Ninguém sabia explicar exatamente o que ocorria quando Wanessa Dourado tinha um instrumento musical nas mãos. Desde pequena, era assim: ela arriscava algumas notas, encontrava a melodia que procurava e logo estava tocando uma música nova, num instrumento novo.
Dourado tocava violino, rabeca e cantava profissionalmente, mas suas habilidades incluíam uma variedade de instrumentos, do teclado ao violão. Não passava por sua cabeça ser outra coisa que não musicista.
Filha mais velha de uma costureira e de um técnico em eletrônica, viveu a vida toda na cidade de São Paulo. Nasceu no Jaguaré, bairro da zona oeste da capital —onde os pais moram até hoje. Aos nove anos de idade, já fazia aulas de canto e de música.
Seu primeiro contato com a música foi na igreja que os pais frequentavam, no próprio Jaguaré. Aos 18, antes de entrar na faculdade, já dava aulas de violino. Tocava tanto música erudita quanto popular.
"Ela não precisava exatamente fazer um curso para pegar as notas e tocar um instrumento", conta a tia materna Simone Rabello. "Sua marca registrada sempre foi o sorriso. Sempre muito sorridente, se dava bem com todo mundo."
Em 2015, juntou-se a três colegas músicos para formar o grupo instrumental Fios de Choro, que toca releituras de música popular brasileira e composições próprias. O grupo fez duas viagens de pesquisa a Pernambuco para aprender ritmos tradicionais da região, como o forró de rabeca, cavalo-marinho, maracatu e ciranda.
Cinco anos depois, o quarteto participava do festival Jazz a La Calle em Mercedes, no Uruguai. Apresentaram-se no palco principal. Dourado tinha uma preocupação especial com o ensino de música. Ela já trabalhou como professora durante festivais de música, e o Fios de Choro também ministrava oficinas para divulgar o ritmo musical.
Seu trabalho foi reconhecido ao longo da vida. Apresentou-se na TV Cultura e foi premiada em segundo lugar no Prêmio Nabor Pires Camargo de Indaiatuba, em 2018.
Três anos atrás, lançou seu primeiro trabalho autoral, que batizou de "Passagem".
"Wanessa era uma presença ativa em múltiplos projetos, demonstrando sua dedicação e alegria pela música", disse o maestro Abel Rocha, regente na Orquestra de Santo André, da qual Dourado fez parte.
Ela morreu no dia 27 de janeiro, após um acidente de moto. Dourado deixa os pais, uma irmã e um irmão.
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