Dias antes de morrer, em 11 de julho, Carlos Rodrigues Brandão escreveu uma carta aos amigos. "O melhor de mim são os outros", dizia o preâmbulo, a traduzir como o homem viveu por 83 anos: com e para seus amados.
Nascido em 14 de abril 1940 em Copacabana, Rio de Janeiro, Brandão era psicólogo por formação.
De 1976 a 1997, foi professor permanente do departamento de antropologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Ministrou disciplinas na graduação e na pós-graduação em áreas como religião, cultura popular e teoria antropológica.
Por ele, foram formados vários intelectuais. Estes, invariavelmente, tornaram-se não só qualificados colegas, mas também estimados amigos. Com eles, compartilhou calorosos abraços, o gosto pelo sertão, piadas espertas e as delicadezas da vida.
Definia-se como um militante-ativista. Para o professor, ensinar e aprender eram ações coletivas e indissociáveis. A inspiração pedagógica vinha de Paulo Freire, quem conhecera em 1980 e com quem cultivou intensa amizade e admiração.
Célebre frase atribuída a Freire, inclusive, partiu de Brandão: "A educação não muda o mundo. A educação muda as pessoas. As pessoas mudam o mundo".
Mesmo aposentado, continuou a atuar como professor colaborador nos programas de pós-graduação em antropologia e do doutorado em ciências sociais da Unicamp. Foi ainda docente visitante em várias instituições em todo o mundo.
Recebeu vários prêmios. Em 1998, foi contemplado com título de Comendador do Mérito Científico pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Em 2006, agraciado com a medalha Roquette Pinto da Associação Brasileira de Antropologia.
Já em 2008 e 2010, recebeu os títulos de doutor honoris causa pelas universidades federais de Uberlândia e de Goiás. Em 2015, tornou-se professor emérito da estadual de Campinas.
Foi ainda autor de inúmeros livros sobre comunidades tradicionais e populações rurais, além de profundas aventuras em contos e poesias.
"Brandão me levou para a antropologia e para a Unicamp. Mudou minha vida como, tenho certeza, mudou a vida de um tantão de gente. Bondoso, simples, generoso e alegre, ele sempre tinha uma palavra boa. Era grande teórico de uma educação para a liberdade e escrevia como bardo", afirmou a historiadora Lilia Schwarcz, 65.
Carlos Rodrigues Brandão tratava leucemia. Ele deixa dois filhos e três netos.
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