Ela se casou com 16 anos e a vida toda se dedicou à família. Precisou esperar a fase adulta para terminar seus estudos. O valor da independência feminina foi algo que Maria do Rosário Pinho lutou para ensinar a suas cinco filhas, que criou para serem fortes e independentes.
"Apesar de não trabalhar fora, ela sempre nos incentivou a trabalhar e ter nossa independência financeira, o que ela julgava de suma importância", conta a filha, Elisabete Cassiano.
Para isso, todas aprenderam o ofício do pai, comerciante. Dono de uma padaria, levou as filhas desde cedo para o trabalho e quatro delas se tornaram empresárias do ramo; a outra escolheu medicina. "Hoje exercemos nossas profissões com muito orgulho", diz Elisabete.
Ela conta que a mãe nasceu em Carmo do Rio Claro (MG), em uma família de nove irmãos. O pai era luthier (profissional que constrói e repara instrumentos de corda), e a mãe, dona de casa.
Ainda na infância, Maria foi para São Paulo e morou no Jaçanã, na zona norte, onde conheceu seu marido, o português Antônio da Silva Pinho. Ao lado dele, descobriu que adorava comer torresmo com bacalhau. "A gente brincava que era uma mistura de Minas Gerais com Portugal."
Mulher firme e cuidadosa, Maria ajudou ainda a criar os netos. Em sua casa, a despensa estava sempre abastecida, para o caso de alguém aparecer com fome. "Ela também gostava muito de tomar cerveja. Estava sempre feliz se tinha um copo de cervejinha acompanhando", lembra a filha.
Maria adorava tricotar, em especial roupinhas de bebê. Gostava também de dirigir e sempre mantinha em ordem a conta do banco. "Nunca no vermelho."
Para distrair Mariazinha, como a chamavam, nada como uma boa novela ou as músicas de Roberto Carlos. Para morar, ela gostava do bairro do Tucuruvi, também na zona norte, onde dizia ser "o seu pedaço".
A filha recorda das poucas viagens que a família fazia à praia, com seu Fusca. "Ela na frente com meu pai e nós no banco de atrás, quase uma em cima da outra. Passávamos na padaria para buscar o lanche, porque não havia dinheiro para restaurante. Era pão com mortadela", recorda Elisabete.
Certo dia, a família encontrou dinheiro na praia. Com ele deu para comprar dois guarda-sóis, duas cadeiras e uma prancha de isopor. "Isso foi uma alegria. Ela ficou toda feliz de poder dar algum conforto na praia para nós."
Maria do Rosário morreu em 9 de julho, aos 80 anos, de insuficiência cardíaca. Ela deixa dois irmãos, cinco filhas e sete netos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.