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Museu de Curitiba cria sala projetada para pessoas com autismo

Espaço busca oferecer conforto acústico e visual e fazer uma transição para as alas com trabalhos artísticos

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Helena Carnieri
Curitiba

"Agora eu consigo visitar o museu inteiro sem precisar ir embora". Assim Árie Lingnau, 20, estudante de letras na Universidade Federal do Paraná definiu à Folha a experiência, como autista, de visitar o MON (Museu Oscar Niemeyer), em Curitiba.

Ele estava sentando em um nicho redondo acolchoado, em tons verdes, na SAS (Sala de Acomodação Sensorial), antes de visitar parte do acervo. O espaço foi criado para pessoas neurodivergentes como Lingnau.

duas crianças sentadas em banco de madeira em sala clara observam seis telas com cores azul, vermelha amarela e verde
Clarice e Mariah na exposição do Museu Oscar Niemeyer; museu de Curitiba criou sala de acomodação sensorial para apoio de pessoas neurodivergentes - Leticia Moreira/ Folhapress

Pessoas neurodivergentes são as que possuem um funcionamento cerebral diferente do que é considerado típico. Pode ser por questões sociais, de percepção do ambiente, de comunicação ou de aprendizado, entre outros, explica a arquiteta Marina Pasetto Baki, 31.

Ela recebeu o diagnóstico de autista aos 26 anos, quando já trabalhava no museu. Hoje, integra o núcleo de acesso e participação do MON.

Estão neste perfil de neurodivergentes, por exemplo, os autistas, pessoas com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) e as com dislexia.

A SAS funciona como uma espécie de sala de transição de uma ala para outra. No espaço, de fácil acesso no museu, o visitante pode experimentar um conforto acústico, mais silencioso, para absorver o impacto causado ao observar e sentir as obras da sessão anterior, enquanto se prepara para as próximas experiências no museu.

Ao menos cem pessoas já puderam desfrutar da SAS desde sua criação, em junho de 2022.

Lingnau, que participa de um coletivo de autistas na faculdade e gosta de frequentar locais expositivos, explica a vantagem do espaço.

"Esse quadro me deu dor de cabeça", diz o estudante, ao indicar para um quadro de azul intenso, da exposição da artista Leila Pugnaloni. "Antes eu iria embora, mas agora [com a SAS] a visita ao museu é mais fácil para mim."

Segundo a arquiteta Baki, a cores da sala também foram pensadas para o conforto. "Escolhemos a cor verde porque é uma cor mais neutra e tende a ser mais relaxante. As duas cores usadas, rosa e verde, são em tons pastéis, que tendem a ser menos incômodos para as pessoas autistas, apesar de não ser uma característica universal."

Também o mobiliário da sala tenta oferecer esta possibilidade de pausa. "Muitas salas trazem ainda mais estímulos. Nós optamos por prover almofadas, cadeira de balanço, um espaço onde a pessoa pode se movimentar com segurança, para se regular e voltar à visita", diz Baki.

dois meninos e uma menina estão sentados em poltronas e bancos em tom verde, em sala com paredes rosas
Bernardo Gomes Bergonese, 19, Julia Malc Barbosa, 20 e Árie Lingnau, 20, na sala de acomodação sensorial do museu Oscar Niemeyer - Letícia Moreira/Folhapress

Conforto e segurança que os irmãos Davi (autista e com TDAH), 8, Mariah (com epilepsia), 5, e Clarice Bednarski (autista com apraxia da fala), 2, usaram a todo vapor em visita ao museu no último dia 5.

Já dentro da exposição de Pugnaloni, Davi pediu à mãe para voltar para sala de acomodação, antes de ir para casa.

"Ele ficou agitado com as cores da exposição, além de ter visto muitas pessoas que não conhece, o que representa uma sobrecarga sensorial, e então quis voltar para as cores mais calmas", conta a mãe, Luana de Abreu Bednarski. "O aconchego do colchão, o desenho arredondado, o balanço da cadeira, deitar e rolar nas almofadas, além da iluminação suave, tudo isso traz uma acomodação sensorial e tátil e os acalma eles."

Para Bernardo Gomes Bergonse, 19, os quadros expostos capturaram sua atenção, "principalmente os que têm equações e fórmulas de matemática". "Caras como eu, além de arte, curtem bastante cálculos e ciências", disse à reportagem.

A colega Júlia Malc Barbosa, 20, também autista e que estuda artes visuais, conta que está escrevendo e ilustrando um livro sobre inclusão. "Gostei muito da visita e quero ser artista e ajudar a todos os autistas."

Professor de artes dos dois, especialista em TEA (Transtorno do Espectro Autista) e TDAH, Nilson Sampaio destacou que a visita ao museu ajuda na comunicação e no desenvolvimento cognitivo e motor.

Outra ferramenta benéfica para pessoas neurodivergentes são os cordões de girassóis, que servem para identificá-los.

Já foram distribuídos cerca de 800 dos cordões no MON. Além disso, todas as salas expositivas trazem um aviso na entrada caso haja estímulos sensoriais fortes.

Também foram criados no MON a narrativa visual, um passo a passo online do que o visitante pode esperar na visita, e o mapa sensorial, que ilustra quais são os estímulos mais prováveis de serem encontrados ali.

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