Imigrante paraguaia e cinco filhos dormem em rodoviária de Fortaleza

Artesã veio para o Brasil há pouco mais de um ano e agora tenta voltar para seu país

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Salvador

Há quatro dias, a artesã Diana Rafaela González, 29, repete o ritual ao anoitecer: estende uma manta no chão do terminal rodoviário de Fortaleza e ali se deita para, entre malas e sacolas, dormir emaranhada com os seus cinco filhos.

Durante o dia, faz pulseiras, colares e peças místicas como filtros dos sonhos com cordões e tenta vender a comerciantes e passageiros que percorrem com pressa os saguões da rodoviária da capital cearense. Sua meta é voltar com os filhos para Capiatá, cidade que fica nos arredores de Assunção, no Paraguai.

Diana Rafaela, 29, dorme há quatro dias com os cinco filhos na rodoviária de Fortaleza e tenta voltar para o Paraguai - Arquivo Pessoal

Diana emigrou do Paraguai em agosto do ano passado em busca de uma melhor qualidade de vida para a família. Veio para o Brasil de ônibus, acompanhada do marido e dos cinco filhos do casal, um deles recém-nascido.

A vinda para o Brasil foi uma dica de uma amiga, também paraguaia, que havia imigrado para o Maranhão. O estado seria o destino da família, que acabou se estabelecendo em Camocim, cidade do noroeste do Ceará, com as crianças que hoje têm 11, 10, 8, 2 e 1 ano.

O casal alugou uma casa e se sustentava com o dinheiro que ganhava com a venda de artesanato. Mas Diana e o marido se desentenderam após frequentes episódios em que ele teria abusado do álcool.

"Ele estava causando muito problema, não queria trabalhar e começou a ficar violento com a bebida. Ele não chegou agredir, mas preferi me afastar logo e nos separamos", conta Diana, que afirma ter perdido o contato com o ex-marido.

A separação fez com que ela decidisse voltar para o Paraguai, onde teria o suporte da família para cuidar dos cinco filhos. Conseguiram embarcar há quatro dias para Fortaleza, onde chegaram sem dinheiro para comprar uma nova passagem e rumar de ônibus em direção ao Paraguai.

Na rodoviária, Diana conta que teve o apoio de comerciantes, que trocavam artesanato por lanches para ela e para os filhos. Dormia em uma manta estendida no chão do saguão do terminal, ao lado de uma lanchonete, e se desdobrava para trabalhar ao mesmo tempo que tomava conta dos filhos.

"Trabalhei direto, e sempre em companhia dos meninos, o que deixa tudo mais difícil. Como não conheço as pessoas, não deixo meus filhos com ninguém", afirmou.

Diz ter conseguido juntar R$ 300 com a venda das bijuterias em três dias, mas acabou tendo a sua bolsa furtada na madrugada desta sexta-feira (13). Além do dinheiro, perdeu os documentos dela e dos filhos.

Sem ter a quem recorrer, acionou veículos de comunicação locais com o apoio dos comerciantes da rodoviária.

Após a publicação das reportagens, recebeu uma oferta de abrigo provisório em uma casa em Fortaleza. Com a ajuda do conselho tutelar, conseguiu o transporte para ir com os filhos até o local.

Nos próximos dias, pretende trabalhar para reaver o dinheiro perdido e conseguir comprar as passagens para deixar Fortaleza com a família. O objetivo inicial é conseguir chegar ao Paraná, de onde pretende juntar mais dinheiro para cruzar a fronteira voltar a sua cidade no Paraguai.

"Se eu pudesse, ficaria aqui. O Brasil é bom, mas aqui não tenho família, não tenho como conseguir criar cinco filhos. Seria muito difícil", conta Diana.

Ela ouve um chamado de um dos filhos e pede desculpas para desligar o telefone. Logo voltaria ao trabalho entre cordas e arames, arrodeada dos filhos, em busca da volta para casa.

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