Descrição de chapéu lei de zoneamento

Justiça nega pedido de suspensão da nova revisão da Lei de Zoneamento de SP

Câmara aprovou em 1ª votação proposta que pode alterar regras de ocupação e uso do solo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A Justiça negou nesta quinta-feira (20) um pedido do Ministério Público para interrupção da tramitação da minirrevisão da Lei de Zoneamento que está em curso na Câmara Municipal de São Paulo. A juíza Luiza Barros Rozas Verotti, da 13ª Vara da Fazenda Pública, argumentou que não cabe interferência do Judiciário no curso do processo legislativo.

O texto que faz ajustes no zoneamento foi aprovado pela Câmara Municipal de São Paulo em primeiro turno na última terça-feira (18). O projeto corrige pontos da revisão realizada há seis meses pelo próprio Legislativo paulistano. A segunda votação está prevista para a semana que vem, mas vereadores já discutem a possibilidade de estender o debate até o início de julho.

Praça ao centro e prédios ao fundo
Vista da cidade de São Paulo a partir da estação Jardim São Paulo-Ayrton Senna, na zona norte da capital - Rubens Cavallari/Folhapress

A justificativa da Casa para a reabertura da discussão é a necessidade de adequar cores e legendas no mapa que define como deve ser o uso de cada quadra da cidade. Algums locais ficaram "em branco" na versão publicada após os vetos realizados pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB).

A nova revisão também define quais técnicas construtivas podem ser aplicadas para edificações em locais onde o solo tem risco de afundamento, como é o caso de Moema, Água Branca, Chácara Santo Antônio e Paraíso. A Câmara também incluiu uma regra que permite a instalação de escolas particulares em algumas áreas predominantemente residenciais e nos corredores viários que ficam nas bordas desses locais.

No pedido de suspensão provisória da minirrevisão, o promotor de Justiça de Habitação e Urbanismo Roberto Luís de Oliveira Pimentel alega a necessidade de se dar mais publicidade e transparência à discussão devido à complexidade e importância do tema.

Durante a revisão, em 2023, mais de 30 audiências públicas foram realizadas. Desta vez, apenas duas, número mínimo exigido, ocorreram. Um das preocupações envolvendo a tramitação acelerada do projeto é que existe a possibilidade de que outros pontos da lei sejam alterados, pois vereadores podem apresentar emendas com esta finalidade.

Em nota, a Câmara afirma que o processo ocorre com total legalidade, transparência e participação popular.

Erros no mapa afetam empreendimentos na zona sul

Até o momento, a Câmara confirmou alguns pontos do mapa que perderam o zoneamento na última versão da lei, mas ainda não detalhou se haverá alteração em outras áreas.

Um dos erros identificados na minirrevisão devolve a condição de ZEUP (Zona Eixo de Estruturação da Transformação Urbana Previsto) para três quadras na zona sul da capital.

A ZEUP é uma das regras criada pelo Plano Diretor de 2014 e consolidada na Lei de Zoneamento de 2016, ainda na gestão de Fernando Haddad (PT), para incentivar edifícios maiores perto de corredores de ônibus e estações de trem e metrô. Essas zonas não restringem a altura dos prédios, por exemplo.

A Folha verificou que duas das quadras que terão o zoneamento corrigido deverão receber empreendimentos imobiliários.

Em um dos lotes, onde casas e comércios demolidos deram lugar a um estande de vendas quase pronto, na rua André Ampere, haverá lançamento de um prédio residencial com apartamentos de 260 metros quadrados, quatro suítes e o mesmo número de vagas na garagem.

Um corretor que enviou proposta à reportagem disse que o preço do metro quadrado na região para esse tipo de imóvel chega a R$ 23 mil. A unidade, portanto, custaria quase R$ 6 milhões.

A um quarteirão de distância, uma área cercada onde casas também foram recentemente demolidas, na esquina da rua Arizona com a Guaraiúva, tem alvará de aprovação na prefeitura em nome de uma empresa associada a uma incorporadora com foco em imóveis de alto e altíssimo padrão.

A liberação das grandes construções nos eixos de transporte está vinculada à inclusão de habitação de interesse social e de mercado popular, mas movimentos de moradia e especialistas em urbanismo reclamam que a regra dificilmente beneficia o grupo com renda familiar de até três salários mínimos, faixa da população que concentra o déficit habitacional.

Representantes do mercado imobiliário, porém, argumentam que os preços altos refletem a escassez de terrenos em locais onde há maior potencial construtivo e que isso poderia ser combatido com o aumento da oferta se a lei permitisse edifícios maiores nos chamados miolos de bairro. Esse pedido do setor chegou a ser atendido pelos vereadores, mas foi vetado pelo prefeito.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.