Descrição de chapéu indígenas maternidade

Mortes de crianças indígenas é mais que o dobro do registrado no restante da população infantil

Estudo aponta também que doenças evitáveis são a maior causa de morte dentro desse grupo

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São Paulo

A taxa de mortes de indígenas de até 4 anos de idade foi mais do que o dobro da encontrada entre as demais crianças do país de 2018 a 2022, segundo dados compilados pelo NCPI (Núcleo Ciência Pela Infância) e divulgados na manhã desta terça-feira (9).

O estudo mostra ainda que as causas mais frequentes de mortalidade entre as crianças indígenas são doenças evitáveis, o que alerta para a necessidade de políticas amplas de proteção a essas comunidades.

As informações, extraídas do Datasus, mostram que, em 2018, a cada 1.000 crianças indígenas nascidas vivas, 14,7 morreram no período neonatal, ou seja, antes de completar 27 dias. Entre as crianças não indígenas, essa taxa era de 7,9.

Indígena yanomami da região do rio Padauiri da banho em criança - Lalo de Almeida 12.mai.23/ Folhapress

Em 2022, o índice encontrado foi de 12,4 mortes para 1.000 nascidas vivas —um valor ainda 55% superior ao das crianças não indígenas, que permaneceu em 8.

No caso da mortalidade de crianças com até quatro anos, a cada 1.000 crianças indígenas nascidas vivas, 34,9 morreram em 2018. Em 2022, a taxa encontrada foi de 34,7. Entre as não indígenas, as taxas foram de 13,3 e 14,2, respectivamente.

Ou seja, neste período, a proporção de crianças indígenas mortas é mais que o dobro da registrada entre o restante da população infantil brasileira.

Márcia Machado, uma das pesquisadoras responsáveis pelo estudo, diz ainda que, após uma sequência de quedas na taxa de mortalidade neonatal, o indicador voltou a subir em 2022. Na mortalidade infantil, a taxa também teve aumento nos últimos três anos analisados.

"Além das taxas serem assustadoramente altas, elas voltaram a crescer depois de terem tido alguma queda. Ou seja, o país não só não conseguiu avançar, como regrediu na proteção às crianças indígenas", diz Machado, que é professora de saúde pública da UFC (Universidade Federal do Ceará).

"Esses resultados são reflexo das agressões ao meio ambiente em que vivem, com o aumento do desmatamento, do garimpo, da exploração da terra. Essas agressões impactam não só na saúde dessas crianças, mas no meio e forma de vida delas. Por isso, a melhoria desses resultados não depende apenas de políticas de saúde, mas do combate a essa exploração", completa.

A Fiocruz publicou uma pesquisa inédita que identificou que a contaminação por mercúrio em indígenas yanomamis tem provocado graves deficiências cognitivas nas crianças da etnia. O local, onde elas vivem, é alvo do garimpo ilegal há décadas, o que vem causando destruição ambiental, insegurança, violência e prejuízos à saúde dos indígenas.

"A invasão e a exploração das terras indígenas provocam fenômenos que ficam praticamente invisíveis, mas que estão acabando com essas populações. Elas contaminam a água e alimento, levam doenças, violências", explica Machado.

Ela destaca ainda a vulnerabilidade de saúde dessas populações, já que o levantamento identificou que, proporcionalmente, as crianças indígenas morrem mais por doenças evitáveis.

Entre as crianças não indígenas, 70% das mortes infantis estão ligadas a complicações decorrentes da gestação, parto ou puerpério ou malformação. Na população indígena esse percentual fica em 40%.

Já as causas relacionadas ao aparelho respiratório, doenças infecciosas e parasitárias ou doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, a proporção entre não indígenas é de apenas 14%, enquanto entre os indígenas sobe para 38%.

"Essas crianças são expostas ainda na gestação à contaminação, escassez de alimentos. Elas desenvolvem doenças e não recebem assistência médica. A gente precisa melhorar o atendimento de saúde a elas, mas só isso não é suficiente. Precisamos combater de forma enérgica aqueles que agridem a vida das crianças indígenas."

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