Descrição de chapéu violência

Polícia prende 6 de 100 alvos, tem helicópteros baleados e fala em ação 'exitosa' no Rio

Operação para prender suspeitos de ligação com assassinato de médicos teve mil agentes na Maré, Penha e Cidade de Deus. Governo diz que deu prejuízo de R$ 15 mi em facção

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro

A operação que as forças de segurança realizaram nesta segunda-feira (9) em comunidades do Rio de Janeiro tinha como objetivo cumprir 100 mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho, segundo a Polícia Civil, mas apenas 6 foram de fato cumpridos.

Apesar do número, José Renato Torres, secretário da Polícia Civil, disse que a ação foi bem-sucedida.

"Toda a atividade de inteligência integrada está tentando identificar os demais integrantes dessa quadrilha. Não é por números que a gente mede se a operação foi profícua ou não", afirmou. "Eu considero a operação extremamente exitosa", acrescentou.

Policiais em operação no Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro, nesta segunda (9) - Eduardo Anizelli/Folhapress

Segundo ele, a ação gerou um prejuízo de R$ 15 milhões à facção criminosa. Esse valor é calculado pela Polícia Civil com base nas apreensões da operação e na desarticulação de dois laboratórios de refino de cocaína, encontrados na Nova Holanda e no Parque União, duas comunidades da Maré.

"O resultado de mais de R$ 15 milhões de prejuízo é um grande indicador de que a operação foi boa", afirmou o secretário. "Mais do que presos, o importante é mexer, como a gente fala, no bolso. Seguir o dinheiro. E é isso que a gente tenta desarticular essas quadrilhas" disse Torres.

Policiais ouvidos pela Folha também afirmaram que consideraram um sucesso a operação pela ausência de feridos. Um delegado que coordenou a ação disse que o prejuízo financeiro é importante para desarticular a mobilidade dos traficantes e, assim, conseguir prendê-los.

As polícias Civil e Militar realizaram as ações simultâneas em diferentes comunidades do Rio —Maré, Penha e Cidade de Deus— para cumprir os mandados, entre os quais os que tinham como alvo os suspeitos de terem ligação com o assassinatos a tiros de três médicos em um quiosque na Barra da Tijuca, na zona oeste, na semana passada.

Mais cedo, Torres disse que o setor de inteligência havia constatado que os alvos da ação na Maré tinham fugido para outros locais e que, por isso, foi necessário expandir a operação.

"Foi detectado que os chefes dessa comunidade [da Maré], que pertencem à mesma facção, migraram pesadamente para Vila Cruzeiro e para Cidade de Deus. Por acaso reduto dos marginais que saíram para matar os médicos na Barra da Tijuca", afirmou.

Questionado sobre a possibilidade de as forças de segurança expandirem incursões para outras comunidades além das que já foram afetadas, o secretário disse apenas que haverá desdobramentos.

Ao todo, nove pessoas foram presas na operação —além das seis contra as quais havia mandado de prisão, três foram detidas em flagrante. Foram apreendidos ainda um fuzil, explosivos, munição e carregadores, além de 100 kg de pasta base de cocaína e mais de meia tonelada de maconha e drogas sintéticas. Os agentes também apreenderam 33 veículos, entre carros e motos. Segundo o governo de Cláudio Castro (PL), mil policiais atuaram na operação.

Durante a ação desta segunda, dois helicópteros da polícia foram atingidos por tiros. As aeronaves tiveram que pousar, e um policial civil ficou ferido ao ser atingido por estilhaços. Um dos helicópteros voltou a operar após o ataque, segundo o governo do estado.

As aeronaves sobrevoavam a Vila Cruzeiro, na Penha. O helicóptero da PM foi atingido no vidro da frente, e o da Civil, no tanque de combustível. Os dois pousaram em um terreno que pertence à Marinha, na avenida Brasil.

Entre os presos em flagrantes está um policial militar que foi encontrado com cerca 100 kg de cocaína nas proximidades do complexo da Penha.

A droga estava em um caminhão-baú, monitorado pela Polícia Civil. De acordo com investigadores, Yuri Luiz Desiderati Ribeiro, lotado no 27º BPM (Santa Cruz), pretendia levar a droga para a Penha, mas, por causa da operação, ficou com o veículo parado na avenida Brasil. Até a noite desta segunda, não havia a informação se ele tinha advogado. Um outro suspeito também foi preso.

Ainda segundo policiais, o PM seria um dos homens de confiança de Wilton Quintanilha, o Abelha, apontado como um dos chefes do Comando Vermelho que atua nos complexos do Alemão e da Penha.

Abelha inclusive era uma das cem pessoas com mandado de prisão decretado, mas que não foi encontrada pelos agentes. Outras pessoas suspeitas de liderarem o tráfico na região também não foram achadas, como Rodrigo da Silva Caetano, o Motoboy, e Edgar Alves de Andrade, o Doca ou Urso —suspeito de determinar a morte dos homens apontados como os assassinos dos três médicos.

MORTE DE MÉDICOS

O crime aconteceu na madrugada da última quinta (5), em frente ao Windsor Hotel, área nobre da Barra da Tijuca. Toda a ação durou 27 segundos e foi registrada por câmeras de segurança.

Os ortopedistas Marcos de Andrade Corsato, 62, Diego Ralf de Souza Bomfim, 35, Perseu Ribeiro Almeida, 33, e Daniel Sonnewend Proença, 32, aparecem sentados em uma mesa do quiosque quando três homens descem de um carro branco parado do outro lado da via e começam a atirar no grupo. Somente Proença sobreviveu.

Após balearem os quatro ocupantes da mesa, os criminosos voltam correndo para o veículo e vão embora sem roubar nada. Uma testemunha que estava no local e prestou depoimento afirmou que não houve anúncio de assalto antes dos disparos.

A principal linha de investigação é a de que um dos médicos foi confundido com um miliciano rival ao grupo de atiradores.

Com o erro constatado e a repercussão, os traficantes teriam feito um "tribunal do tráfico". O chefe do Comando Vermelho na Penha, Edgar Alves, o Doca ou Urso, teria ordenado a morte de todos e avisado a polícia por intermédio de informantes, de acordo com investigadores. Os corpos foram encontrados na zona oeste.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.