Descrição de chapéu violência

Homem morre após cair de prédio no centro de São Paulo; PM usa bombas de gás em confusão

Senegalês caiu de edifício na rua Guaianases durante ação policial sem mandado; Secretaria da Segurança diz que moradores autorizaram entrada de agentes

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São Paulo

Um imigrante senegalês morreu ao cair do sexto andar de um prédio na rua Guaianases, na região da cracolândia, no centro de São Paulo, na noite desta terça-feira (23). Segundo relatos, ele era perseguido pela Polícia Militar no momento da queda.

Uma confusão com outros imigrantes e policiais começou em seguida. Houve correria e xingamentos à polícia. Várias viaturas ocuparam a rua e a PM jogou bombas de efeito moral e atirou com balas de borracha.

Em nota à Folha na noite e terça, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que os policiais militares foram acionados para atender a uma ocorrência de uma pessoa que caiu de um prédio e, durante o socorro prestado pelo Corpo de Bombeiros, houve um tumulto após algumas pessoas investirem contra os agentes.

Policiais militares jogam bombas de gás em imigrantes senegaleses durante confusão na noite desta terça-feira (23) na rua Guianases, no centro de São Paulo
Policiais militares jogam bombas de gás em imigrantes senegaleses durante confusão na noite desta terça-feira (23) na rua Guianases, no centro de São Paulo - Reprodução/Portal Santa Cecilia & Barra Funda

A versão de testemunhas —e o que foi registrado depois em boletim de ocorrência— é diferente . Elas contam que a queda ocorreu quando os policiais já estavam no prédio. Em um vídeo nas redes sociais, outro morador disse que os agentes já chegaram jogando bombas e atirando.

Segundo o delegado responsável pelo caso, os PMs entraram no local sem mandado judicial.

Em depoimento à Polícia Civil, o tenente Fernando Lopes e o cabo Felipe dos Reis disseram que entraram no edifício Japurá, no nº 50 da Guaianases, após abordar três suspeitos na rua. Eles relataram que nada de ilícito foi encontrado, mas um dos suspeitos contou que havia um ponto de comércio de celulares roubados no apartamento 609 do prédio.

Os dois PMs contaram que foram ao prédio em seguida e que a síndica do prédio questionou a presença deles ali. No BO, o delegado Sandro Távora, do 2º DP, no Bom Retiro, registra que os policiais "estranhamente, em período noturno e sem mandado de busca e apreensão, tenham adentrado ao local". Ele diz, no documento, que é "imprescindível que eventuais excessos sejam analisados pelo Poder Judiciário".

À Folha a síndica Maria de Lurdes, 67, disse que os PMs entraram sem dizer nenhuma palavra e ignoraram suas reclamações. "Eu falei para eles: 'O que é isso? Aqui é a casa da mãe Joana, por acaso?', mas nem olharam para minha cara", contou. "Eles fazem isso [entrar sem mandado] direto aqui, desde o começo do ano."

O apartamento 609 do edifício Japurá já apareceu em investigações da Polícia Civil como um dos principais pontos de receptação de celulares roubados e furtados na cidade. De acordo com as investigações, ao menos quatro estabelecimentos no mesmo quarteirão, entre as ruas Aurora e Timbiras, são usados pelos criminosos para armazenar aparelhos roubados e despistar os policiais.

A polícia prendeu dois homens durante a ocorrência: um por suspeita de receptação de aparelhos roubados e outro por desobediência durante o confronto com a polícia. O boletim registra que foram apreendidos 44 celulares, seis notebooks, um tablet e uma máquina de cartão no apartamento.

Quarto com janela no centro da imagem, onde se vê prédios com pintura bege no horizonte; quarto tem paredes verdes, piso com azulejos brancos, cortinas e um amontoado de roupas à esquerda, além de um assento de cadeira caído no chão
A janela do apartamento 609 do edifício Japurá, na rua Guaianases, no centro de SP; senegalês morreu após cair da janela durante uma ação da PM - Tulio Kruse/Folhapress

O vendedor Bara Ndiaye, que foi preso pela PM na noite desta terça, disse em depoimento à polícia que estava no apartamento 609 com Serigne Mourballa Mbaye, 36, que acabou morto, para consertar seu telefone que estava com defeito de recarga. Quando os policiais bateram na porta do apartamento, segundo o vendedor, Mbaye "foi para a janela e o chamou para ir junto".

Enquanto Mbaye seguiu em frente e atravessou a janela, apoiando-se numa marquise, Ndiaye estava apoiando-se no peitoril quando foi capturado. O vendedor disse que, depois disso, ouviu um dos policiais dizer que Mbaye havia caído.

O vendedor preso afirmou à polícia que Mbaye morava no apartamento 609. A reportagem esteve no local e não encontrou cama, colchão ou sofá. No imóvel —um quarto e sala, com uma copa ao lado da entrada— havia apenas uma mesa de centro, cabos USB, um modem e um equipamento que lembra um estabilizador de potência elétrica para computadores. Além disso, havia uma caixa com vários anéis de metal.

Segundo o professor Rodrigo Azevedo, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a PM teria respaldo legal para entrar em imóveis sem mandado judicial apenas em casos de flagrante.

"Não sendo este o caso, seria necessário sim o mandado de busca e apreensão para o ingresso no local. De todo modo, existe aí uma 'zona cinzenta', em que cabe tanto à autoridade policial quanto ao Ministério Público e ao Poder Judiciário avaliar, no caso concreto, se havia justa causa para o procedimento policial", afirma.

Em nova nota, nesta quarta (24), a Secretaria da Segurança afirma que análise das câmeras no uniforme dos policiais mostrou que os moradores autorizaram a entrada deles no imóvel. "Todas as circunstâncias relativas aos fatos são investigadas por meio de um Inquérito Policial Militar (IPM)."

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