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Cidade do RS sofre com falta de comida e fila para distribuição de mantimentos tem até mil pessoas

Metade de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, está debaixo d'água; cerca de 24 mil moradores estão em abrigos

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São Paulo

Com metade da cidade debaixo d'água, Canoas, cidade localizada na região metropolitana de Porto Alegre, tem filas com até mil pessoas em busca da comida que está sendo distribuída pela prefeitura —mas não há alimentação suficiente para todos.

"Temos, agora, cerca de 600 pessoas esperando e comida para apenas 100. Precisamos de muitas doações", disse no início da tarde desta quarta-feira (8) o prefeito Jairo Jorge (PSD).

Moradores de Canoas fazem fila em centro de distribuição de doações
Moradores de Canoas fazem fila em centro de distribuição de doações - Divulgação/Prefeitura de Canoas/Alisson Moura

A espera pelos mantimentos levam pessoas a ficar mais de três horas na fila, disse ele.

No centro de doações, onde ocorre a espera, caminhões chegam com mantimentos, água mineral, produtos de limpeza e roupas. Dentro do galpão onde já funcionou um supermercado, a triagem é feita por voluntários. O espaço, que comporta cerca de 600 pessoas, não é suficiente, e a fila se estende pela calçada da avenida Inconfidentes, no centro da cidade.

Com cerca de 350 mil habitantes, Canoas é a cidade mais populosa da região metropolitana de Porto Alegre, com exceção da capital, que abriga cerca de 1,3 milhão.

Segundo o prefeito, quase metade da população –153 mil pessoas– foi retirada de suas casas desde a última sexta-feira (3), quando a força das águas rompeu dois diques e a cidade ficou praticamente submersa.

A água barrenta chegou até o telhado das casas, a maioria, feita de madeira, material que não aguenta muito tempo molhado. A previsão do prefeito é de que cerca de 70 mil imóveis, entre residenciais, comerciais e industriais, tenham que ser reconstruídos.

Por estar localizada no delta do Jacuí, formado pelo rio de mesmo nome, além de receber fluxo dos rios Caí, Sinos e Gravataí, que deságuam no lago Guaíba, Canoas foi afetada diretamente pela cheia histórica.

O prefeito explica que o sistema de contenção instalado na década de 1960 se tornou um problema após a inundação porque os diques impedem o escoamento da água represada na cidade. "O limite de 5 metros de altura virou referência porque foi o ponto máximo da pior enchente do Rio Grande do Sul, em 1941. A cidade estava protegida, mas dessa vez, a água chegou a 5,40 metros e ultrapassou o dique", diz.

A gestão municipal, agora, elabora um plano de engenharia para fazer o sistema de drenagem funcionar ao contrário, para escoar a água que invadiu a cidade de volta para os rios.

Entre as 153 mil pessoas que tiveram que deixar suas casas, ao menos 24 mil estão em abrigos e o restante se mudou para casas de amigos a parente na parte seca da cidade. "Quase toda população foi parar no espaço de um terço da cidade que não foi afetado pelas enchentes. Isso pode levar a problemas sociais, porque as pessoas não têm dinheiro, não têm comida", diz o prefeito.

A cidade também improvisou um abrigo de pallets para animais de estimação. As caixas de madeira servem de abrigo a cães e gatos resgatados das casas alagadas.

Além da falta de abrigo e comida, o prefeito conta que tem que lidar com boatos que deixam a cidade ainda mais tensa, como acusações de que crianças separadas dos seus pais estariam sido abusadas nos abrigos. "Fomos atrás e não encontramos nenhuma criança nessas condições", diz ele, que afirmou ter tido ajuda do Ministério Público para averiguar a denúncia que surgiu nas redes sociais.

Distante cerca de 24 quilômetros de Canoas, Eldorado do Sul, também integrante da região metropolitana de Porto Alegre, teve 90% do território afetado pelas inundações. O prefeito Ernani Gonçalves (PDT) chegou a cogitar retirar todos os moradores de suas casas diante do risco de crise de abastecimento. "Os dois mercados no centro foram saqueados. Hoje, os funcionários de outro colocavam na rua os produtos estragados pela água", conta.

Segundo ele, a situação nesta quarta estava menos pior, uma vez que a água começou a baixar e parte dos moradores conseguiu retornar para suas casas para irar a lama acumulada.

Nesta segunda-feira (7), uma idosa de 94 anos e portadora da doença de Alzheimer foi resgatada por militares da Aeronáutica em um helicóptero que pousou na rodovia federal que passa pela cidade.

O prédio da prefeitura, abastecido com energia obtida a partir de um gerador a gasolina, serve de sede do gabinete de crise da administração municipal e também abriga um posto médico improvisado com duas macas e voluntários que já cuidaram de cerca de 300 feridos, segundo o prefeito.

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