Se escutar um cearense falar que "fez a feira", saiba que ele se deu bem. Se ouvir "fiquei ariado", ele ficou desorientado. Essas e outras dezenas de expressões são explicadas no livro "Orélio Cearense", de Andréa Saraiva, um claro jogo de palavras com o famoso dicionário Aurélio.
O dicionário "cearês", que já teve quatro edições, é bem-humorado como o povo do seu estado. "Trata-se de uma fotografia da linguagem coloquial falada no Ceará em formato de dicionário romanceado e ilustrado. Mas cá pra nós, a intenção mesmo do bichim é ajudar os cearenses a cumprirem a missão de dominar o mundo", definiu a autora.
Andréa nasceu em Senador Pompeu (CE), em 1969, e foi criada em Tauá (CE), para onde foram os pais quando ela tinha um ano. A infância de menina levada, que subia em árvores e cavalgava, resultou em diversos acidentes e muitas idas ao hospital.
Para fazer o ensino médio teve que ir para Fortaleza, onde morou com tios. Na escola, já demonstrava talento com as artes, era boa em redação e organizava eventos.
Começou o curso de serviço social na Universidade Estadual do Ceará, porém não o concluiu. Em 2002, ingressou em história na mesma instituição, onde se formou.
Andréa era uma verdadeira agitadora cultural do Ceará. Produziu dezenas de projetos e ofereceu formações na área. Como autora, também publicou o e-book "Existe Vida Além de Editais?".
"Ela costumava dizer que sua cabeça era uma usina de projetos, sempre gerando novas ideias e planos", conta a viúva, Danyely Araújo, 47.
Foi diretora da Fundação de Cultura, Esporte e Turismo de Fortaleza, quando produziu a primeira Conferência Municipal de Cultura. Era também mobilizadora do pré-Carnaval da cidade.
Lulista, se envolveu com política desde a primeira candidatura do petista, em 1989. Esteve na vanguarda da esquerda cearense, no movimento Democracia Socialista.
Recebeu o prêmio Mulheres de Destaque 1999, da Câmara Municipal de Fortaleza, e em 2005 assumiu a cadeira 23 da Academia Tauense de Letras.
Andréa gostava de cozinhar para visitas e cuidar do jardim. Tinha hábitos noturnos e fazia tudo ao som de uma trilha sonora cuidadosamente selecionada.
"Ao mesmo tempo que era amorosa ao extremo, também tinha uma verve poderosa e seus argumentos eram difíceis de serem rebatidos, pela inteligência afiada e raciocínio rápido", afirma a companheira, com quem viveu 11 anos.
Morreu no dia 6 de março, aos 54 anos, vítima de uma infecção durante o tratamento de um câncer de intestino. Deixa a mulher, os irmãos Anatália, 58, Trícia, 53, e Herlon, 50, e 13 sobrinhos. Ficaram também sua cadela Chica e seus gatinhos Petit e Belinha.
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