Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Traficantes do Rio não compraram armas furtadas do Exército por falta de peça, diz polícia

Sem fita para munição, metralhadoras não funcionam de forma automática; em grupo no WhatsApp, fornecedor teria pedido R$ 350 mil por modelo antiaéreo

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Rio de Janeiro

Lideranças do Comando Vermelho do Rio de Janeiro não chegaram a comprar as metralhadoras furtadas do Arsenal de Guerra do Exército de São Paulo, em Barueri, devido à falta de uma peça: fita metálica para munição.

A informação foi confirmada à Folha por investigadores da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes). A fita é necessária para inserir munição nas armas. Na tarde desta quinta (19), 8 das 21 armas furtadas foram recuperadas no Rio.

Fuzis apreendidos pela Polícia Civil do RJ
Armas furtadas do Arsenal de Guerra em São Paulo foram apreendidas pela Polícia Civil no Rio de Janeiro, nesta quinta (19) - Polícia Civil do RJ/Divulgação

"Essas metralhadoras são modernas, são municiadas com fitas de elos metálicos. A munição fica fora da arma, presa em uma fita metálica. Quando é feito o disparo, para um lado fica o cartucho vazio, no outro os elos desmontam. Depois, os elos são remontados por uma máquina, numa outra fita que recebe novas munições", disse o especialista em armas Vinícius Cavalcante.

"Ninguém vai ter fita metálica ou elo desmontável e montável, só quem é usuário da arma, no caso, o Exército", acrescentou.

O Exército chegou a dizer que as armas estavam "inservíveis", ou seja, sem utilidade.

A negociação das armas foi feita em um grupo de WhatsApp do qual participam lideranças do Comando Vermelho, maior facção do Rio de Janeiro, segundo a DRE. Um fornecedor postou no grupo um vídeo em que apareciam as quatro metralhadoras .50 desviadas do Arsenal de Guerra. A delegacia teve acesso ao vídeo.

Nas conversas no grupo, os traficantes do Rio teriam pedido para analisar as armas pessoalmente, de acordo com informações da polícia. O armamento foi levado, inicialmente, para o Complexo da Penha, depois para a Nova Holanda, na Maré, ambas na zona norte da cidade. Depois para a Rocinha, na zona sul, e por fim para a Cidade de Deus, na zona oeste.

Segundo a polícia, entre os que avaliaram as armas na Penha estava Wilton Quintanilha, o Abelha, que já serviu ao Exército quando tinha 18 anos. Ele é chamado de presidente do Comando Vermelho, apesar de dizer a interlocutores que quer deixar o tráfico, ainda de acordo com a polícia.

Conforme a Folha mostrou, os mandados de prisão para Abelha foram retirados do banco nacional de mandados, o que possibilitaria uma possível fuga do país. Os documentos foram reinseridos após questionamentos da reportagem ao Tribunal de Justiça.

R$ 350 MIL POR METRALHADORA ANTIAÉREA

Segundo a polícia, o fornecedor chegou a pedir R$ 350 mil por cada metralhadora .50 (antiaérea) e R$ 180 mil para os fuzis. A facção tomou conhecimento de que uma operação seria realizada para a captura das armas e determinou a retirada das mesmas das comunidades, de acordo com agentes da delegacia.

Assim, os fornecedores buscaram o equipamento e foram em direção à Gardênia Azul. Quando perceberam a presença de policiais, abandonaram o veículo, segundo investigadores.

Em entrevista coletiva, o secretário de Polícia Civil, Marcus Amim, afirmou que os agentes decidiram não tentar apreender o material no trajeto porque havia risco de tiroteio durante o horário de maior trânsito na cidade.

A polícia apura, no entanto, se de fato algum pagamento foi concretizado. O que os investigadores afirmam, por ora, é que a facção teria encomendado as armas para expansão de território na zona oeste.

Também é investigado se outro lote de armas foi enviado para Minas Gerais, onde traficantes da mesma facção também teriam pedido para analisar os armamentos pessoalmente.

Nesta sexta, coronel Mário Victor Vargas Júnior, 48, foi nomeado diretor do Arsenal de Guerra de São Paulo. Ele ficará no lugar do tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, exonerado após o caso.

Segundo a Folha mostrou, o Exército havia identificado três militares suspeitos de participar do do furto das armas e a Força investiga se o trio foi cooptado por facções criminosas para o extravio do armamento. Mas, de acordo com o general Maurício Gama, chefe do Comando Militar Sudeste, o número já é maior.

"O que podemos dizer até agora é que há militares envolvidos nesse desvio e isso está sendo investigado no curso do inquérito civil militar", disse.

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