A Polícia Civil de São Paulo acionou um protocolo para mobilizar uma força-tarefa com peritos e delegados na tentativa de acelerar o reconhecimento dos mortos na queda de um avião na tarde desta sexta-feira (9) em Vinhedo, no interior de São Paulo.
O Protocolo de Identificação em Desastres de Massa, ativado pelo Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton (IIRGD), órgão vinculado à corporação, prevê ação semelhante à que foi realizada após as chuvas no litoral de São Paulo, em fevereiro de 2023, que deixaram 65 mortos.
Segundo a empresa responsável pela operação da aeronave, 61 pessoas estavam a bordo, entre elas quatro tripulantes. O avião tinha deixado a cidade de Cascavel (PR) e deveria pousar no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo.
Autoridades do Paraná também montaram estruturas para dar suporte às famílias das vítimas.
O diretor do IIRGD, delegado Maurício Freire, disse à Folha que foram direcionados papiloscopistas e auxiliares de papiloscopia, todos coordenados por delegados, para o local do acidente.
A ação se soma ao gabinete de crise montado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). O Imesc (Instituto de Medicina Social e Criminologia do Estado de São Paulo) também vai auxiliar na identificação das vítimas.
Os corpos serão encaminhados a unidade central do IML (Instituto Médico-Legal) da cidade de São Paulo, em Pinheiros (zona oeste), que reforçou as equipes para o atendimento. O local conta com mais de 20 médicos, além de equipes de odontologia legal, antropologia e radiologia.
Da capital, estão sendo enviadas cinco equipes para o trabalho de recolhimento dos cadáveres. Ao menos cinco veículos do IML, órgão ligado à Polícia Técnico-Científica, deixaram a capital nas primeiras horas após o acidente em direção ao local da tragédia.
Um posto de comando avançado foi montado a aproximadamente 100 m do ponto da queda.
As Defensorias Públicas dos estado do Paraná e São Paulo criaram um canal de WhatsApp exclusivo para atender familiares das vítimas do voo, pelo número (41) 99232-2977. O contato pode ser acessado para informações e atendimento de demandas variadas.
O órgão paranaense também mandou uma equipe para o aeroporto de Cascavel para orientar os parentes.
A gestão do Aeroporto Regional de Cascavel disse que montou uma estrutura para o caso e que está atuando de forma integrada com a Polícia Federal e a Polícia Técnico-Científica de São Paulo.
O trabalho de identificação a ser feito pelos peritos foi abordado em reportagem da série Não Identificado publicada em julho pela Folha.
Em desastres, dezenas de cadáveres chegam ao mesmo tempo ao necrotério, desafiando a capacidade dos servidores de atenderem a todos. Somado a isso, não há espaço suficiente para armazenar os corpos, sobretudo em cidades menores.
Nesses casos, a perícia adota o protocolo DVI, sigla em inglês para Identificação de Vítimas de Desastres. O procedimento é diferente de uma investigação de homicídio, em que o objetivo do legista é identificar a causa da morte. No desastre, a prioridade é descobrir quem é a vítima.
O protocolo estabelece um planejamento prévio que ajuda os peritos a não perderem tempo para se organizarem quando o desastre ocorre. Cada servidor já sabe sua função, desde o médico legista —que examina o cadáver— até o assistente social —que avisa os familiares das vítimas identificadas.
Em todo o país, os protocolos seguem uma mesma linha de trabalho, baseada em guia da Interpol.
Quando os corpos ainda têm mãos, os peritos tentam identificar a impressão digital, cujas informações estão cadastradas em bancos da polícia. Mesmo nos carbonizados é possível coletar as digitais: quando uma pessoa morre queimada, ela costuma fechar a mão, preservando as impressões.
Também é possível descobrir quem é a vítima pela arcada dentária, quando há exames odontológicos prévios.
Se nada disso for possível, os peritos comparam o DNA do cadáver com o de familiares que indicaram seu desaparecimento. É a última alternativa, pois tem um custo elevado.
No Rio Grande do Sul, a adesão ao protocolo ajudou a perícia a reconhecer 99% dos mortos nas enchentes deste ano. Lá, cinco servidores atuaram ao mesmo tempo para identificar cada corpo, coletando material genético, impressão digital e analisando a arcada dentária.
"Precisamos seguir o protocolo principalmente devido ao grande volume de vítimas. Os profissionais trabalharam simultaneamente no corpo para não perdermos tempo", diz Rosane Baldasso, perita criminal e coordenadora da comissão permanente de atendimento a desastres em massa no Instituto-Geral de Perícias do estado.
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