Descrição de chapéu Obituário Nair Andrade dos Santos (1926 - 2024)

Mortes: Abriu caminho para mulheres na advocacia em Pernambuco

A advogada Nair Andrade foi a primeira mulher na diretoria da OAB-PE

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Juazeiro (BA)

Durante mais de 40 anos, Nair Andrade foi advogada pública em Pernambuco. Atuou nas varas criminais, defendendo pessoas sem condições de pagar pelo serviço. A rotina era pesada. Servia na Assistência Judiciária de Pernambuco, hoje Defensoria Pública do Estado.

Foram décadas de dedicação, sem nunca tirar férias. "Ela morria de orgulho disso. Eu me lembro de ela sair de manhã e chegar à noite, sempre. A advocacia passou a ser uma paixão dela", afirma o filho Ivo Andrade Neto, 49.

Depois do expediente, ainda arranjava tempo para ajudar mais pessoas. Às vezes, uma vizinha com problemas com o filho que precisava ser aconselhado. Outras, mulheres que precisavam do divórcio. Nunca cobrava, mas era presenteada, com bolos e confeitos.

Nair Andrade dos Santos (1926 - 2024)
Nair Andrade dos Santos (1926 - 2024) - OAB-PE/Divulgação

Nair nasceu em Recife, em 1926, filha de Maria e Ivo. A força feminina herdou da mãe, que era chefe da família e costurava para sustentar ela e o irmão.

Foi também a mãe que, mesmo sem educação formal, enxergou nos estudos a possibilidade de uma realidade melhor para os dois e investiu. Da infância pobre, em uma casa em que tinha parte do teto feito com latas de óleo, ficou apenas a humildade. Ela tornou-se defensora pública e ele, servidor da Receita Federal.

Até chegar ao posto, Nair estudou muito. Trabalhava o dia todo e, à noite, ia para a Faculdade de Direito do Recife, onde se formou em 1961.

Nair Andrade foi a primeira mulher na diretoria da OAB de Pernambuco. De 1971 a 1973, era secretária-geral do órgão. "Vai ter mulher nessa ordem", afirmou aos jornais na época.

A advogada não quis casar e não teve filhos biológicos, numa época em que a sociedade cobrava isso das mulheres. Mas adotou o filho de uma sobrinha e conseguiu dar conforto à mãe.

"Era uma pessoa amável e tranquila, mas muito dura. Não era muito de brincadeira. Ela teve que trabalhar muito cedo, então a vida se apresentou assim para ela", diz o filho.

Aposentou-se aos 60 anos, mas continuou ativa na OAB-PE. Foi vice-presidente da Comissão do Idoso, membro da Comissão de Direito e Liberdade Religiosa e da Mediação e Arbitragem.

No tempo livre, participava da Ordem Rosacruz e se dedicava a aprender mais. Fosse cozinhar, pintar quadros ou costurar. Também colaborou com projetos sociais em comunidades periféricas.

Nair morreu no dia 9 de janeiro, aos 97 anos, vítima de uma infecção pulmonar. Deixa o filho Ivo, 49, a neta Iris, 9, e inspiração para muitas pernambucanas. Também ficou a máquina de costura que guardava da mãe.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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