PF faz operação contra grupos que fornecem milhares de armas para facções no Brasil

Investigação aponta que empresa tenha importado cerca de 43 mil armas do Paraguai, parte delas foi destinada a grupos criminosos brasileiros

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São Paulo e Brasília

Brasil e Paraguai fazem nesta terça-feira (5) uma operação conjunta de combate ao tráfico internacional e armas.

Segundo o Grupo de Investigações Sensíveis da Polícia Federal na Bahia, uma empresa com sede em Assunção, no Paraguai, foi responsável pela importação de milhares de pistolas, fuzis e munições de vários fabricantes europeus sediados na Croácia, Turquia, República Tcheca e Eslovênia.

Depois que as armas importadas da Europa chegavam ao Paraguai, eram raspadas e repassadas a grupos intermediários na fronteira que, então, revendiam às principais facções criminosas do Brasil.

As investigações começaram na Delegacia de Polícia em Vitória da Conquista, na Bahia, em 2020, quando dois indivíduos foram presos em flagrante com 23 pistolas de origem croata e dois fuzis com indícios de adulteração, além de munições e carregadores.

Armas longas estão entre os materiais apreendidos - Divulgação/PF

Após a apreensão, uma perícia da PF apontou para a importadora no Paraguai que era responsável pela compra das armas dos países europeus.

A empresa, segundo a PF, tem como proprietário o argentino Diego Dirisio. A Justiça autorizou sua prisão e ele é considerado foragido pelos investigadores.

Segundo o delegado Diego Gordilho, responsável pela investigação, a organização criminosa tinha sete subdivisões que atuavam na compra das armas de empresas europeias, na negociação com as facções brasileiras (Comando Vermelho e PCC), na logística de envio para o Brasil e na lavagem de dinheiro — tanto a utilizada para importação pela empresa no Paraguai como a feita pelos criminosos brasileiros.

No caso da importação no Paraguai, segundo a PF, a lavagem de dinheiro era feita por meio de empresas sediadas em Miami, nos Estados Unidos. Já a lavagem pelos compradores brasileiros seria feita por meio de doleiros sediados no Brasil e no Paraguai.

Sobre os compradores brasileiros, a PF interceptou conversas entre o grupo de negociadores sediados na fronteira com integrantes da cúpula de PCC e Comando Vermelho.

Segundo o superintendente da PF na Bahia, Flavio Albergaria, a identificação dessas negociações era o principal desafio da apuração e as interceptações conseguirem estabelecer uma relação direta entre as facções brasileiras e os negociantes paraguaios.

Em um das conversas interceptadas, disse o delegado, um faccionado brasileiro fala da necessidade de armas de calibre mais grosso após ser ofertado a ele pistolas de calibre .380.

O ministro Flávio Dino afirmou que após as negociações, as armas entravam no país por via terrestre, aérea e marítima.

Das cerca de 40 mil armas que a empresa paraguaia importou, a PF ainda investiga quantas vieram parar nas facções brasileiras.

Presente na coletiva de imprensa no Ministério da Justiça, representantes do governo paraguaio afirmaram que pela quantidade de armas importadas naquele país é difícil que elas tenham qualquer finalidade lícita.

Desde que as investigações começaram, há três anos, a estimativa da PF é de que a empresa importou cerca de 43 mil armas para o Paraguai e movimentou R$ 1,2 bilhão. No mesmo período, foram realizadas 67 apreensões nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Ceará, que totalizam 659 armas apreendidas.

A 2ª Vara Federal de Salvador expediu 25 mandados de prisões preventivas, sendo oito no Brasil, 15 no Paraguai, e dois nos Estados Unidos, mas que não foram cumpridos porque não houve tempo hábil para expedição dos mandados de prisão, de acordo com a lei daquele país. Também foram expedidos seis mandados de prisão temporária, sendo um no Brasil e cinco no Paraguai. Além disso, os nomes de 21 pessoas foram incluídos na difusão vermelha da Interpol.

Entre os alvos de mandados de prisão estão integrantes da Dimabel, órgão militar paraguaio responsável pelo controle de armas.

Segundo as autoridades paraguaias, eles teriam sido corrompidos para facilitar a importação das armas pela empresa de Diego Dírisio.

No Brasil, os mandados são cumpridos no Rio de Janeiro, São Paulo, Sorocaba, Praia Grande, São Bernardo do Campo, Ponta Grossa, Foz do Iguaçu, Brasília e Belo Horizonte.

A investigação também solicitou o bloqueio de bens, direitos e valores no total de R$ 66 milhões no Brasil. Foi solicitada cooperação jurídica internacional ao Paraguai para bloqueio de bens, direitos e valores naquele país.

Os policiais conseguiram encontrar o local utilizado para fazer a raspagem das armas no Paraguai.

A operação é realizada pela PF na Bahia, em parceria com Ministério Público Federal e cooperação internacional com a Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai com o Ministério Público do Paraguai. A ação contou ainda com a FICTA (Força-Tarefa Internacional de Combate ao Tráfico de Armas e Munições), que é composta pela HSI (Homeland Security Investigations), Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública) sob Supervisão do Serviço de Repressão ao Tráfico de Armas da PF.

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