Descrição de chapéu Folha Verão

Baixada tem melhora na qualidade das praias, mas Santos segue crítica

Quatro dos sete locais de medição da maior cidade do litoral ficaram impróprios para banho em mais de 50% das análises feitas pela Cetesb em um ano

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Ribeirão Preto e Santos

Maior cidade do litoral paulista, Santos acumula problemas de balneabilidade em suas praias, marcadas nos últimos anos por classificações ruins e péssimas. Quatro dos sete locais de medição ficaram impróprios para banho em mais de 50% das análises feitas pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) no intervalo de um ano.

Moradores, porém, já se acostumaram com a situação e até relatam não perceber no dia a dia as condições inadequadas das praias, enquanto órgãos públicos afirmam que a situação geográfica da cidade, resíduos produzidos em outros municípios e a proximidade com o porto de Santos —o maior da América Latina— explicam o cenário.

Praia do Boqueirão, em Santos, avaliada como péssima (imprópria em mais de 50% das medições) desde 2018
Praia do Boqueirão, em Santos, avaliada como péssima (imprópria em mais de 50% das medições) desde 2018 - Bruno Santos/Folhapress

Os sete pontos monitorados na cidade (Ponta da Praia, Aparecida, Embaré, Boqueirão, Gonzaga e dois em José Menino) acumulam desde 2016, ano em que a Folha iniciou a publicação anual da balneabilidade no litoral brasileiro, 36 classificações péssimas e 20 ruins, num total de 56 análises.

Praias limpas

Levantamento da Folha mostra balneabilidade do mar

Houve, porém, uma discreta melhora neste ano: enquanto em 2022 os sete pontos estavam péssimos, neste ano três evoluíram para ruins e quatro permaneceram na pior avaliação.

"Tivemos muitas praias impróprias na Baixada nos últimos meses, a partir do fim de setembro. Santos melhorou, porque todas as praias ficavam péssimas e agora algumas praias não ficaram mais de 50% do tempo impróprias", afirmou Cláudia Lamparelli, gerente do setor de águas litorâneas da Cetesb.

No geral, as praias paulistas melhoraram em 2023. As boas, próprias para banho em todas as semanas entre novembro de 2022 e outubro deste ano, subiram de 44 para 54, enquanto as regulares ficaram estáveis –de 80, ano passado, agora são 81. As ruins e péssimas recuaram, de 33 para 28 e de 18 para 12, respectivamente.

São Paulo teve 175 pontos monitorados em 15 municípios do litoral neste ano, mesmo número de locais medidos em 2022. Desses, 157 são avaliados todas as semanas, 11 são monitorados mensalmente e 7 pontos, todos em Ubatuba, têm medição que varia de uma a quatro no mês.

O cenário de discreta melhora se repetiu em outras cidades da Baixada Santista. Guarujá manteve as três praias boas que tinha em 2022 e viu cair as ruins de duas para uma. Outros exemplos são Itanhaém, que deixou de ter praia ruim e passou a ter as 12 regulares, e Peruíbe, que passou a ter duas praias boas –não tinha nenhuma no ano passado.

Bertioga, por outro lado, teve o principal avanço. De duas praias boas e sete regulares em 2022, chegou neste ano a seis boas e três regulares.

"Bertioga e Guarujá são os municípios da Baixada que historicamente têm mais qualidade. Santos tem a questão dos canais, São Vicente tem a baía, porque tudo fica numa baía e você tem a drenagem ali do estuário que chega ali, não há muita renovação de água e há muita ocupação irregular", afirmou.

Nadar em áreas impróprias pode causar problemas de saúde, sobretudo doenças gastrointestinais ou de pele, como micoses. Outros focos de contaminação, que não são considerados nesta análise, podem ser a presença de lixo na areia e o vazamento de óleo, como o que aconteceu no litoral nordestino em 2019.

SEM ALTERAÇÃO

"Sinceramente, não vejo diferença entre as praias nem percebo essa balneabilidade péssima no dia a dia", disse a fisioterapeuta Gabriely Nascimento, 27, do tradicional bairro Gonzaga, entre os canais 2 e 3, que abriga pontos turísticos e comércio forte.

Santos é cortada por sete canais, que também dividem bairros. Exemplo: José Menino fica na divisa com São Vicente (canal 1) e Ponta Praia no outro extremo (canais 6 e 7).

A fisioterapeuta disse que nunca teve problemas de pele ou algum problema associado à frequência que mantém nas sete praias santistas para banho e caminhadas.

A quatro quilômetros dali, na Ponta da Praia, a pedagoga Ana Paula Torres, 42, que aproveitava a manhã de sol na água com a filha Alicia Sofia, 5, afirmou nunca ter tido contratempos ligados ao banho de mar.

"Moro há sete anos em São Paulo, mas sou aqui do bairro. Jamais tive contratempos, mas a gente sabe que tem coisas erradas."

Ela se refere aos cachorros na faixa de areia –o que, atualmente, só é permitido em trecho da praia José Menino. "Cachorros na praia é algo que não é legal nem para eles."

Vizinho da Ponta da Praia, na Praia de Aparecida (canais 5 e 6), o vendedor de açaí Reginaldo Nilo Pera, 51, atribui as classificações impróprias das praias a uma junção de fatores, como a falta de cuidados dos banhistas em relação ao lixo na areia, as ressacas mais frequentes do mar e ventanias.

"[As ventanias] mandam para o mar troncos, folhas e gravetos do morro vizinho. Qualquer pesquisa vai mostrar que a maré está subindo mais nesses anos. Uma coisa leva à outra e a qualidade da praia, como um todo, paga o preço. E tem o porto. Essa é uma parte bem característica de Santos. Muitas embarcações acabam deixando resíduos na água e até óleo. Sem contar o lastro."

A chamada água de lastro fica nos porões de navios cargueiros, quando estão sem ou com pouca carga, para manter sua estrutura estável. Essa mesma água, coletada em estuários e portos, acaba despejada no mar quando a embarcação é carregada e isso pode gerar danos ambientais quando contém material tóxico e esgoto.

"E existem as embarcações menores e de pesca, que igualmente podem soltar óleo. Isso tudo, queira ou não queira, já está na nossa rotina", diz, resignado, o vendedor.

A Prefeitura de Santos, por meio da Semam [Secretaria de Meio Ambiente], informou que o principal fator que determina os níveis de balneabilidade na cidade é a rede coletora de esgoto, de responsabilidade da Sabesp.

Ainda conforme a administração, Santos tem 99% de ligação de esgoto e todo o sistema é interligado ao emissário submarino, que despeja o material após tratamento a 4,5 quilômetros do litoral.

"No entanto, a Semam entende que há relação direta entre a balneabilidade e o volume de tratamento de efluentes lançados por todos os emissários submarinos existentes na Baixada Santista [...] No caso de Santos, existem questões geográficas, notadamente o fato de praias estarem inseridas em uma baía, com conexão direta com o canal do porto."

Já a Sabesp informou desenvolver o maior programa de saneamento ambiental da costa brasileira, batizado de "Onda Limpa".

"De 2007 a 2018, foram investidos R$ 2 bilhões para ampliar a coleta dos esgotos e atualmente estão em andamento obras que correspondem a mais R$ 2 bilhões. Há ainda a previsão de mais R$ 1,8 bilhão, visando universalizar a cobertura da coleta na Baixada Santista e manter o tratamento em 100% do coletado", informou, por meio de nota.

Ainda conforme a Sabesp, há atuação em parceria com as prefeituras para identificar irregularidades entre o sistema de esgoto e as galerias municipais de águas pluviais, repassando informações à fiscalização municipal, responsável por notificar, ou multar, o imóvel com descarte inadequado.

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