Região da Luz, no centro de SP, vive série de assassinatos

Em cinco meses, quatro pessoas foram mortas de forma violenta no entorno da estação; governo Tarcísio diz que casos são investigados, enquanto prefeitura reforça 'bico' de policiais

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São Paulo

O assassinato do jovem Henrry Bento Bernardes da Silva, 22, vítima de latrocínio (roubo seguido de morte) na rua Florêncio de Abreu na madrugada do domingo (10), não pode ser considerado um fato isolado na região da estação da Luz, no centro de São Paulo.

Em cinco meses, ele foi a quarta pessoa a morrer de forma violenta no entorno de um dos pontos mais icônicos da capital e cercada por espaços públicos como o Museu da Língua Portuguesa, a Pinacoteca do Estado e a Sala São Paulo, locais que atraem centenas de turistas e alunos de escolas públicas e particulares da cidade e de fora.

Fachada da estação da Luz e do Museu da Língua Portuguesa, no centro de São Paulo
Fachada da estação da Luz e do Museu da Língua Portuguesa, no centro de São Paulo - Eduardo Knapp - 20.jan.22/Folhapress

Os pontos onde ocorreram os assassinatos também ficam próximos a locais importantes da segurança pública, como o Palácio da Polícia Civil, o quartel da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), tropa da Polícia Militar, e o Comando Geral da GCM (Guarda Civil Metropolitana).

Procurada, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) declarou que as investigações sobre as mortes na região estão em andamento. Não foi informado se houve presos. Em todos os casos os autores conseguiram fugir.

Coincidência ou não os pontos onde foram registrados os homicídios ficam a poucos metros de distância da rua dos Protestantes, onde atualmente se concentra a cracolândia.

Conforme a GCM, Silva estava com outros quatro jovens na rua Florêncio de Abreu, quase em frente a um dos acessos da estação de metrô, quando foi abordado por um grupo de cinco pessoas.

O jovem, que havia feito aniversário na última semana tinha saído para comemorar a data com os amigos. Eles retornavam para casa quando foram abordados pelos criminosos por volta das 3h.

Os cinco suspeitos roubaram celulares e uma bicicleta do grupo. Silva se recusou a entregar o aparelho, de acordo com a GCM. Na sequência, um dos homens o golpeou com uma faca. Ele chegou a ser socorrido para o Hospital Lauro Ribas Braga, em Santana, zona norte, mas não resistiu.

Segundo a SSP, policiais civis do 1º DP (Sé) aguardam a chegada de imagens solicitadas para encaminhar o caso ao Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).

Antes de Silva, outras três pessoas foram mortas de forma violenta na área.

No dia 20 de setembro, um homem de 53 anos foi atacado com uma pedra dentro da estação da Luz. Conforme o boletim de ocorrência ao qual a reportagem teve acesso, policiais ferroviários estavam no mezanino da estação, por volta das 18h50, quando avistaram uma aglomeração de pessoas na passarela próxima ao acesso para a avenida Cásper Líbero.

Segundo os policiais, testemunhas relataram que o homem havia sido empurrado por outra pessoa. Ele foi levado para uma sala na estação, onde foi constatada sua morte por uma equipe do Samu (Serviço de Atendimento Médico de Urgência).

Agentes da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) localizaram câmeras que registraram o momento da agressão. Segundo o boletim de ocorrência, um homem se aproximou da vítima e a acertou com uma pedra na cabeça. Mesmo caída no chão, uma mulher apareceu e passou a verificar os bolsos do homem. Não há informação se ela conseguiu levar algum item. Ainda conforme o relato dos policiais, momentos antes de ser agredido, o homem havia dado dinheiro à mesma mulher.

Um mês antes ao assassinato, um outro homem foi morto dentro da estação da Luz. Jefferson Fernandes da Silva, 30, foi espancando no dia 21 de agosto.

Testemunhas narraram à polícia que Silva havia discutido, momentos antes, com outro passageiro, não identificado, "culminando em um embate físico entre ambos." Segundo o documento, Silva foi agredido com um soco no rosto, caiu no chão e teve a cabeça chutada. O homem acabou morrendo no dia 23 daquele mês em decorrência das agressões.

De acordo com a pasta da segurança pública, os dois casos são investigados pela Delegacia do Metropolitano.

Uma semana antes do assassinato de Silva, um porteiro foi morto em um latrocínio no cruzamento das ruas Mauá e Protestantes, a poucos passos da cracolândia. João da Silva Sousa, 54, foi atacado na noite de 15 de agosto.

Guardas-civis metropolitanos encontraram Sousa caído próximo ao largo General Osório e o socorreram até o pronto-socorro da Santa Casa, onde morreu. Ele teria sido atingido com uma facada.

Segundo o registro policial, Sousa foi atacado quando seguia para o trabalho.

Testemunhas relataram aos guardas que o homem foi abordado por um ladrão que aparentava ser morador de rua e usuário de drogas.

A intenção do bandido seria tomar a mochila da vítima, que resistiu. O criminoso então teria golpeado Sousa na lateral esquerda do tórax. A mochila foi levada, e a carteira e o celular do porteiro ficaram no local.

O latrocínio é investigado pelo 3º DP (Campos Elíseos).

Para o gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, os problemas de insegurança ao redor da estação da Luz são potencializados com ações desastrosas do poder público municipal e estadual na região central. No seu entendimento, a cada novo episódio de violência, mais pessoas deixam de frequentar a região.

"A atuação errática e descontinuada com os usuários na cracolândia, os problemas de habitação e zeladoria e uma política de segurança falha têm levado a um cenário de total insegurança no centro de São Paulo. Com menos comércios, moradores e transeuntes a insegurança aumenta ainda mais, em um círculo vicioso que vai asfixiando esta região", disse Langeani.

Além das mortes, os furtos têm crescido no centro. Somente no 1º DP (Sé), houve alta de 4% na quantidade do crime, passando de 9.394 casos de janeiro a outubro 2022 para 9.795 ocorrências. Tal situação também foi observada na área do 2º DP (Bom Retiro). Lá os furtos passaram de 3.200 para 3.324 casos, alta em proporção semelhante (4%). Já no 3º DP (Campos Elíseos), as ocorrências de furto saltaram de 8.848 casos em 2022 para 9.564 ocorrências entre janeiro a outubro deste ano, um acréscimo de 8%.

Em meio ao caos que tomou a região central, a Prefeitura de São Paulo resolveu reforçar a quantidade de policiais militares na Atividade Delegada, ação em que policiais recebem uma gratificação para patrulhar vias em dias de folga na corporação.

Na sexta-feira (8) o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) estiveram juntos durante a assinatura do projeto de lei que reajustou os valores das gratificações pagas na atividade.

Em nota, a SSP afirmou que houve queda de 3,6% nos roubos na região central em 2023 (janeiro a outubro), totalizando 797 casos a menos em comparação ao ano passado. "Também neste ano, desde janeiro, mais de 5.400 criminosos foram presos no centro e 114 armas de fogo foram apreendidas", acrescentou trecho da nota.

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