Um ano após tragédia em São Sebastião, turistas relatam preços altos e medo de chuva

Comerciantes relatam frustração em relação à retomada do movimento durante a alta temporada após deslizamentos

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São Sebastião

Frequentadora da praia Barra do Sahy, em São Sebastião (SP), durante as férias, a dona de casa Elaine Godoy, 43, achou que neste verão os preços estão mais altos. Há um ano, o balneário foi epicentro da tragédia que deixou 64 mortos e centenas de desabrigados após temporal recorde.

"Está tudo mais caro, hospedagem, pagamos o mesmo, mas a alimentação subiu. Ano passado, gastamos R$ 800 no supermercado e, dessa vez, compramos as mesmas coisas e deu R$ 1.000", diz ela que mora em São Bernardo do Campo (ABC).

Turistas reclamam de preços altos na alta temporada em Barra do Sahy após tragédia
Turistas reclamam de preços altos na alta temporada em Barra do Sahy após tragédia - Adriano Vizoni/Folhapress

Os morros que circundam as praias Barra do Sahy e a vizinha Baleia, as mais afetadas, ainda trazem sinais da tragédia, com falhas na vegetação causadas pelos deslizamentos. "A gente olha e não acredita que tudo aquilo aconteceu aqui", diz a dona de casa.

Apesar das cicatrizes evidentes na natureza que não deixam esquecer o passado recente, o analista de sistemas Rodrigo Lazani, 44, conta que não levou as consequências do desastre em consideração quando decidiu passar as férias na praia da Baleia após dez anos sem visitá-la. "Fora os morros, não mudou muita coisa por aqui", diz.

A remarcação de preços também é visível nas barracas de praia, que subiram os valores das bebidas e petiscos. Dona de uma no Sahy há 32 anos, Mariana Heloreide Pereira da Silva, 52, conta que reajustou os preços em 10% por causa da alta praticada pelos fornecedores. "O movimento está imprevisível. Após o Ano-Novo teve queda de mais da metade, tinha previsão de chuva e as pessoas ficam com medo de vir", diz. "Tivemos também uma grande mudança de perfil do turista. Antes da tragédia, vinha muita gente só passar o dia, agora está vindo gente pela primeira vez. Vai demorar ainda para normalizar", continua.

De férias na praia com grupo de amigos, a estudante Kelly Andrade, 28, desceu precavida para enfrentar os preços altos. "Uma amiga veio no fim do ano e contou que estava tudo um absurdo. Então, viemos com o cooler cheio", diz.

Vendedor de bolsas artesanais, Severino da Silva Neves, 41, sai todo verão do Rio Grande do Norte para aproveitar a alta temporada na Barra do Sahy. Ele diz que as vendas estão mais fracas do que em anos anteriores. "Mantive o mesmo preço do ano passado e, mesmo assim, está difícil", diz ele, que comercializa os itens a R$ 330.

Além do custo em alta, o medo de novos temporais transformou os alertas de chuva em motivo de preocupação entre os turistas. "Os hóspedes perguntam sobre a previsão e sobre os alertas da Defesa Civil antes de vir", diz a recepcionista da pousada Aldeia de Sahy Daiane Souza Santos. "Estamos tendo uma temporada bem abaixo do normal."

A recepcionista avalia que a procura por reservas cai bastante quando há previsão de chuva, como aconteceu durante boa parte de janeiro. "O Ano-Novo foi muito fraco."

Ela opina que os meios de comunicação ajudam a perpetuar a apreensão em torno das previsões de chuva, noticiadas de maneira mais frequente no litoral norte após a tragédia. Quando houve os deslizamentos, a cidade registrou mais de 600 milímetros de chuva em dois dias. Em todo o mês de janeiro deste ano, São Sebastião teve acumulado de 206 milímetros de precipitação.

Os deslizamentos também afetaram o setor de aluguel de casas de temporada nas praias de Barra do Sahy e Baleia. Corretor há 30 anos na região, Ubiracy Mazur diz que esta foi a pior alta temporada. "Foi o ano em que aluguei menos imóveis. A média era de 30 casas alugadas no verão, neste ano, foram dez."

Ele diz acreditar que o valor dos pacotes foi o principal entrave, além do medo de novos deslizamentos. "O preço subiu muito na pandemia e se manteve alto", diz. "As casas nos morros ninguém mais quer alugar. Perguntam se alaga com mais frequência agora", continua.

Apesar das reclamações, Olivo Balut, presidente da Associação Comercial de São Sebastião, avalia que São Sebastião vive uma retomada do turismo neste início de ano, apesar da taxa de ocupação ter tido aumento abaixo do esperado, mas dentro do patamar aceitável diante das circunstâncias. "Estão todos otimistas, mas sempre com o pé atrás porque imprevistos acontecem. Quando a demanda é grande, pode haver um excesso dos preços, mas está sob controle", diz ele, que afirmou não ter recebido reclamações formais sobre preços abusivos.

Em nota, o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) informou que investiu R$ 100 milhões e criou uma campanha publicitária para impulsionar o turismo em São Sebastião após a tragédia. A expectativa da Secretaria de Turismo e Viagens é de pelo menos 1 milhão de visitantes neste verão.

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