Descrição de chapéu Obituário Guido Comolatti (1919 - 2024)

Mortes: Italiano serviu na Segunda Guerra Mundial e viveu até os 105 anos

Guido Comolatti veio para o Brasil aos 40 anos e se deliciava contando suas histórias de vida

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São Paulo

"É o Guido!", exclamava Guido Comolatti quando atendia o telefone. A frase se tornou uma espécie de marca registrada dele, a ponto de virar título do livro que sua família escreveu quando completou 90 anos.

Nascido na Itália, ele imigrou para o Brasil aos 40 anos junto com a esposa, com quem foi casado por quase 8 décadas, e os dois filhos Athos e Diego. Por aqui, ele se tornou sócio da empresa de um de seus irmãos.

Apesar da mudança já adulto, Guido aprendeu logo a falar português, mas manteve o forte sotaque italiano. Sempre que podiam, ele e a mulher viajavam à terra natal e gostavam de assistir a óperas, de preferência na arena de Verona, onde as performances acontecem ao ar livre no verão.

Guido Comolatti morreu aos 105 anos
Guido Comolatti (1919 - 2024) - Arquivo Pessoal

A família recorda que Guido foi contador de histórias, e uma das que mais gostava era sobre o período em que serviu ao Exército do seu país natal na Líbia, norte da África, durante a Segunda Guerra Mundial.

A experiência na guerra, relembra o filho Athos, pode ter contribuído para que até a mudança da Itália para o Brasil fosse mais tranquila. "Depois do que ele passou, nada era mais tão chocante", diz Athos.

Mesmo que o período tenha sido um desafio na sua vida, ele gostava de contar sobre o período para todos. "Era incrível, ele sentava com alguém e em poucos minutos já estava contando sobre a guerra. Ele sempre dava um jeito de conversar sobre a Líbia", afirma o filho.

Além de contar suas aventuras, ele costumava manifestar a vontade de retornar ao local. Assim, quando já tinha 80 anos, os filhos conseguiram organizar uma viagem para o solo africano e o pai conseguiu revisitar locais em que andava fardado nos anos 1940.

Discreto e sem vaidades, Guido gostava de ler jornal diariamente. Quando seus familiares pensaram em cancelar a sua assinatura, ele ficou bravo. Sua esposa, Ersilia, 95, contou aos filhos que foi uma das primeiras vezes que viu o marido perder a calma. A assinatura foi refeita.

O filho relembra que o pai nunca achou que viveria tanto. Quando jovem, Guido achava que não ia passar dos 70 anos. Até que a vida foi passando e ele, superando todas as suas apostas.

Aos 85, deixou preparado um documento em que deixava avisado a médicos e familiares que, no caso de uma internação, não gostaria de ser intubado nem de receber alimentação via sonda. A vontade foi respeitada.

Quando chegou aos 90 anos, pessoas próximas perguntaram até quantos anos ele achava que viveria. A resposta foi 100. Ao se tornar centenário, a pergunta foi refeita. Desta vez, a resposta foi 105.

Irônico, ele dizia: "Eu sei que eu vou, mas não tenho pressa". Seu filho, Athos, define que o pai foi uma pessoa que tinha confiança nos outros, ao mesmo tempo que sabia da fraqueza humana.

Cumprindo, de certa forma, aquilo que previu, Guido deu entrada no hospital aos 104 anos. No dia seguinte, completou 105 anos e, duas semanas depois, no dia 21 de maio, morreu. Ele deixa a esposa, os dois filhos, cinco netos e três bisnetos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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