Mandantes de assassinato de Marielle prometeram lotes para executor do crime

Ronnie Lessa seria pago com espaços em empreendimento imobiliário na zona oeste do Rio de Janeiro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

Ronnie Lessa, assassino da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, afirmou em seu acordo de colaboração premiada que ganharia lotes em um empreendimento imobiliário na zona oeste do Rio de Janeiro como pagamento pelo crime.

Os relatos do executor do crime foram a base para a operação deflagrada pela Polícia Federal neste domingo (24) para prender o deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil-RJ), o conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Rio Domingos Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil no Rio.

Os integrantes da família Brazão são apontados como mandantes do crime e o delegado da Polícia Civil teria atuado para obstruir a investigação instaurada após o assassinato.

O PM reformado Ronnie Lessa, acusado de efetuar os disparos que mataram Marielle Franco e Anderson Gomes
O PM reformado Ronnie Lessa, acusado de efetuar os disparos que mataram Marielle Franco e Anderson Gomes - Reprodução/SBT

Segundo a PF, havia uma "colisão de interesses" dos Brazão com a atuação parlamentar de Marielle sobre invasões e loteamentos irregulares ligados à milícia.

"Nessa esteira, destaca-se que o próprio pagamento aos executores seria por meio de lotes oriundos de grilagem e permissão para exploração da atividade de milícia no local", diz trecho do relatório da PF.

Ainda em sua delação, Lessa afirmou que ele receberia "uma grande extensão de terras que os irmãos Brazão estavam planejando invadir para promover o parcelamento do solo para posterior revenda dos lotes."

De acordo com o seu relato, devido as dimensões das terras o negócio seria uma "empreitada milionária".

Além disso, afirmou, o "maior atrativo da iniciativa" era poder explorar a região no modelo das milícias com venda de "gatonet, gás, transporte alternativo" e outros serviços.

A PF afirma ainda que o objetivo de Lessa era alcançar o mesmo patamar do seu ex-colega de PM, Adriano da Nóbrega, que à época já atuava no jogo do bicho e dominava alguns territórios.

"Apesar de já perpetrar atividades que remontam àquelas praticadas por grupos paramilitares, Ronnie não tinha um reduto onde pudesse dar as cartas. Neste sentido, a promessa de recompensa materializada pelos Irmãos Brazão era a oportunidade que ele precisava para colocar isso em prática", diz a PF.

Élcio Queiroz, que dirigia o carro no dia do assassinato, foi ouvido novamente após as revelações de Lessa e perguntado sobre o tipo de pagamento citado pelo comparsa.

Segundo ele, Lessa não lhe prometeu qualquer pagamento, mas após serem presos pelo crime o ex-PM disse que o ajudaria.

"Nessa oportunidade, indicou que tinha invadido um terreno próximo ao Gardênia Azul, atrás do shopping, e que destinaria uma parte dos lotes ao declarante", afirmou.

Para a PF, a forma de pagamento reforça as afirmações de Lessa em seu acordo de colaboração premiada uma vez que a ocupação de áreas, muitas delas griladas, têm atuação da família Brazão há anos.

Os investigadores detalham em um dos capítulos do relatório sobre o caso Marielle o histórico da família com a grilagem na região oeste do Rio.

De acordo com a PF, ainda em 2007 Domingos Brazão foi alvo de denúncia por ter invadido uma área em Jacarepaguá.

Já sobre seu irmão, os investigadores mostram os projetos apresentados por ele na Câmara dos Vereadores e que flexibilizavam as regras para ocupação de terrenos na região.

Na coletiva sobre o caso, o diretor da PF, Andrei Rodrigues, afirmou que o assassinato não tem apenas um único motivo.

Segundo eles, os motivos estão dentro de um contexto de várias situações que envolviam a atuação da vereadora Marielle.

"São várias situações que envolvem a vereadora Marielle e que levaram esse grupo de oposição, e o ministro [da Justiça, Ricardo Lewandowski] falou da questão política, e que envolve questão ligadas a milícias, disputa de território e legalização de empreendimentos".

O ministro da Justiça leu um trecho da decisão de Alexandre de Moraes sobre a motivação e, citando o relatório da PF, afirmou que Marielle se opunha ao grupo politico da família Brazão que queria regularizar terras para uso comercial.

A vereadora, por sua vez, defendia que as áreas na região oeste do Rio fossem destinada para fins sociais e de moradia popular.

Em sua delação, Ronnie Lessa disse que o planejamento do crime começou no segundo semestre de 2017.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.