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Jovem cria chip para mulher vítima de violência pedir socorro

Dispositivo em fase final de desenvolvimento pode ser escondido em relógio ou outro acessório e notifica pessoas de confiança

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São Paulo

No passado, Nice era uma mulher vítima de violência doméstica. Hoje, Nice é o nome de um chip com inteligência artificial para proteger mulheres da violência doméstica. Fixado em um relógio, um pingente ou em um outro acessório, o dispositivo, ao ser acionado com um toque, manda avisos para pessoas de confiança da vítima.

A história de Nice, o chip, começou na pandemia. Em meio à explosão da violência doméstica, Mateus de Lima Diniz, então com 20 anos, lançou um aplicativo, o Todas Por Uma, com o qual as mulheres, ao balançar o celular, enviam pedidos de socorro.

Mateus conhecia esse drama porque, quando criança, havia presenciado a mãe, Nice, ser vítima de violência doméstica. Na adolescência, Mateus começou a elaborar o aplicativo, que desenvolveu como trabalho de conclusão de curso na Etec (Escola Técnica Estadual) Prof. Horário Augusto da Silveira, na zona norte de São Paulo.

Mateus de Lima Diniz segura o chip Nice, criado por ele, com o qual mulheres vítimas de violência conseguem pedir socorro - Bruno Santos/Folhapress

A ideia, explica o seu criador, era entrar na casa do agressor sem que ele perceba. Por isso, o aplicativo, ao ser aberto, mostra na tela uma publicidade falsa. Quando a vítima de violência balança o celular, as pessoas previamente cadastradas por ela são notificadas. Esses contatos são chamados de anjo e, além do aviso de perigo, recebem a localização da vítima em tempo real, atualizada a cada 30 segundos.

Lançado em setembro de 2020, o Todas Por Uma virou tema de reportagens em telejornais e fez sucesso. Três anos depois, Mateus conta à Folha que o aplicativo está presente em 30 países, como Estados Unidos, Canadá, África, Colômbia e Portugal, é utilizado por 85 mil mulheres e já realizou 1.500 notificações de violência.

No ano passado, o aplicativo venceu o ExpoFavela, prêmio voltado a empreendedores e startups de favelas. A fase final da escolha teve formato de reality show no programa É de Casa, da Globo, e Mateus ganhou R$ 80 mil para impulsionar o seu projeto.

O plano agora é lançar Nice como uma evolução do aplicativo. "A Nice vai funcionar como uma assistente de inteligência artificial para ajudar as mulheres a pedirem socorro de forma ainda mais discreta", diz Mateus. "Ela vai conectar as informações do app ao chip que estará em um acessório da mulher, e isso reforça a segurança, porque, muitas vezes, as vítimas têm o celular retirado delas pelos agressores", explica.

Segundo Mateus, "o principal papel da Nice é evitar o feminicídio, porque possibilita que a mulher peça ajuda quando tudo é retirado dela pelo agressor, até o wi-fi". Nesse caso, o chip busca redes de wi-fi de vizinhos, previamente cadastradas, ou públicas.

Nice está na fase final de desenvolvimento, e a busca é para que o chip fique com o menor tamanho possível, de forma que seja imperceptível nos acessórios da mulher.

O lançamento da Nice deverá ocorrer simultaneamente ao de um projeto para empresas do Todas Por Uma. Empresas que se tornarem parceiras poderão oferecer em seu próprio aplicativo um botão de socorro conectado ao Todas por Uma.

Além disso, a parceria prevê treinamento aos funcionários para sensibilizá-los sobre a violência contra a mulher, tanto no ambiente doméstico quanto no corporativo. O programa também incentiva que as empresas contratem mulheres, especialmente aquelas que são vítimas de violência.

"No Brasil, 52% das mulheres vítimas de violência não denunciam o agressor porque dependem dele financeiramente", diz Mateus. "Proporcionar a elas a independência financeira também é uma maneira de prevenir a violência", afirma.

Estudantes desenvolvem bengala com sensor

Mateus tem participado de eventos para falar do uso da tecnologia para ajudar as pessoas e, no final de julho, esteve na Campus Party, em São Paulo, festival de ciência e tecnologia no qual estudantes apresentam projetos. Um deles, também de alunos da Etec, é uma bengala com sensor para ser utilizada por pessoas com deficiência visual.

Criada em sala de aula por estudantes do 2º ano do ensino médio, a bengala vibra quando se aproxima de obstáculos. "Foi um projeto que envolveu eletrônica e robótica, e utilizamos materiais recicláveis", conta Luana Sanches, 16, uma das integrantes do grupo que criou a bengala, da Etec Prof. Massuyuki Kawano, de Tupã, interior de SP. "Nosso objetivo é facilitar a vida daqueles que têm deficiência visual e também dificuldade para movimentar os braços. A pessoa não precisa ficar mexendo a bengala o tempo topo para procurar obstáculos, o sensor faz isso por ela", explica.

O próximo passo é melhorar a atuação do sensor, que, por enquanto, detecta apenas obstáculos à sua frente. "Precisamos ampliar para um raio de 180°, e será também um desafio fazer com que o sensor avise quando houver um buraco no caminho."

O projeto da bengala teve orientação da professora de matemática Kimberly Fagundes Bezerra, 24, que explica que o grupo se aprimorou em lógica, programação e na solução de problemas. "Isso sem falar do quanto todos se engajam no aprendizado."

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