Descrição de chapéu Obituário Marco Paulo Telles (1974 - 2024)

Mortes: Fez a alegria das crianças do Bixiga como Papai Noel

Machão, como era chamado por causa do tamanho, era uma pessoa solidária e carismática

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São Paulo

Quando entrou em casa vinda da maternidade com seu quarto filho no colo, a mãe logo avisou aos irmãos do menino: "Chegou o Machão".

Machão foi o apelido dado à criança pelas enfermeiras logo após o parto, por causa do tamanho daquele grande bebê. Assim o administrador de empresas e comerciante Marco Paulo Telles foi chamado a vida toda.

Homem negro com camiseta cinza, ao lado de um jardim florido
Marco Paulo Telles (1974 - 2024) - Leitor

Daquele apelido valeu apenas a referência ao seu tamanho. Machão nunca foi de briga, pelo contrário, do alto de seu 1,80 m costumava chamar pelo nome as pessoas nas ruas do Bixiga, tradicional bairro do centro de São Paulo, onde nasceu e cresceu.

Na mocidade, participou ativamente com a irmã Ana Paula —um ano mais nova que ele— dos grupos de jovens e dos trabalhos sociais da Igreja Nossa Senhora Achiropita, onde foi coroinha.

Do pai José Telles, o Zé da Gráfica, herdou, além do carisma, a missão de substituí-lo como o Papai Noel que anualmente entregava sacolinhas com brinquedos, livros e guloseimas às crianças daquela região.

"Meu pai morreu em 2006 e há sete anos as pessoas começaram a pedir a volta do Papai Noel", conta Carlos Alberto Telles, 60.

"Assumi a presidência [da organização que cuida da arrecadação e distribuição dos presentes] e meu irmão ficou no lugar do meu pai", afirma. Assim, o Bixiga, bairro de raízes negras, continuou a ter um Papai Noel negro.

Foram sete natais seguidos com Marco Telles trajado de roupa vermelha e barba branca.

Na sua rotina não natalina, sempre que tinha oportunidade gostava de viajar a Praia Grande, na Baixada Santista.

Corintiano roxo, não perdia um jogo do Timão, tanto que assinava vários canais e serviços de esportes para assistir a partidas de futebol e corridas de Fórmula 1.

Homem negro vestido de Papai Noel com uma das mãos levantadas
Marco Paulo Telles como o Papai Noel do Bixiga - Leitor

Mas com o irmão e outros voluntários, passava boa parte do ano envolvido na logística para arrecadação de brinquedos, que já começa a ser estruturada em maio.

No último Natal foram distribuídos três caminhões lotados com 4.000 kits de presentes, com Marco Telles tornando o fim de ano da garotada mais feliz.

Cinco veículos do Corpo de Bombeiros acompanharam em dezembro a carreata solidária, que em um de seus pontos terminou em almoço para famílias carentes sob o viaduto Júlio Mesquita Filho.

Só que a turma do último Natal também teve de recusar alguns convites de outros eventos, pois o Papai Noel estava doente —ele tratava havia alguns meses de um câncer e poderia não suportar o calor.

"Meu irmão não quis que falássemos da doença e pouca gente sabia", afirma Carlos. "Mesmo assim, ele entregou presentes em dezembro", diz.

Marco Paulo Telles morreu no último dia 2 de fevereiro, aos 49 anos, pouco mais de um mês após o Natal. Machão não teve filhos, mas foi o Papai Noel das crianças de um bairro inteiro.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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