Descrição de chapéu Rio de Janeiro Folhajus Rio

Polícia apura se morte de advogado no Rio está ligada a envolvimento com apostas online

Em depoimento, namorada afirmou que vítima buscava operador para entrar no ramo; três suspeitos são procurados

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro

A Polícia Civil apura se a morte de Rodrigo Crespo, assassinado a tiros no último dia 26 no centro do Rio de Janeiro, está ligada a um plano dele de se envolver com cassinos onlines. Em depoimento, a namorada da vítima afirmou que ele queria abrir negócios no ramo de apostas e procurava por um "operador".

Crespo foi morto na porta da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). No crime, foram efetuados 18 disparos, segundo a perícia.

Imagens de câmeras de segurança flagraram, de acordo com a polícia, Eduardo Sobreira Moraes, na rua onde o advogado Rodrigo Crespo morava, na Lagoa, zona sul do Rio. De acordo com a investigação, Moraes, de blusa preta, aparece atravessando a rua e entrando em um gol branco. A ação ocorre no mesmo momento em que Crespo entra em um carro de aplicativo, para ir ao trabalho, por volta das 9h da manhã do dia 26 de janeiro. O advogado foi morto no final da tarde, em frente à sede da OAB (Ordem dos Advogados do Rio). Moraes é um dos suspeitos procurados por envolvimento no crime.
Nota fiscal de um dos carros alugados pelo policial militar suspeito de envolvimento no homicídio de advogado faz referência ao jogo do bicho - Tribunal de Justiça

Nesta segunda-feira (4), uma operação tentou prender dois suspeitos de envolvimento no crime. O policial militar Leandro Machado da Silva, do 15º BPM (Duque de Caxias), e Eduardo Sobreira Moraes, segurança da escola de samba Portela, estão sendo procurados e já são considerados foragidos.

De acordo com a Polícia Civil, Moraes monitorou a vítima por dias antes do crime, inclusive o vigiou desde que saiu de casa, na Lagoa, zona sul do Rio. Para a vigilância, ele usava um carro Gol branco similar ao utilizado no crime.

Já o policial militar teria sido o responsável por alugar os veículos usados no crime. Ele já foi investigado, de acordo com a polícia, por outro homicídio e por integrar grupo paramilitar com atuação em Duque de Caxias.

Em nota, a Polícia Militar informou que a Corregedoria da corporação apoia a operação. Sobre o policial, disse que "o envolvido já estava afastado do serviço nas ruas, pois responde a um outro inquérito por participação em organização criminosa, tendo sido preso preventivamente em abril de 2021", disse.

A PM também afirmou que "já havia instaurado um Procedimento Administrativo Disciplinar em relação ao policial, que pode culminar com sua exclusão das fileiras da corporação".

A reportagem não encontrou a defesa de Moraes. Em depoimento, um familiar afirmou que ele saiu de casa durante um churrasco no final de semana e não retornou.

No depoimento, a namorada de Crespo afirmou que ele "estaria arrecadando fundos para abrir um novo negócio, mas que faltava encontrar o operador; que Rodrigo estava começando a advogar para clientes vinculados com jogos de cassino online".

Ela também afirmou que o advogado já havia encontrado pessoas para investir financeiramente no novo negócio e que havia viajado para São Paulo algumas vezes para tratar de assuntos relacionados a cassinos.

O advogado, segundo a namorada, enfrentava problemas financeiros e teria vendido seu carro para pagar contas.

A suspeita da motivação é reforçada pelo fato de o policial militar suspeito de envolvimento no crime alugar carros em uma concessionária da zona oeste para Vinícius Drumond, filho do contraventor Luizinho Drumond. O "capo do bicho", como a polícia o qualifica no inquérito, morreu em 2020.

Um dos carros utilizados pelo policial para o crime foi alugado nessa condição, afirmou o gerente da locadora em depoimento. A Folha procurou Vinícius, que disse que se manifestaria por intermédio de sua defesa.

Rodrigo Crespo, advogado foi assassinado a tiros em frente à sede da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), no centro do Rio - Rodrigo Crespo no LinkedIn

Seu advogado, Carlos Lube, afirmou, em nota, que seu cliente "nunca, jamais, em tempo algum manteve vínculo, seja profissional ou pessoal, e sequer conhece o policial militar Leandro Machado da Silva, razão pela qual é falsa a alegação de que essa pessoa seria seu chefe de segurança".

Na mesma nota, afirma que seu cliente não "consegue vislumbrar qualquer possível ligação com o advogado Rodrigo Crespo" e "rechaça veementemente qualquer suposição de possível ligação com o brutal assassinato".

Nas notas fiscais dos carros alugados pelo policial há diversas menções ao jogo do bicho, como apontamentos dos aluguéis realizados para "segurança caxias", "zoológico" e "Vinícius zoológico".

De acordo com o depoimento do gerente da locadora, foi o próprio Vinícius quem apresentou o policial a ele. Além disso, os carros seriam alugados para o recolhimento dos lucros do jogo do bicho em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

"Foi constatado uma ligação muito próxima entre o Vinícius Drumond e os envolvidos na execução. E também o Vinícius durante as diligências ligava insistentemente para algumas pessoas ligadas à locadora, então havia indícios no entendimento das autoridades que conduziram o inquérito policial de que ele poderia estar de alguma forma envolvido com aquelas pessoas no período da execução", afirmou o delegado Rômulo Assis, da Delegacia de Homicídios.

Com as novas informações, a polícia afirma ter descartado a ligação da atividade advocatícia da vítima com o motivo para o crime.

A polícia solicitou busca e apreensão em dois imóveis de Vinícius, um localizado em Botafogo, na zona sul, outro na Barra da Tijuca, na zona oeste, mas a Justiça indeferiu o pedido.

Também foram realizadas buscas em endereços ligados ao policial foragido e ao segurança da Portela, que teria vigiado a vítima por, pelo menos, três dias.

Imagens de câmeras de segurança flagraram, de acordo com a polícia, Moraes na rua onde o advogado Rodrigo Crespo morava, na Lagoa, zona sul do Rio. De acordo com a investigação, Moraes, de blusa preta, aparece atravessando a rua e entrando em um Gol branco. A ação ocorre no mesmo momento em que Crespo entra em um carro de aplicativo, para ir ao trabalho, por volta das 9h da manhã do dia do crime.

O ataque ocorreu por volta das 17h, quando Crespo desceu do prédio em que funciona o escritório do qual era sócio para fazer um lanche. Imagens de câmeras de segurança mostram quando um carro branco se aproxima do local, parando em fila dupla.

Na sequência, o autor dos disparos desce do veículo e caminha pela calçada na direção do advogado. Já bem perto de Crespo, o atirador o chama pelo nome e faz os primeiros disparos.

Depois de cair no chão, a vítima foi baleada mais vezes, até que o suspeito volta para o veículo que esperava de porta aberta e foge. Toda a ação durou menos de 15 segundos.

Terceiro suspeito é identificado

A polícia continua as investigações para encontrar mais envolvidos no caso. No início da noite desta segunda, a polícia disse que identificou mais um suspeito de envolvimento no crime, mas não divulgou seu nome. Ele estaria no carro que fez a vigilância do advogado.

Ainda de acordo com a polícia, os homens responsáveis pela morte de Crespo integram um grupo de extermínio da Baixada Fluminense, que seria liderado por outro PM foragido, o Rafael Dutra, conhecido como o Sem Alma. Sem Alma teria envolvimento, ainda, em outros homicídios, como o do miliciano Marco Antônio Figueiredo Martins, o Marquinho Catiri, morto em 2022. A reportagem não localizou a defesa do suspeito.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.