Descrição de chapéu Obituário Lair Guerra de Macedo Rodrigues (1943 - 2024)

Mortes: Foi indicada ao Prêmio Nobel por estabelecer pilares do combate à Aids

Lair Guerra coordenou as primeiras ações do programa brasileiro, que anos depois se tornaria referência mundial

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São Paulo

Lair Guerra costumava dizer que, quando começou a trabalhar no Ministério da Saúde, no fim da década de 1980, as ações de combate à Aids no país "cabiam em uma caixa de sapatos".

Determinada e persistente, enfrentou o preconceito e a falta de recursos para colocar de pé o Programa Nacional de DST/Aids, que anos depois seria reconhecido pela ONU (Organização das Nações Unidas) como referência mundial no enfrentamento da doença.

Lair nasceu em 1943 no povoado Gety, que hoje pertence à cidade de Curimatá, no Piauí. Deixou a cidade natal para cursar biomedicina na Universidade Federal de Pernambuco, onde iniciou sua extensa trajetória acadêmica.

 Lair Guerra Macedo Rodrigues (1943 - 2024)
Lair Guerra de Macedo Rodrigues (1943 - 2024) - Sergio Lima/Folhapress

Ainda na graduação, Lair se interessou em estudar doenças sexualmente transmissíveis e fez sua tese de mestrado sobre formas de controle da clamídia. Em seguida, foi contemplada com uma bolsa para fazer uma pós-graduação no Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos.

"Moramos nos Estados Unidos por seis anos, enquanto meu pai e minha mãe estudavam. Foi um desafio muito grande para ela, porque apesar de ser muito dedicada e ter conhecimento, ela não falava inglês. Em poucos anos, ela aprendeu o idioma e conseguiu o título de doutora em uma universidade americana prestigiada", conta Ana Seidl, filha mais velha de Lair.

Logo depois de retornar ao Brasil e ser aprovada em um concurso para professora na UnB (Universidade de Brasília), Lair foi convidada, em 1986, para comandar as ações de enfrentamento ao HIV, que naquela época tinha taxas de infecção subindo exponencialmente.

Em sua gestão, conseguiu estabelecer ações importantes para a prevenção e o tratamento da doença, mas que foram duramente criticadas. Ela instituiu, por exemplo, medidas de redução de danos como a orientação para que usuários de drogas injetáveis não compartilhassem seringas. Também definiu, como política nacional, a distribuição gratuita de preservativos para toda a população.

Foi também sob sua coordenação que o país iniciou a distribuição dos primeiros medicamentos retrovirais pelo SUS.

"Ela brigou muito para conseguir desenvolver todas essas ações, lutou contra o estigma que havia em relação à Aids. Minha mãe ficou à frente do programa por dez anos. Nesse período, dez ministros passaram pelo cargo e ela continuou comandando o trabalho", lembra Ana.

Lair só deixou o trabalho no Ministério da Saúde após um acidente de carro em 1996, em que sofreu um traumatismo e passou meses internada. "Ela teve que reaprender tudo depois disso, ficou entre a vida e a morte. Foi só por isso que parou de trabalhar."

Apesar de ter se afastado da saúde pública, a contribuição de seu trabalho no enfrentamento à Aids nunca foi esquecida. Em 2004, Lair teve seu nome indicado para o Prêmio Nobel da Paz.

"Ela tinha muito orgulho do trabalho que desenvolveu, mas não sei se tinha dimensão da importância e do tamanho da política que ajudou a criar. Ela viajou para diversos países, encontrou dezenas de presidentes e ministros da Saúde para compartilhar as ações que desenvolveu no Brasil", afirma Ana.

Lair foi internada em janeiro em um hospital em Brasília, onde morava havia mais de 40 anos, para tratar uma pneumonia, e morreu no último dia 13 de março. Deixou cinco filhos, 11 netos e um bisneto.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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