuperação da infraestrutura e retomada econômica e social, informou o governo.

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