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Ressaca do mar desenterra baleias e afeta quiosques no litoral

Em Ilha Comprida foram cinco encalhes em 2023; água já se aproxima das casas de ribeirinhos na Ilha do Cardoso, em Cananeia

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Santos

A persistente ressaca dos últimos dias no litoral sul paulista destruiu quiosques e derrubou árvores na Ilha do Cardoso, em Cananeia, e desenterrou baleias mortas, já em estado de decomposição, em Ilha Comprida.

As baleias já sem vida encontradas em agosto foram desenterradas pela ressaca entre o fim do mês passado e começo deste mês. Uma terceira carcaça também foi registrada no início deste mês e enterrada novamente.

"Foram dois quiosques que vieram abaixo na maré alta, além de árvores da restinga na transição para a mata que caíram", diz Sérgio Carlos Neves, morador desde que nasceu, há 48 anos, na comunidade Pereirinha/Itacuruçá da Ilha do Cardoso.

foto de carcaça de baleia em areia da praia
Carcaça de baleia encontrada morta em setembro, já em estado de decomposição em Ilha Comprida, no litoral sul de SP - Gabriel Matheus/Ipec

Neves também é monitor do IPeC (Instituto de Pesquisas Cananeia) e tio dos donos dos quiosques atingidos. Foram ao menos dois afetados na praia de Itacuruçá.

"Meus pais contavam que, antigamente, ocorria uma ressaca dessas a cada sete anos. Até chamavam de ‘ressaca-preguiça’", lembra ele. "Hoje temos de três a cinco anualmente. Essa última durou uma semana entre o final de setembro até começo de outubro".

"Em 15 minutos foi tudo", conta Tiago das Neves, dono de um dos quiosques. "Nem tivemos tempo de desmontar para aproveitar a madeira depois. O que conseguimos foi tirar a geladeira."

É o quarto quiosque que Neves diz perder para a violência das águas —dessa vez, na ressaca que começou sob neblina e se prolongou a partir da madrugada de 27 de setembro. Outros dois foram destruídos também em 2023 e o primeiro há alguns anos.

O jeito foi montar um restaurante no quintal de casa. O problema é que já existe o temor de as águas também atingirem a residência no futuro.

"Fiz agora barreira de contenção com galhos e sacos de areia. Não posso usar tijolo por causa da nossa lei de conservação ambiental. Só que cada ressaca está ‘comendo’ uns 12 metros de areia. A maré, inclusive, continua chegando no barranco", diz.

A casa onde ele vive com a mulher e três filhos estava a cerca 200 metros da beira d’água, mas o mar já avançou. "Agora, são só 30 metros de distância. Atrás é manguezal e rio. Não tenho para onde ir e, daqui uns três anos, minha casa também já era".

O primo de Tiago, Vitor Fernandes Neves, segue sem seu comércio. "O quiosque era minha única fonte de renda", lamenta ele, que é casado e pai de dois filhos. Toda a estrutura do Quiosque Porto Açaí ruiu. "Isso é a vida da gente."

Ele, que mora na localidade desde o nascimento, há 29 anos, conhece as instabilidades do tempo e diz acreditar que uma nova ressaca forte ainda virá em outubro —a depender da atração gravitacional exercida pela Lua na maré. Vitor, porém, não espera de braços cruzados: começará a erguer um quiosque mais longe do alcance da água.

"Estou tendo alguns apoios para levantar entre R$ 10 mil ou R$ 15 mil e recomeçar", comenta. "A intenção é atender já em novembro para pegar toda a temporada de verão dos turistas."

A Prefeitura de Cananeia informa que não foi acionada para intervenções recentes na Ilha do Cardoso, mas que monitora a situação e compartilha alertas da Defesa Civil com a população.

Jubartes e mais chuva

Em Ilha Comprida, o mar agitado desenterrou três baleias da espécie jubarte que haviam aparecido mortas em meados de agosto (nas praias de São Januário e Ubatuba) e em 3 de outubro (na praia de Pedrinhas).

Todas tinham sido enterradas pela prefeitura para completar a etapa de decomposição —procedimento novamente realizado na semana passada. Em razão do peso de até 40 toneladas e do comprimento de até 16 metros, animais desse tipo não são removidos.

Segundo o IPeC, houve quatro encalhes em 2022 e cinco em 2023, todos em Ilha Comprida.

Os motivos das mortes não puderam ser detectados pelo instituto devido ao avançado estado de decomposição, o que prejudica coletas e análises de material orgânico. Causas naturais e ingestão de lixo costumam estar entre os fatores mais comuns.

Jubartes têm comportamento migratório: durante o verão se alimentam nas áreas polares e, no inverno, chegam ao litoral brasileiro para reprodução. De acordo com o projeto Baleia Jubarte, que realiza censo aéreo a respeito, a população brasileira da espécie é de cerca de 25 mil animais.

A previsão da empresa de serviços meteorológicos Climatempo para Cananeia e Ilha Comprida é de chuva no decorrer desta semana, inclusive, com temporal no feriado desta quinta-feira (12), o que pode contribuir para uma nova elevação do mar.

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