Descrição de chapéu Obituário MANOEL VIEIRA DA SILVA (1932 - 2024)

Mortes: Guardião de tradições, era mestre popular em Pernambuco

Manoel Vieira comandou bloco rural nos carnavais de Nazaré da Mata

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Juazeiro (BA)

No Carnaval, o estandarte do Bloco Rural Estrelinha, uma das agremiações mais antigas de Pernambuco, ganhou as ruas de Nazaré da Mata. A turma de foliões seguia o mestre da brincadeira. "Quem perguntar de quem é esse bloco, vocês digam que é de Manoel Vieira", cantava o senhor que esteve à frente do bloco durante décadas.

Apaixonado pelas tradições, mestre Manoel era um verdadeiro guardião da cultura popular. "Meu pai foi um grande baluarte da cultura porque veio de muito cedo cantando ciranda por aí afora. Ele foi muito importante por lutar até os 92 anos em nome da cultura", afirma o filho mestre Narciso Vieira.

Idoso está vestido com camisa colorida e chapéu amarelo. Ele segura uma garrafa de refrigerante e parece estar em um ambiente festivo, possivelmente durante o Carnaval. Ao fundo, há pessoas vestidas com trajes de festa, com saias coloridas e chapéus, que também estão participando da celebração
Manoel Vieira da Silva, o mestre Manoel, morreu no 19 de junho aos 92 anos - Arquivo pessoal

No ano passado, o Estrelinha lançou um disco em comemoração aos 60 anos de folias, o "Cantos da Estrelinha". O grande protagonista da obra foi o mestre brincante, sendo a voz principal e dividindo uma faixa com o filho Narciso.

Homem das poesias, Manoel guardava na memória muitas cantigas e sempre estava improvisando rimas. "Eu sou a salamanta do alto do paraíso", se definia em um de seus versos.

"Onde chegasse, ele estava pensando em um verso. Se ele gostasse da pessoa, daqui a pouco estava contando um para ela", diz o neto Nailson Vieira, 23.

Manoel Vieira da Silva nasceu em 1932, no distrito de Angélica, em Vicência (PE). Dizia que "se criou" em Nazaré da Mata, onde passou quase toda a vida. A infância simples foi na realidade da monocultura da cana que imperava na região.

Casou-se com Maria de Fátima, com quem teve 15 filhos, mas apenas sete sobreviveram. O casal passou por muitas batalhas e Manoel se orgulhava de saber que hoje todos filhos constituíram famílias.

Como conseguiu desenvolver habilidades como carpinteiro e pedreiro, Manoel acabou fugindo à regra local e não foi cortador de cana. Durante a vida, também trabalhou como agricultor, cultivando terras perto de casa.

Foi na Zona da Mata Norte que teve contato com os grandes mestres da cultura popular e sua paixão de anos brincando nos folguedos lhe tornou também mestre. Brincou 15 anos no bloco Ramo Verde e também nos grupos do Mestre Baracho.

A paixão de Manoel passou para os herdeiros —o filho Narciso passou a ser o presidente do bloco em 2014. "A gente pegou o gosto e entrou. Ele nunca exigiu que ninguém entrasse na brincadeira dele", afirma o neto.

Brincalhão, era querido em toda comunidade. Quando parou de ir à feira, costume que mantinha religiosamente empurrando um carrinho de mão, todos perguntavam por ele.

O mestre morreu aos 92 anos, no dia 19 de junho, em sua casa. Deixa a esposa Maria de Fátima, 76, seis filhos, 14 netos, além de bisnetos e muitos brincantes inspirados por ele.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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