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Censo 2022

Censo aponta que estratégia evangélica de expansão vai bem, obrigada

Dados mostram 580 mil estabelecimentos religiosos num país onde crentes vêm dominando a cena

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São Paulo

Saíram nesta sexta (2) dados fresquinhos do Censo 2022, que mostram a alta voltagem religiosa de um Brasil que tem um estabelecimento dessa natureza para cada 350 pessoas. Não é pouca coisa.

Vamos de comparação: são 580 mil espaços de fé contra cerca de 500 mil que a Europa contabilizava na década passada. O continente tem mais do que o triplo de habitantes.

Esse catatau de perímetros religiosos não foi esmiuçado pelos recenseadores. Não se sabe quantos são igrejas cristãs, terreiros, mesquitas, sinagogas ou outra representante das múltiplas crenças esparramadas pelo território nacional. Mas não é exercício meramente especulativo afirmar que templos evangélicos dominam essa geografia da devoção.

Assembleia de Deus em Salvador - Juliano Spyer - 31.jul.2014/Folhapress

Só para ficar nos dois maiores blocos religiosos, o católico (cerca de metade da população) e o evangélico (coisa de um terço): pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com dados de 2021 identificou 87,5 mil igrejas evangélicas, que representavam 7 em cada 10 estabelecimentos religiosos formalizados no Brasil. As igrejas subordinadas ao Vaticano eram 11% do total.

Ah, sim: estamos falando aqui apenas dos templos com CNPJ, e não mencionar isso seria tapar os olhos para um mundaréu de espaços de oração improvisados nas periferias.

O Censo revelou a esperada concentração de estruturas religiosas —84 mil— em São Paulo, o estado mais populoso da federação.

A região Norte toda tem menos que isso, 79,6 mil, mas proporcionalmente ganha de lavada do vizinho sudestino: há 1 espaço religioso para cada 217 residentes, contra 1 para cada 528 pessoas em SP. A unidade paulista responde por 22% dos 203 milhões de brasileiros, enquanto os sete estados nortistas somam 8,5%.

Projeções demográficas mostram que é justamente no Norte onde católicos e evangélicos abocanham fatias populacionais mais ou menos iguais, enquanto os primeiros ainda superam os segundos no restante do país. Falta esperar o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgar os dados oficiais sobre filiação religiosa levantados no ano retrasado.

A capilarização da malha evangélica é peça-chave para entender por que essa religião é o canguru da religiosidade nacional, enquanto a outra parcela cristã, que por séculos reinou soberana sobre a fé do brasileiro, encolhe a cada ano que passa.

O déficit de padres na região faz com que áreas remotas da Amazônia passem longas temporadas num apagão católico, por exemplo. Evangélicos, em compensação, rivalizam com crenças locais e amplificam sua presença em aldeias indígenas. Muitas têm de infraestrutura apenas uma escolinha, um posto de saúde e uma igreja que literalmente fala a sua língua, já que vários cultos acontecem no idioma dos povos.

Em 1997, José Wellington Bezerra da Costa, um dos maiores pastores brasileiros, sintetizou em uma frase esse trunfo evangélico de estar onde o povo está. "Onde tem Coca-Cola, Correios e Bradesco tem uma Assembleia de Deus", disse então à revista Veja.

Hoje nem precisa do refrigerante e da agência bancária. A expansão evangélica chega na frente, numa fórmula própria do versículo em Gênesis que fala em crescer, multiplicar e dominar as terras. E são as igrejinhas de bairro, com ou sem CNPJ, que inflam essa dilatação religiosa detectada no Censo 2022.

Tratam-se de células independentes, com um ou poucos templos, de nomes como Pentecostal Mensagem de Última Hora para as Nações, Ministério Jesus Te Ama e Rocha Inabalável Deus É Fiel.

Para o cientista político Vinicius do Valle, diretor do Observatório Evangélico, o panorama apresentado pelo IBGE "desmistifica um pouco a ideia que muitas pessoas têm das igrejas evangélicas como mega templos com pastores super ricos". A maior parte são espaços pequenos próximos às casas dos fiéis e com participação ativa na vida comunitária.

Fora que é muito fácil abrir uma igreja por aqui. "Burocraticamente fácil, economicamente viável e socialmente procurado", diz Valle. Onde há demanda, afinal, há oferta.

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