Descrição de chapéu Obituário Clodesmidt Riani (1920 - 2024)

Mortes: Foi um dos primeiros deputados presos e torturados na ditadura militar

Ex-deputado e líder sindical, Clodesmidt Riani morreu aos 103 anos em Juiz de Fora (MG)

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São Paulo

Em abril de 1964, logo no início da ditadura militar no Brasil, o então deputado estadual Clodesmidt Riani (PTB) foi preso pelo Exército ao lado de outros dois parlamentares mineiros: Sinval Bambirra (PTB) e José Gomes Pimenta, o Dazinho (PDC).

Documentos do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), órgão de repressão durante o período ditatorial, os descreviam como "agitadores comunistas" e os tornaram os primeiros presos do regime.

Naquela época, Clodesmidt estava em seu terceiro mandato como deputado e era amigo e conselheiro do então presidente João Goulart, deposto pelo golpe militar. Além disso, já era famoso pela defesa dos trabalhadores durante as décadas anteriores como líder sindical.

Clodesmidt Riani (1920 - 2024)
Clodesmidt Riani (1920 - 2024) - Alair Vieira/Assembleia Legislativa de Minas Gerais

Nascido em 1920 em Rio Casca, na Zona da Mata mineira, ele era o quinto dos 18 filhos de Orlando Riani, operário e sindicalista, e Maria Riani. Sua jornada como líder sindical começou na década de 1950 em Juiz de Fora, onde se destacou como representante dos trabalhadores da antiga Companhia Mineira de Eletricidade.

Riani também foi representante do Brasil na OIT (Organização Internacional do Trabalho) e presidente da CNTI (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria) e do CGT (Comando Geral dos Trabalhadores). Foi justamente durante seu mandato à frente do CGT que ocorreu o golpe militar, em março de 1964.

Cassado pela ALMG (Assembleia Legislativa de Minas Gerais), ele foi preso e torturado. Condenado inicialmente a 17 anos de reclusão, Riani obteve uma decisão favorável do STF (Supremo Tribunal Federal) e sua pena foi reduzida para um ano e dois meses. No entanto, acabou cumprindo cinco anos e oito meses, tendo sido libertado em 5 de março de 1971.

Em 1982, no início da redemocratização do país, ele voltou a se eleger deputado estadual para seu quarto mandato, de 1983 a 1987.

E em 1994, a ALMG reconheceu que a cassação teve motivação exclusivamente política e ideológica e concedeu pensão especial a Riani, Dazinho e Bambirra, referente ao período que ainda teriam de cumprir de seus mandatos durante a ditadura.

"Foram várias questões sociais que ele trouxe para dentro do movimento sindical, como a questão da previdência social, do 13º salário e da reforma agrária. Até o presidente [John] Kennedy, dos EUA, quis conhecê-lo pessoalmente", conta Rubensmidt Riani, 63, o filho caçula.

Por sua vida em defesa do trabalhador, o sindicalista recebeu em 2005 o título de professor honoris causa da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora).

O presidente Lula lamentou a morte nas redes sociais. "Soube, com pesar, do falecimento do companheiro e líder sindical Clodesmidt Riani aos 103 anos. Ele foi líder do Comando Geral dos Trabalhadores que protagonizou a conquista do 13º salário, sendo grande referência na luta por direitos dos trabalhadores e da democracia", escreveu.

Clodesmidt casou-se com Norma Geralda Riani em 1941, em Juiz de Fora, com quem teve dez filhos.

"Ele sempre foi muito acolhedor, generoso. À noite, sempre conversa com cada um dos filhos sobre o dia", diz Rubensmidt.

No início da pandemia de Covid-19, aos 100 anos, Riani foi infectado e precisou ficar uma semana hospitalizado. No fim de março último, porém, ficou internado 15 dias para tratar uma pneumonia e morreu no dia 4 de abril por agravamento de uma insuficiência renal.

Deixa oito filhos, 18 netos e 23 bisnetos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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