Descrição de chapéu violência

Queremos prender, não tirar vida, diz governador da Bahia após 31 mortes pela polícia

Jerônimo Rodrigues (PT) se classificou como um "governador dos direitos humanos" e disse que vai fiscalizar as polícias

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Salvador

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) comentou na manhã desta quarta-feira (9) os episódios de violência policial em operações que causaram a morte de 31 pessoas e resultaram em uma série de críticas ao governo.

Em uma cerimônia de entrega de 78 novas viaturas para a Polícia Militar no Farol da Barra, em Salvador, o petista prometeu fiscalizar a atuação das polícias, disse que sua orientação é por uma atuação das tropas dentro das balizas da lei e que há um esforço para que cada operação seja bem-sucedida, com a prisão de pessoas que cometem violência.

Jerônimo e policiais fardados mostram chaves das viaturas
Governador Jerônimo Rodrigues (de terno) entrega novas viaturas à Polícia Militar em Salvador - Rafael Martins / GOVBA

"Nós queremos prender [os suspeitos de crimes], a ordem nossa não é tirar a vida de ninguém [...] Nós vamos cuidar da polícia, vamos cuidar da segurança pública em seu conceito mais amplo que é o de direitos humanos", afirmou em entrevista à imprensa o governador.

Jerônimo Rodrigues ainda classificou a si mesmo como um "governador dos direitos humanos" e citou a sua ascendência negra e indígena para afirmar não deixará de fiscalizar possíveis abusos da polícia.

"A gente não abre mão do lugar da gente. Eu, enquanto um governador dos direitos humanos, um governador negro, índio, eu não posso abrir mão do lugar de fiscal. Não é só na condição de governador, é na condição que eu trouxe e trago na minha história", declarou.

Jerônimo disse que conversou com o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e com a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, sobre os episódios de violência policial na Bahia.

Afirmou que não tem problemas em receber críticas quando estas "acontecem de forma construtiva" e disse reconhecer o papel dos ministros em cobrar o governo da Bahia em casos de violência policial.

A Bahia é estado com maior número absoluto de mortes violentas do Brasil desde 2019. No ano passado, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o estado teve uma queda de 5,9% no nas ocorrências, saindo de 7.069 casos em 2021 contra 6.659 no ano passado.

No mesmo evento em Salvador, o secretário de Segurança Pública, Marcelo Werner, prometeu implantar câmeras corporais no fardamento dos policiais até o final deste ano.

O governo está com licitação em andamento para a compra dos equipamentos. A empresa vencedora do certame foi desclassificada após irregularidades nos documentos obrigatórios. A segunda colocada no pregão foi convocada e terá a sua documentação avaliada.

Em 27 de julho, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou a doação de câmeras para uniformes de policiais na Bahia.

A Bahia vive uma escalada de casos de violência policial nas últimas semanas. Foram registrados em julho 64 mortes em ações policiais, segundo levantamento do Instituto Fogo Cruzado. O número é recorde desde julho de 2022, quando a entidade começou a monitorar a violência na Bahia.

Em ao menos quatro episódios, foram registradas pelo menos cinco mortes em cada ação policial. Em todos os casos, a Polícia Militar afirmou que houve confrontos com bandidos e que reagiu ao ser recebida com tiros ao entrar em comunidades para apurar denúncias de tráfico de drogas.

Os casos estão sendo investigados pela Polícia Civil. O Ministério Público do Estado da Bahia abriu investigações para apurar as causas e circunstâncias das mortes.

Em 29 de junho, sete pessoas foram mortas em uma ação da polícia em Jauá, praia da cidade de Camaçari. A polícia informou que eles eram membros de uma facção criminosa e se preparavam para atacar um grupo rival.

Dois dias depois, uma ação da Polícia Militar realizada na zona rural de Itatim, cidade de 15 mil habitantes a 213 km de Salvador, deixou um saldo de oito pessoas mortas, incluindo três adolescentes.

Na última sexta-feira (4), cinco pessoas foram mortas pela polícia no bairro do IAPI em Salvador, em uma ação que também deixou um policial ferido. Outros cinco homens foram mortos no mesmo dia em ação no bairro de Águas Claras, também na capital baiana.

Também foram registrados casos de pessoas sem antecedentes criminais feridas em ações da polícia. Na segunda-feira (31), o jogador de futebol Alessandro Miranda Santos, o Pantico, foi baleado na perna em Lauro de Freitas. Na quinta-feira (3), um músico foi ferido no Nordeste de Amaralina.

Em 23 de julho, uma criança de dez anos foi morta com uma bala perdida em meio a uma ação policial em Lauro de Freitas. A morte de Gabriel Silva da Conceição Júnior gerou comoção na comunidade e desencadeou uma série de protestos.

A polícia baiana não contabiliza os casos de mortes causadas por policiais nos indicadores de mortes violentas do estado.

Em nota divulgada em 21 de julho, o governo explicou que "não coloca homicídio, latrocínio ou lesão dolosa seguida de morte praticado contra um inocente na mesma contagem dos homicidas, traficantes, estupradores e assaltantes, entre outros criminosos, mortos em confrontos durante ações policiais".

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