Polícia investiga dupla que teria imitado macacos em roda de samba no Rio

Cena foi registrada em vídeo durante apresentação no centro; corporação diz que mulher suspeita é argentina

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Rio de Janeiro

A Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga um homem e uma mulher que teriam imitado macacos durante uma roda de samba do grupo Pede Teresa na última sexta-feira (19), na praça Tiradentes, no centro da cidade.

A roda de samba faz parte do circuito oficial de eventos do tipo do Rio e é produzida e frequentada, majoritariamente, por pessoas pretas.

A Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância), onde o caso foi registrado, disse já ter ouvido pessoas que estavam no evento e agora tenta identificar e intimar os autores para prestarem esclarecimentos na delegacia. A polícia já sabe que a mulher que aparece no vídeo é argentina.

Duas pessoas no centro de uma roda. Uma mulher está de costas de blusa branca, calça preta e cabelo azul. Ela tem as duas pernas abertas, joelhos dobrados, e faz menção de colocar a mão inteira na boca
Homem e mulher foram filmados imitando macacos em roda de samba no Rio de Janeiro, na sexta (19) - Reprodução/TV Globo

A cena foi filmada pela jornalista Jackeline Oliveira. Nas imagens, o homem e a mulher, que são brancos, pulam e fazem gestos semelhantes aos de macacos.

Após o vídeo circular nas redes sociais, Jackeline diz que ter descoberto que a mulher que aparece na gravação estava no Rio para um encontro do Fladem (Foro Latino-Americano de Educação Musical).

"É necessário que entendam que as pessoas pretas não são um corpo só. A gente reage de diversas formas. Ali, meu corpo, assim como o de diversas outras pessoas, estava sendo violentado. Minha intenção quando filmei foi ter provas. Se não tivesse filmado, não teria sido registrado", afirmou Jackeline.

No centro do Rio, a praça Tiradentes, Pedra do Sal e a Casa do Nando, na zona portuária, se tornaram espaços de rodas de samba organizadas para promover o protagonismo negro. Antigos frequentadores, contudo, têm reclamado da mudança do perfil do público, que não têm respeitado esses locais.

Em nota publicada no perfil nas redes sociais, o Fladem (Foro Latino-Americano de Educação Musical) disse que os suspeitos não são associadas ao Foro.

"Este vídeo foi gravado já quando todo o seminário havia terminado e não teve a ver com nenhuma das atividades acadêmicas, pedagógicas ou culturais que foram desenvolvidas durante nosso evento. É importante dizer que atos individuais realizados dentro e fora dos espaços do Fladem são respondidos de forma particular dentro das esferas competentes. Com isto, queremos explicitar que repudiamos categoricamente este tipo de ação", afirmou.

A vereadora Monica Cunha (PSOL), presidente da Comissão de Combate ao Racismo da Câmara do Rio, esteve na Decradi nesta segunda-feira (22) para registrar o boletim de ocorrência junto aos organizadores do evento.

"Aguardaremos a polícia seguir com a investigação e identificar os envolvidos", escreveu a vereadora nas redes sociais.

A apresentação quinzenal do Pede Teresa faz parte de uma nova leva de rodas de samba do Rio que tenta tornar esses eventos espaços mais seguros para pessoas pretas, mulheres e pessoas LGBTQIA+.

O perfil do grupo repudiou a atitude do casal.

"Tudo parecia incrível na praça Tiradentes, com o público curtindo a roda sensacional do Pede Teresa. No entanto, um vídeo revela dois indivíduos agindo com gestos racistas, uma afronta histórica à nossa dignidade humana. O samba é um patrimônio cultural crucial da comunidade negra. Desrespeitar este espaço é desrespeitar a história, a luta e a identidade do povo negro", disse o grupo.

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